Assessores da presidente Dilma Rousseff afirmaram, ontem, que os investidores terão de engolir Aldemir Bendine na presidência da Petrobras. Na avaliação deles, a chefe do Executivo não poderia entregar o comando da maior empresa do Brasil, que reponde, com todas suas operações, por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) do país a um estrangeiro indicado pelo mercado financeiro. Bendine é o nome certo no lugar certo, frisa um dos mais próximos auxiliares de Dilma. 

No entorno da presidente não faltam justificativas para a escolha de Bendine como sucessor de Graça Foster. Trata-se de um técnico com capacidade para transitar em todos os segmentos com os quais a Petrobras se relaciona, ressalta um ministro palaciano. Ele sabe negociar com fornecedores, com o sistema financeiro, com o PT, com os  ministérios e com os sindicatos. Engana-se quem acredita que o ex-presidente do Banco do Brasil é despreparado, acrescenta. 

 Entre as pessoas com a quais Bendine de relaciona, a visão é de que ele se cercará de gente competente que supra todas as deficiências que venha a apresentar no comando da estatal. Não foi por acaso que Bendine levou Ivan Monteiro do BB para a Petrobras. A área financeira da companhia é estratégica. É enorme a necessidade de se recuperar o caixa da empresa, assinala um técnico do Ministério da Fazenda, que já tratou de temas importantes com o ex-presidente e o ex-vice do Banco do Brasil. 

Não há perspectiva de Bendine levar, pelo menos por enquanto, outros colaboradores do BB para a Petrobras. A petroleira é um campo minado. Ele sabe disso. Precisará se cercar de funcionários capacitados da companhia para que não seja atropelado pelo corporativismo. Já ficou claro que nem entre os empregados da Petrobras o nome dele foi bem recebido, diz o mesmo técnico da Fazenda. 

R$ 88,6 bilhões 
Na avaliação de Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, por mais que o governo diga o contrário, Bendine é fraco para fazer frente a todos os desafios que a estatal enfrentará. Quando houve o anúncio da renúncia coletiva de diretores da Petrobras, criou-se um otimismo de que a nova diretoria chegaria para corrigir os problemas. Por isso, esperava-se alguém de fora do governo, com um histórico melhor, com uma biografia mais técnica para que a empresa recuperasse a confiança dos investidores, afirma. Infelizmente, a frustração foi geral. 

A grande expectativa do mercado é como Bendine lidará com os R$ 88,6 bilhões contabilizados como frutos da corrupção na estatal. Ao indicar esse valor em um anexo no balanço financeiro não auditado no terceiro trimestre de 2014, Graça Foster caiu em desgraça no Palácio do Planalto. Caso ele decida retirar esses cálculos dos demonstrativos, dará um sinal explícito de que realmente sua nomeação para a Petrobras teve um único objetivo: favorecer o governo. Nada mais.