Título: Sem respostas
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Fonte: Correio Braziliense, 14/07/2011, Opinião, p. 24

Visão do Correio ::

Pode ser que não passem de ¿invencionices e factoides¿, como ele próprio definiu, as versões de que obras em rodovias federais vêm sendo superfaturadas por causa de cobrança de propina para financiamento de campanha eleitoral do Partido da República (PR), que controla a pasta dos Transportes. Mas o depoimento de Luiz Antonio Pagot, terça-feira, no Senado Federal, deixou mais dúvidas que certezas. Nem sequer ficou claro se o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) permanece ou não no cargo. Ele se limitou a confirmar estar em gozo de férias, sendo evasivo quanto ao futuro: ¿Eu não sei se fico no governo ou não¿.

Pagot negou haver corrupção no órgão, assegurando que a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) acompanham todas as ações. Mas foi justamente do controlador-geral, Jorge Hage, no início da semana, que partiu a denúncia mais pesada contra o setor: ¿O Dnit tem o DNA da corrupção¿. A resposta de Pagot? ¿O Dnit tem o DNA do bem.¿ Tanto que, ontem, na Câmara, o discurso dele foi de continuidade. Contudo, palavras por palavras, se estivesse tudo dentro dos parâmetros de correção e transparência obrigatórios ao serviço público, o novo ministro da área, Paulo Sérgio Passos, não precisaria assumir prometendo ajustes, com ¿pessoas certas nos lugares certos, com competência, experiência e honorabilidade¿.

Faxina é do que precisa a pasta, destino da maioria das emendas de parlamentares do PR em 2010. Em especial, urge passar pente-fino no Dnit, cujo orçamento (R$ 14,7 bilhões para investimentos este ano) é o maior de todos os órgãos do governo federal. Aliás, ¿invencionices e factoides¿ à parte, o departamento não é alvo de escândalos gratuitamente. Está no centro de mais de centena de processos no TCU ¿ que Pagot invoca em sua defesa ¿, sob suspeitas de superfaturamento, pagamento por serviços não prestados e licitações dirigidas. Não bastasse, os recursos disponíveis vêm sendo aplicados em ritmo bem aquém do desejado: na primeira metade do ano, investiu-se pouco mais de um terço das verbas destinadas a empreendimentos rodoviários e ferroviários em 2011.

Vale lembrar, uma das principais promessas da presidente Dilma Rousseff, na campanha e ao tomar posse, foi a de aprimorar a gestão da máquina pública. É hora de fazer valer o discurso, com todas as consequências. Só nos contratos de manutenção da BR-364, em Mato Grosso, auditores constataram várias irregularidades neste ano. Coube ao TCU enxergar o que o Dnit supostamente não via, como placas de concreto com espessura inferior à mínima admissível (pagas pelo departamento como se estivessem de acordo com o contratado) e indícios de fraude em medições.

Dilma tem fama de ser dura com a equipe. Já cobrou os sucessivos aumentos dos custos das obras, os aditivos sem fim nos contratos e até trocou o ministro dos Transportes. Mas o serviço somente estará completo quando imperarem a competência, a experiência e a honorabilidade referidas por Passos, e o contribuinte já não tiver dúvida da vigência desses critérios. Em outras palavras: urge dar as respostas efetivas aguardadas pela sociedade.