Os dois novos bombeiros da crise política brasileira vão usar a habilidade para reconstruir pontes, mas, acima de tudo, estão agindo para salvar a própria pele dos ataques e questionamentos que vêm sofrendo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Brasília para jantar com a bancada do PT no Senado e, amanhã, deve ter um encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL). Já o vice-presidente da República, Michel Temer, passou a ser encarado como o nome que poderá reunificar o PMDB e fazer a legenda que preside retomar a relação com o Planalto. Curiosamente, o movimento dos dois atores ocorre no momento em que o PT teme a independência do PMDB em relação ao Planalto. Como mostrou o Correio ontem, reunião do campo majoritário petista na última sexta-feira externou o receio dos correligionários de Lula com os desdobramentos da Operação Lava-Jato. “A água já está batendo no teto. Daqui a pouco, eles vão querer convocar Lula para a CPI da Petrobras”, assustou-se um cacique petista. “Já passou da hora do Lula entrar na articulação política e corrigir os erros cometidos pelo Planalto.” Para não melindrar Dilma, que, até o momento, tem resistido a uma atuação mais incisiva do ex-presidente, oficialmente o convite para Lula vir a Brasília foi feito pela bancada de senadores do PT. Não é a primeira vez que o ex-presidente se reúne com os senadores do partido. No início do primeiro mandato de Dilma, ele fez o mesmo, o que provocou ruído nos corredores palacianos. Lula ainda deve conversar com Renan. “Eles se dão muito bem. Aliás, Lula se entende muito bem com o PMDB. Dilma até tenta, mas não tem embocadura para isso”, explicou um cacique peemedebista. Renan mostrou ontem todo o seu descontentamento, ao afirmar que o PMDB não pode ser chamado apenas em cima da hora para discutir os projetos. Líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) — que tem queixas pessoais contra o PT e Lula, por não ter recebido apoio do cacique na disputa pelo governo do Ceará — também elogiou a entrada do ex-presidente na articulação. “Lula sempre ajuda quando resolve agir politicamente”, resumiu. O prestígio de Michel Temer, neste momento, também passa pelo processo de reafirmação da independência do PMDB. A relação de Temer com Dilma está desgastada, e muitas das decisões passam direto pelo gabinete do senador Renan Calheiros. Mas a crise vivida pela petista e o fantasma do impeachment que assombra o governo reforçam a necessidade de se azeitar as relações. No entanto, Eunício adiantou que a intenção do partido é não dar as costas para os pleitos da população. “As urnas têm, sucessivamente, nos dado a chance de sermos o maior partido do Brasil. Não podemos nos esquecer disso”, reforçou o senador.