» ANDRE SHALDERS

A CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados será presidida pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB), segundo anunciou ontem o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Além de Motta, o PMDB indicou os nomes dos outros quatro integrantes no novo colegiado que apurará o esquema criminoso desmantelado pela Operação Lava-Jato, desencadeada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. São eles Celso Pansera (RJ), em primeiro mandato; Édio Lopes (RR); Darcísio Perondi (RS); e Lelo Coimbra (ES). O PT deve oficializar os nomes até meio-dia de hoje, inclusive o relator da CPI. Nos bastidores, comenta-se que o cargo deve ser ocupado pelo deputado Vicente Cândido (SP), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ligado à ala majoritária do partido. ontinuação da Resenha Diária 24/02/15 28

Deputados petistas também anunciaram ontem que apresentarão um requerimento para estender a apuração da CPI ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) — o pedido de criação do colegiado estabelece que as investigações lidariam com fatos ocorridos após 2005, início das tratativas para a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), diz já ter o número de assinaturas necessárias para aprovar o requerimento no plenário do colegiado. “CPI não é para apurar contra uma pessoa ou outra. É para apurar tudo, e nós queremos que se apure desde 1997”, reforçou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

O nome de Hugo Motta é bem-visto por setores da oposição, principalmente pelo fato de ele já ter participado da CPI mista que investigou a corrupção na Petrobras e por ter presidido a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. “A isenção é maior com um nome do PMDB do que do PT. E Hugo tem experiência com este tipo de trabalho, é um bom nome”, disse o deputado tucano Izalci Lucas (DF), pouco antes do anúncio. Do ponto de vista da oposição, porém, o melhor era que o PMDB ficasse com a relatoria, e não com a presidência. “Para evitar o que ocorreu na CPI mista”, diz Izalci. “O que saiu dali não foi um relatório da CPI, foi um relatório do governo.”

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), justificou a escolha pela presidência da comissão. “Decidimos indicar este cargo pois é ele quem dita o ritmo dos trabalhos”, explicou ele. Picciani declarou que o desejo peemedebista é que este trâmite seja acelerado, pois é isto que a sociedade exige neste momento. “A intenção do PMDB é resgatar o mais rapidamente possível a credibilidade da Petrobras”, justificou ele.

Picciani diz não temer a provável denúncia de envolvimento de deputados — inclusive do PMDB — com o esquema de corrupção na Petrobras. “Não tememos porque, institucionalmente, o PMDB não participou de nenhum ato de corrupção. Agora, se indivíduos do partido cometeram deslizes ou praticaram crimes, que respondam individualmente por eles”, acrescentou.

No Senado, o PSDB ainda espera obter êxito na coleta das assinaturas de outra CPI mista da Petrobras. Na semana passada, o Correio mostrou que as chances tornaram-se mínimas, já que a bancada do PSB não deve assinar, em sua totalidade, o requerimento de criação da comissão. Estão garantidas, até o momento, as assinaturas de Roberto Rocha (MA) e Romário (RJ). A bancada socialista reúne-se hoje. “Esperamos mais apoio, pois acreditamos que o PSB não vai querer ser contrário ao anseio da opinião pública”, defendeu o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

PGR pede inquérito contra Agripino no STF

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou pedido de abertura de inquérito contra o senador Agripino Maia (DEM-RN) para apurar a suposta participação do parlamentar em um esquema de corrupção no Rio Grande do Norte. Em delação premiada, o empresário George Olímpio acusa o presidente do DEM de cobrar R$ 1 milhão em propina para permitir fraudes no serviço de inspeção veicular do estado. As irregularidades são investigadas pela Operação Sinal Fechado, deflagrada em 2011. Maia promete fazer um discurso no Senado hoje, para se defender da acusação.

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Ato pela estatal

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa hoje de um ato promovido pela Central Única dos Trabalhadores com apoio de movimentos sociais contra o que chamam de “desmoralização” da Petrobras por meio da Operação Lava-Jato. Batizado de “Defender a Petrobras é defender o Brasil”, o protesto será na Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio de Janeiro. Além de militantes ligados ao PT e sindicalistas, devem participar também os escritores Eric Nepumoceno e Fernando Moraes, a jornalista Hildegard Angel, o cineasta Luiz Carlos Barreto, a filósofa Marilena Chauí, entre outros.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, afirmou em comunicado da entidade que “o combate à corrupção não pode ser usado por oportunistas que querem desmoralizar a Petrobras”. Ele menciona ataques especulativos para derrubar o valor de mercado da estatal e prepará-la para uma privatização. “Oportunistas de plantão querem usar a conduta criminosa de alguns funcionários de alto escalão para preparar a empresa para a privatização”, afirma Freitas.

Setores do PT têm criticado a Polícia Federal e o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, por “vazamentos seletivos” de trechos do inquérito. O governo federal também tem posição contrária à do Ministério Público, que defende punição às empreiteiras envolvidas no pagamento de propina. Para a presidente Dilma Rousseff, as construtoras são importantes para o país e basta punir “os indivíduos” que cometeram crimes.