Envolvido num esquema de lavagem de dinheiro que colocou a subsidiária na Suíça no centro de uma investigação criminal, o banco inglês HSBC enfrenta agora novo problema de proporções gigantescas, dessa vez no Brasil. Sob alegação de que a fraqueza do Produto Interno Bruto (PIB) prejudicou seus negócios no país, a instituição reportou ontem prejuízo antes de impostos de US$ 247 milhões (R$ 711,1 milhões) em 2014. Os resultados revertem um histórico favorável de dois anos seguidos de lucros, dando ao país o incômodo posto de líder em perdas do banco na América Latina. Para piorar, a perspectiva para os próximos anos também é de baixo crescimento econômico. Não por outro motivo, o presidente mundial do HSBC, Stuart Gulliver, deu um ultimato aos funcionários no Brasil: se, em um ou dois anos os resultados positivos não voltarem, o banco poderá ser posto à venda. O alerta também vale para filiais no México, na Turquia e nos Estados Unidos. “Absolutamente, precisamos virar o jogo, ou precisaríamos pensar em soluções mais extremas para o problema”, disse o executivo ontem, em Londres, mencionando que o prazo para que os negócios “provem seu valor” será de 12 a 24 meses. “Há partes do grupo que não estão oferecendo retorno (adequado), e estamos trabalhando para reestruturá-las”, disse. Uma solução poderia ser a venda dessas unidades, indicou. “Não há opções, em termos de reestruturação, que não estejamos considerando.” Não será uma tarefa fácil. Brasil, México e EUA são alguns dos principais mercados para o banco. Juntas, as filiais somam 53 mil funcionários. Demiti-los significaria gastos elevados com rescisões, sobretudo no Brasil, que tem legislação trabalhista mais dura do que México e EUA. Mas, diante da queda de 17% nos lucros globais do conglomerado, analistas apostam num amplo plano de contenção de gastos e foco em negócios mais rentáveis. O caso brasileiro é emblemático. Nas áreas em que o banco atua no país, só o segmento de “global banking e mercados” registrou lucro antes de impostos em 2014. Ainda assim, o saldo positivo, de US$ 115 milhões, representou queda de 77% em relação ao reportado um ano antes, de US$ 514 milhões. O pior desempenho, por sua vez, foi registrado pela área de varejo e gestão de ativos, com prejuízo de US$ 174 milhões. Em 2013, o saldo dessas operações já havia ficado negativo em US$ 114 milhões. Os resultados sugerem dificuldades do banco para avançar sobretudo na área de varejo, onde tem a concorrência de pesos- pesados como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa. “Em geral, instituições internacionais com atuação mais forte no país, como HSBC e Santander, até adotam modelo de funcionamento baseado no esquema agência e cliente. Mas, por não ter tamanho de grandes bancos, têm maior restrição de crédito e acabam sendo menos agressivas que os concorrentes”, assinalou o analista da agência Austin Rating, Luiz Miguel Santacreu. A concorrência pode aumentar. Em nota, o HSBC anunciou ontem que fechará 21 agências no Brasil, em “áreas com menor potencial de crescimento”, com o objetivo de adequar a rede de agências ao comportamento dos clientes, cada vez mais ligados aos canais digitais.