No segundo dia de esforço concentrado do governo — que tenta se reaproximar da base aliada e conseguir o apoio para a aprovação das medidas do ajuste fiscal que serão debatidas no Congresso —, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu mostras de que a tarefa palaciana será árdua. Ao chegar ao Congresso ontem, Renan foi explícito. “O PMDB quer dar um fundamento à coalizão, quer participar da definição das políticas públicas. Essa coalizão é capenga porque o PMDB, que é o maior partido, não cumpre o seu papel.” A declaração foi dada no intervalo entre o café da manhã dos ministros com os líderes do Senado — sem a presença de peemedebistas — e o almoço do mesmo grupo de integrantes do Executivo com os líderes aliados da Câmara. Ontem, o Planalto e congressistas participaram de uma série de encontros paralelos. A ideia era debater os pontos do arrocho, que pode chegar a R$ 80 bilhões, segundo estimativa anunciada pelo titular da Fazenda, Joaquim Levy, ao PMDB. As reuniões também serviram para sinalizar que haverá debates e mudanças nos textos das duas medidas provisórias que alteram regras trabalhistas e previdenciárias. O maior partido da base, o PMDB, que só esteve presente em um dos dois encontros no Planalto, questiona a disposição do governo em reatar relações com a base. Antes da agenda de ontem, a cúpula peemedebista participou de jantar, na noite de segunda-feira, com os ministros Joaquim Levy, Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), além do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. No entanto, o debate sobre o futuro das medidas econômicas anunciadas pela equipe da presidente Dilma Rousseff — que precisam ser referendadas pelo Legislativo — ainda está em fase inicial. “Não discutimos nenhuma proposta diferenciada à que foi apresentada. Nenhum líder levantou proposta alternativa a ser apreciada pelo governo. Foi uma primeira reunião de nivelamento de informações e, agora, na sequência, vamos discutir os temas que cada bancada tem a apresentar”, explicou o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Pepe Vargas, anfitrião do encontro. Além de Pepe, estiveram presentes Nelson Barbosa, Carlos Gabas (Previdência), Manoel Dias ( Trabalho) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral).

Comissões

O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (CE), disse que o encontro de ontem foi para um primeiro contato da base com as propostas contidas nas duas medidas provisórias, e que possíveis emendas só serão discutidas mais profundamente a partir da semana que vem, quando as comissões temporárias que examinarão as MPs serão instaladas. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), reconheceu que as mudanças serão inevitáveis. “Certamente, haverá ajustes de modo a ficar bom para a população e também para o governo”, disse. Miguel Rossetto anunciou para hoje reuniões com as Centrais Sindicais que, assim como o PT, estão incomodadas com a possibilidade de perdas de direitos sociais. O PSD, que, a exemplo do PMDB, ofereceu ontem um jantar para Levy, elogiou a iniciativa do governo. “Todos os ministros apresentaram detalhadamente as propostas contidas nas MPs. Se fosse sempre assim, teríamos mais subsídios para defender o governo”, destacou o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF).