No ano em que se esperava uma ajuda extra da Copa do Mundo para estimular a atividade doméstica, a economia brasileira teve retração de 0,15%, pelos dados do IBC-Br, indicador do Banco Central que tem por objetivo tentar antecipar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB).

O resultado negativo de 2014 foi o segundo desde 2003, quando a série histórica teve início. O recuo anual anterior, de 1,25%, havia ocorrido em 2009, e teve como estopim a quebra do banco americano Lehman Brothers, que deflagrou a crise financeira externa que ainda deixa rastros pelo mundo. O resultado negativo apurado ao longo do ano passado é uma sinalização de que o PIB oficial de 2014 será mesmo ruim. O IBGE divulgará o indicador em 27 de março. Em dezembro de 2014, o IBC-Br registrou queda de 0,55% na comparação com novembro. O dado já leva em conta o ajuste sazonal, ou seja, fatores que influenciam mais um mês do que outro, como o número de dias úteis por conta de feriados, por exemplo. Na comparação com dezembro de 2013, ainda foi visto um último suspiro no ano passado, já que houve uma alta de 0,65%.  Pelos dados do BC, também pode se verificar que os últimos três meses de 2014 tiveram uma queda de 0,15% em relação ao terceiro trimestre do ano (dado dessazonalizado) e de 2,39% na série sem ajuste. No confronto com o quarto trimestre de 2013, o tombo foi de 0,63%.

Não bastasse a constatação de que a atividade caminhou sem direção em 2014, as projeções para este ano não estão nada boas. Pesquisa semanal feita pelo BC com agentes econômicos aponta que 2015 será um ano de estagnação, mas já há consenso de que as revisões feitas ultimamente pelas instituições financeiras por causa de possível racionamento de água e luz ainda não foram captadas pela pesquisa. Ou seja, nas próximas semanas, o Relatório de Mercado Focus deverá trazer previsões de nova queda do PIB.  As perspectivas para este ano são pouco favoráveis porque, além dessa preocupação com a possível falta de insumos básicos para o setor produtivo, o País passa por um momento de aperto monetário, com alta de juros e consequente restrição do crédito.

Além disso, o governo federal já anunciou o aumento de uma série de impostos, que, no fim das contas, tira o poder de compra da população e reduz a demanda por produtos e serviços.

Para a equipe da Rosenberg & Associados, a queda esperada do IBC-Br era mais intensa por conta do comportamento observado na indústria e no comércio em dezembro.

Os economistas da casa lembraram, no entanto, que o índice procura captar a atividade dos serviços e também há diferenças por conta do ajuste sazonal distinto das pesquisas. “Apesar disso, o número reforça o quadro negativo da atividade econômica em 2014”, escreveram os analistas.

 O resultado também veio melhor do que o calculado pelos profissionais do Banco Fator. Mesmo assim, ele mantiveram a projeção de queda de 0,1% do PIB em 2014. “

Em 2015, esperamos uma contração maior, em -0,5%, sendo que os riscos de racionamento de energia elétrica e de água podem levar o PIB a recuar até 1,5%”, consideraram.

 Para Guilherme Maia, economista da Votorantim Corretora, os resultados do IBC-Br colaboram a percepção de uma taxa negativa para o PIB tanto do último trimestre como do número fechado do ano passado.

A expectativa anterior da instituição era de alta de 0,10% para o PIB de 2014 e de 040% para os três últimos meses do ano passado. “Depois da PMC (Pesquisa Mensal de Comércio) e da indústria, estávamos esperando o IBC-Br para revisar a projeção.

 Coloca um viés para baixo”, adiantou. Os números do IBC-Br, disse, também reforçam a visão de que a atividade está de fato enfraquecida e pode desacelerar ainda mais, devendo conduzir o PIB fechado de 2015 para uma queda. “Os dados da PMC, da indústria e do IBC-Br confirmaram essa percepção que tem im-plicações para 2015.”