O brasiliense teve pouco tempo para se acostumar com o choque de custos provocado pelo reajuste dos combustíveis. Desde a madrugada de ontem, o litro da gasolina comum, vendido a R$ 3,45, começou a ser comercializado por R$ 3,54, a segunda alta em menos de um mês. A regra, agora, é adequar a nova correção do valor ao orçamento familiar, cada vez mais corroído pela inflação. Segundo especialistas, por causa do aumento, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve registrar avanço de 1,29% em fevereiro, e de 7,34%, em 12 meses. A nova correção no preço da gasolina ocorreu após uma decisão do Conselho Nacional de PolíticaFazendária (Confaz), presidido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e formado pelos secretários de Fazenda, que atualizou o valor de referência para a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas refinarias em 15 estados e no Distrito Federal. A mexida é reflexo da elevação do PIS/Cofins anunciada no início de fevereiro, que gerou efeito cascata sobre o ICMS. Como o imposto é estadual, o impacto varia conforme a unidade da Federação. O reajuste deve provocar mais mudanças de hábito na rotina dos consumidores. O técnico agrícola Sérgio Pereira, 37 anos, cogita a ideia de ir e voltar a pé do trabalho, em um percurso estimado em 8km, somados a ida e a volta. “O jeito vai ser usar o carro apenas em situações de emergência, como levar os filhos ao hospital”, disse o pai de três filhos. Diante do encarecimento da gasolina, a estudante Júlia Horta, 24, aluna de artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB), pensa em dividir os custos com amigos e pegar caronas, quando possível. “Moro longe e fica difícil estudar sem o carro. O transporte público não é acessível”, lamentou. Outra solução, na opinião dela, será passar o dia todo na UnB. “Tinha o hábito de almoçar em casa alguns dias da semana. Agora, por uma questão de economia, permanecerei no câmpus e levarei marmita de casa”, afirmou ela, que reclama do preço. “Hoje, R$ 100 não enchem nem meio tanque.” 

O pessimismo não é só do consumidor. Gerente de um posto no Núcleo Bandeirante, Joecy Araújo acredita que novos reajustes podem entrar em vigor nos próximos meses. “Não temos nenhuma previsão concreta, mas o preço deve subir. Se não atingir os R$ 4 até o fim do ano, deve chegar perto”, prevê. Ele conta que, desde o primeiro aumento do mês, quando a gasolina passou para R$ 3,45, o movimento no estabelecimento diminuiu bastante. Ontem, com a gasolina a R$ 3,54, recebeu muitas reclamações. “Teve gente que chegou, viu o preço e foi embora com raiva, sem abastecer.” O Procon do Distrito Federal garante estar atento ao aumento dos combustíveis. Até o momento, o órgão não recebeu nenhuma queixa sobre preços acima do valor de mercado. Eduardo Mendonça, analista de Direito do órgão de defesa do consumidor, explica que, para ser considerado abusivo, o reajuste teria de ser aplicado sem justificativa ou muito acima do estipulado pelo governo. Segundo ele, apesar de altos, os preços praticados na capital estão dentro do limite.