O PT tenta emplacar com a presidente Dilma Rousseff o comando da Fundação Nacional do Índio (Funai). A reivindicação parte principalmente de petistas da região Norte, onde se concentram 98,7% das áreas indígenas demarcadas no País. O nome indicado pelo partido é o do ex-senador amazonense João Pedro.

Em 2006, o petista foi eleito suplente do senador Alfredo Nascimento (PR-AM). Ele exerceu o mandato entre 2007 e 2011, período em que o titular esteve à frente do Ministério dos Transportes. Como senador, João Pedro presidiu em 2009 uma CPI da Petrobrás cujo relatório final isentou a estatal de irregularidades. No ano passado, ele foi candidato a deputado federal, mas não se elegeu.

O deputado Sibá Machado (AC), líder da bancada do PT na Câmara, é um dos defensores da indicação de João Pedro para a presidência da Funai. “Ele tem experiência e está preparado”, afirmou. Para o líder do PT, a Funai precisa ser fortalecida. O deputado observa que há uma extensa pauta de assuntos indígenas que precisam ser discutidos e que não envolvem necessariamente novas demarcações, como projetos de desenvolvimento sustentável das terras já demarcadas.

 

 

Em 2013, Gleisi defendeu tirar poder da Funai

Em 2013, Gleisi defendeu tirar poder da Funai

O mais preocupante, porém, de acordo com Sibá Machado, é a retomada na Câmara do Projeto de Emenda Constitucional n.º 215 (PEC 215), que objetiva transferir para o Legislativo as funções relacionadas à demarcação de terras no País. “A aprovação de uma lei como essa significa abrir a porta do inferno para os povos indígenas”, disse. “Temos que evitar a qualquer custo que seja aprovada na Câmara. Também temos que ter um presidente forte na Funai.”

O deputado Nilto Tatto (PT-SP), da frente parlamentar em defesa dos interesses dos índios, também prega o fortalecimento da Funai. “Pela configuração do Congresso nessa legislatura, é importante ter um nome de peso e com boa interlocução com o movimento indígena.”

Ruralistas. Um nome de peso na Funai pode, no entanto, causar problemas para Dilma. O enfraquecimento do órgão em seu governo, segundo observações de ONGs que atuam em defesa dos grupos indígenas, está relacionada a dois fatores.

De um lado, Dilma quer evitar atritos com a bancada ruralista, que se opõe a novas demarcações de terras. A indicação da senadora e líder ruralista Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura é vista como indicação clara do esforço para se aproximar dessa bancada.

De outro lado, a presidente sempre viu com restrições a atuação dos movimentos indígenas nas áreas da Amazônia em que estão sendo construídas hidrelétricas. Em maio de 2013, a então ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann defendeu a inclusão dos Ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e das Cidades, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa), entre os órgãos a serem ouvidos nos relatórios para demarcação de terras, hoje atribuição exclusiva da Funai.

Quando assumiu a Presidência em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva indicou para a Funai o indigenista Eduardo Aguiar de Almeida, sob a tarefa de levar adiante as políticas que o PT havia proposto na campanha para os povos indígenas. Logo começou a enfrentar pressões, especialmente de setores do PMDB ligados aos ruralistas. Ficou no cargo sete meses.

Os outros dois indicados por Lula, os antropólogos Mércio Gomes e Márcio Meira, duraram mais. O segundo ficou cinco anos no cargo e foi o presidente mais longevo da Funai.