O governo dos Estados Unidos exortou ontem países europeus a pensar duas vezes antes de aderirem a um novo banco de desenvolvimento asiático liderado pela China, que Washington vê como um rival ao Banco Mundial, depois que Alemanha, França e Itália seguiram o exemplo do Reino Unido, que aderiu à iniciativa. A decisão concertada envolvendo aliados dos EUA no sentido de participar do principal projeto de projeção econômica de Pequim é um revés diplomático para os EUA e seus esforços no sentido de contrapor-se ao rápido crescimento da influência econômica e diplomática chinesa. A adesão europeia reflete o forte interesse de associação à economia chinesa, a segunda maior do mundo e em rápido crescimento, e acontece em meio a difíceis negociações comerciais entre Bruxelas e Washington. A União Europeia e governos asiáticos estão frustrados com o fato de o Congresso dos EUA terem sustado uma reforma dos direitos de voto no Fundo Monetário Internacional que dariam à China e a outras potências emergentes mais voz na governança econômica mundial. Washington questionou se o novo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, em inglês), manterá elevados padrões de governança e salvaguardas ambientais e sociais. "Eu espero que antes de uma adesão formal definitiva, qualquer participante que empreste seu nome a essa organização certifique-se de que a governança é adequada", disse o secretário do Tesouro americano, Jack Lew, a legisladores americanos. Lew advertiu o Congresso dominado pelos republicanos que a China e outras potências emergentes estão contestando a liderança americana nas instituições financeiras mundiais, e exortou os legisladores a ratificarem rapidamente a sustada reforma no FMI. "Não é por acaso que as economias emergentes estão buscando alternativas, porque estão frustradas diante do fato de que, francamente, os EUA sustaram um conjunto muito brando e razoável de reformas no FMI", afirmou o secretário do Tesouro. O ajuste na representatividade e nos direitos a voto no FMI foi intermediado pelo Reino Unido em uma cúpula do G-20 em 2010, e os países europeus o ratificaram há muito tempo. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, anunciou em uma conferência de imprensa conjunta com o vice-premiê chinês Ma Kai, em visita à Alemanha - maior economia na Europa e importante parceiro comercial de Pequim -, que os alemães serão um dos membros fundadores da AIIB. Em declaração conjunta, os ministros de Relações Exteriores e das Finanças da Alemanha, França e Itália disseram trabalharão no sentido de garantir que a nova instituição "cumpra os melhores padrões e práticas em termos de políticas de governança, de salvaguardas, de dívida e de compras". O Ministério das Finanças do Luxemburgo confirmou que o país, um grande centro financeiro, também pediu para ser um dos membros fundadores do AIIB, cujo capital será de US$ 50 bilhões. O AIIB foi lançado em Pequim no ano passado, visando estimular o investimento na Ásia nas áreas de transporte, energia, telecomunicações e outras modalidades de infraestrutura. A instituição foi considerada como um rival do Banco Mundial, onde predominam países ocidentais, e do Banco Asiático de Desenvolvimento. China disse que adotará as melhores práticas empregadas por essas instituições. A China disse neste ano que um total de 26 países foram incluídos como membros fundadores do AIIB, predominantemente da Ásia e do Oriente Médio. A intenção é finalizar os artigos do acordo até o fim do ano. A China anunciou que 31 de março marca o fim do prazo para aceitação de membros fundadores da instituição. Japão, Austrália e Coreia do Sul continuam sendo os mais notáveis ausentes regionais no AIIB. O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, disse no fim de semana que em breve tomará uma decisão final sobre a adesão. A Coreia do Sul disse estar ainda em discussões com a China e outros países sobre sua possível participação. O Japão, principal rival regional da China, tem a maior participação no Banco Asiático de Desenvolvimento Asiático (BDA), juntamente com os EUA. Por convenção, o banco, com sede em Manila (nas Filipinas), é dirigido por um japonês. É improvável uma adesão do Japão ao AIIB, mas o presidente do ADB, Takehiko Nakao, disse ao "Nikkei Asian Review" que as duas instituições estão em conversações e poderão trabalhar juntas. Nakao foi citado como tendo dito: "Nós já começamos a compartilhar nossa experiência e know-how". "Depois que o AIIB tiver sido efetivamente criado, é concebível que iremos cooperar".