O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, delator da Operação Lava Jato, afirmou ontem (13), em depoimento à Justiça Federal, em Curitiba, que acredita não ter sido o único dirigente da estatal que recebeu propinas para não atrapalhar a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Delator da Lava Jato, Costa foi ouvido na Justiça Federal em Curitiba como testemunha de acusação de dois réus, o ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró e o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobrás.
Em resposta ao juiz Sérgio Moro, que conduz todas as ações das investigações, confirmou que recebeu US$ 1,5 milhão em propina repassada por Fernando Baiano, para não atrapalhar a aprovação do negócio.

“Essa aquisição foi pela sua diretoria?”, perguntou Moro. Costa respondeu: “Não, a minha diretoria se restringia a atividades no Brasil. Como a refinaria fica no exterior, (a compra) foi conduzida pela Diretoria Internacional. O Nestor Cerveró era o diretor na ocasião.”

Na ação penal, Cerveró é acusado de ter recebido US$ 30 milhões em propinas pela compra de dois navios-sonda, entre 2005 e 2006. Fernando Baiano, por seu lado, é apontado como operador de propinas na diretoria do ex-diretor de Internacional.

O juiz quis saber de Paulo Roberto Costa se ele era “o único” que recebia propinas na Petrobrás. O ex-diretor declarou que não. Ele reafirmou todos os termos de sua delação premiada, esmiuçando os porcentuais sobre contratos do cartel para cada área da estatal e para agremiações políticas.

O magistrado perguntou então a ele se Fernando Baiano lhe disse se outros diretores também receberam propina por Pasadena. “Ele (Baiano) não falou, mas, se eu recebi, outros receberam. Por que só eu receberia?”

Moro perguntou ao delator por que ele recebeu o dinheiro de propina, se não cabia à diretoria dele cuidar de Pasadena. “Fui procurado no final de 2005 pelo Fernando Soares, ele me falou que era importante que essa refinaria fosse adquirida. Se foi um bom negócio naquele momento ou não, na minha visão como técnico, independente de qualquer desvio de dinheiro, no momento foi um bom negócio para a Petrobrás. Fernando Soares falou: ‘Paulo, é bom que seja aprovado, se você não criar nenhum problema aí no colegiado você recebe 1,5 milhão’”. De dólares ou reais?, questionou o juiz. “De dólares”, respondeu Costa.

‘Vantagens indevidas’

Ele afirmou também que não era o único dirigente da estatal que recebia “vantagens indevidas” do cartel de empreiteiras que se instalou na Petrobrás. Costa apontou o ex-diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, como beneficiário de valores. “Recebia.”

O ex-diretor afirmou que 2% sobre o valor dos contratos de sua área eram desviados para a o PT, via Diretoria de Serviços da estatal. O partido, segundo ele, captava 3% de outras diretorias. Renato Duque, por meio de sua defesa, tem reiterado que jamais recebeu propinas.

Costa reiterou que 2% sobre os contratos do cartel eram destinados ao PT. Segundo Costa, 1% era destinado para a sua diretoria. Desse 1%, um total de 60% ia para o PP, partido que o indicou para o cargo.

Questionado pelo juiz, se os encontros com Fernando Soares “se davam, sempre nesse contexto de pagamento de vantagem indevida, a propina”, Costa foi taxativo: “Sim”. “O senhor teve alguma discussão técnica sobre contratos da Petrobrás, com o senhor Fernando Soares ou questões relativas à Engenharia ou coisa que o valha?”, questionou o magistrado. “Não”, disse o ex-diretor.” Era sempre propina?”, questionou, então, Moro. “Sim, ou divisão de futuros projetos que poderiam ser feitos”, detalhou o delator.

O ex-diretor apontou na audiência que os lobistas Fernando Baiano e Julio Camargo eram operadores de propina e que “nunca tratou questões técnicas com os mesmos”. O delator afirmou ainda que teve “vários” contatos com Camargo, um dos réus do processo, e que em apenas um caso não chegou a falar em comissões, pelo negócio ter sido interrompido.

Segundo a denúncia, Fernando Baiano e Julio Camargo, via Cerveró, operaram dois pagamentos de US$ 20 milhões e US$ 33 milhões para que a empresa vencesse os contratos de construção de dois navios-sonda. Questionado pelo juiz se com Camargo os encontros eram sempre para tratar de propina, Costa respondeu. “Era, e do processo de cartelização. Sim.”

Os depoimentos de Costa e do advogado Carlos Alberto Costa - ligado ao doleiro Alberto Youssef - ontem encerraram a fase das testemunhas de acusações nos cinco processos criminais da sétima fase da Lava Jato, deflagrada em novembro e que mirou no primeiro grupo de executivos das 16 empreiteiras do cartel.

 

 

Vaccari é 'Moch' em planilha de propinas de ex-gerente da estatal

 

O ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, que fechou acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, entregou à Justiça registro da contabilidade de US$ 4,5 milhões referente a propina do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Barusco afirmou em depoimento à Polícia Federal, no dia 20 de novembro de 2014, que Vaccari é identificado pela sigla "Moch", que significa mochila.

 

Segundo o delator, a sigla foi criada porque "quase sempre presenciava João Vaccari usando uma mochila". No dia 5, quando foi alvo da nona fase da Lava Jato, a My Way, o tesoureiro estava com a mochila. Nela, policiais federais encontraram um caderno, em branco, e uma agenda pequena com poucas anotações.

 

Os US$ 4,5 milhões referentes a Vaccari entraram para a contabilidade de Barusco a partir de 2013, segundo ele, quando passou a registrar os valores arrecadados com estaleiros em contratos de navios-sondas. A quantia do tesoureiro do PT seria de pagamentos do Keppel Fels, de Singapura.

 

Segundo registro da Polícia Federal, quando Barusco começou a "contabilizar o pagamento de propinas referentes a Keppel Fels, verificou que João Vaccari já havia recebido até aquela data" o valor de US$ 4.523.000.

 

Dados

 

Braço direito do ex-diretor de Serviços Renato Duque - principal canal do PT, via Vaccari, no esquema de corrupção -, Barusco lançava em seu computador dados relativos a cada contrato, incluindo datas, valores dos negócios e quanto cabia a cada beneficiário da máquina de propinas. Na mesma planilha de contabilidade estão registrados valores de Duque - indicado ao cargo pelo ex-ministro José Dirceu. A sigla para o ex-diretor era "MW" - referência à My Way, canção gravada por Frank Sinatra usada por Barusco para tratar do ex-chefe.

 

Barusco operava a contabilidade da propina na diretoria, segundo confessou. Por meio da área de Serviços, o PT arrecadava de 1% a 2% de propina em contratos das demais diretorias da Petrobrás. As diretorias de Abastecimento e Internacional seriam cotas do PP e do PMDB na estatal.

 

Vaccari nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro fruto de propina. Em nota, na semana passada, ele diz que "esclareceu (à PF), em especial, que enquanto secretário de Finanças do PT jamais recebeu dinheiro em espécie". "Todas as contribuições ao partido, vindas pela Secretaria de Finanças por mim, foram absolutamente dentro da lei."