Enquanto nas escolas do Distrito Federal faltam professores e materiais básicos, a situação em Goiás está longe de ser melhor. Um colégio no Novo Gama (GO) está sem telhado desde o fim do ano passado e os alunos, sem aulas desde o começo do ano letivo, iniciado em 9 de fevereiro. A Escola Municipal Ponto Final atende cerca de 600 estudantes. De acordo com os pais, as obras tiveram início em novembro do ano passado. Sem telhado em nenhuma das salas e com vestígios de materiais de construção por todos os lados, o cenário não parece convidativo para estudar. A diarista Maria Alcina da Silva, 50 anos, define o momento como “desesperador”. Ela tem uma filha de 10 anos matriculada na escola, não conta com dinheiro para colocar a menina em uma escola particular e também não pode levar a filha a um colégio mais distante, até mesmo pelo preço alto das passagens de ônibus. “A situação está feia e eu não tenho para onde correr, não sei mais o que fazer e minha filha continua sem estudar”, reclama. Maria diz que o início das aulas foi adiado diversas vezes e duvida que o último prazo, 16 de março, seja cumprido. Os estudos deveriam ter começado em 9 de fevereiro, mas foram adiadas para depois do carnaval. O feriado terminou e foi determinada outra data: fim do mês. Novamente, o cronograma foi alterado: primeiro para 10 de março; depois, para o dia 16 do mesmo mês. Na incerteza, pais de alunos não sabem a quem recorrer e visitam constantemente a escola em busca de esclarecimentos. “Eu não sei mesmo: se continuarem desse jeito, vai chegar abril e minha filha segue sem aula? No tem condição, é um desrespeito”, completa Maria. A diarista conta que se sentiu pior com a reação da filha. “É horrível, ela quer muito voltar a estudar, está sentindo falta. Me pede para mudar de escola e chora. Isso parte meu coração”, lamenta. Uma vendedora da região, que preferiu não se identificar, afirma que teve sorte de ter tirado o filho de lá há 2 anos. “Eu quis tirá-lo porque sempre tinha algum problema. Hoje, está aí o resultado”. Ela afirma que muitas crianças da família estudam lá e que a própria filha gostaria de iniciar a Educação para Jovens e Alunos — inviável até pelo menos o término das obras. A vendedora afirma, inclusive, que a falta de alunos atrapalha os negócios. Ela vende lanches e, com a ausência de aulas, fica com uma clientela muito menor.

Datas desencontradas

A secretária municipal de Educação do Novo Gama, Maria de Lourdes Oliveira Brito, afirma que as obras só começaram em janeiro e não em novembro, como a população acredita. “Em novembro, a prefeitura destelhou a escola e, por isso, todos acham que as obras começaram antes, mas elas só foram iniciadas em 19 de janeiro”, explica. Maria de Lourdes assumiu a pasta em outubro de 2014 e conta que se assustou com a situação da escola. De acordo com ela, o prédio estava velho e apresentava riscos sérios para a segurança dos alunos. “O local precisava de reformas há pelo menos oito anos e isso era uma reivindicação da população. Estamos tentando melhorar, mas a burocracia dificultou que mantivéssemos os prazos, assim como as chuvas constantes”, diz. Quando percebeu os riscos, a secretária pediu que as crianças fossem transferidas. As aulas passaram a ocorrer em uma igreja que fica ao lado do colégio, mas o espaço não comportou bem todos os estudantes, motivo pelo qual o arranjo não seguiu em 2015. Maria de Lourdes garante que as aulas perdidas serão repostas ao longo do ano letivo, nos contraturnos e aos sábados, e pede mais paciência dos pais. “Está difícil, mas temos gente trabalhando lá todos os dias para agilizar a volta às aulas.”