Ministro da Justiça pede reunião de emergência com o procurador-geral da República para informá-lo de que órgãos de inteligência detectaram a ação de "radicais". Alerta ocorre no momento em que o MPF prepara denúncia contra políticos
 
Às vésperas dos pedidos de abertura de inquérito contra políticos envolvidos na Operação Lava-Jato e meses após empreiteiras sofrerem cerco contínuo do Ministério Público, a segurança do chefe da instituição entrou em alerta. Ontem, foram aumentadas as medidas para proteger o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O alerta foi feito pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na noite de quarta-feira, em reunião de última hora e fora da agenda.
 
 

 

Informações de inteligência obtidas pelo ministro dão conta da existência de ameaças à segurança de Janot. O motivo é a Lava-Jato, que apura corrupção na Petrobras cometida por executivos, empreiteiras, estaleiros, ex-funcionários da estatal e políticos, como deputados, senadores e ministros, de acordo com depoimentos e documentos obtidos pelos investigadores. Foi Cardozo quem pediu a reunião com o procurador-geral. Ele relatou que os temores cresceram nos últimos dias, segundo dados obtidos de setores de inteligência do governo. Hoje, quem faz esse papel é o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), formado por vários órgãos, como a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
 
A origem das ameaças não é precisa. Há referência genérica a setores “radicais”. O ministro recomendou que o procurador-geral reforce a segurança pessoal, hoje considerada “nenhuma” por assessores mais próximos. Apesar de manter uma postura discreta, Janot, mineiro de Belo Horizonte, é considerado extrovertido por colegas que trabalham com ele.
 
A sugestão foi seguida ontem mesmo pela equipe de segurança de Janot. Ainda não se sabe se a medida será estendida aos outros investigadores da Lava-Jato. No Ministério Público, há duas forças-tarefas para cuidar do caso; uma no Paraná, com nove procuradores; e outra em Brasília, com 11 profissionais designados para auxiliar Janot nas denúncias contra políticos. Na Polícia Federal, eram pelo menos cinco delegados, mais agentes e escrivães.
 
A PF e a Procuradoria da República no Paraná não informaram se medidas de segurança foram ou serão tomadas por seus órgãos. A Abin disse ao Correio que não possui informação sobre a situação especial a que estaria submetido Janot e não foi alertada por nenhum órgão do Sistema Brasileiro de Inteligência.
 
A assessoria da Procuradoria-Geral da República também não confirmou o assunto. “A resposta do ministro é que ele não comenta questões de segurança”, informou Janot, por meio de assessoria. Em entrevista coletiva à tarde, ele repetiu que não pode se pronunciar sobre esse tipo de assunto. Janot disse que o encontro com Cardozo, marcado às pressas, ocorreu para tratar da criação de uma subprocuradoria de combate à corrupção.
 
Projetos
 
Janot aproveitou a conversa com Cardozo para discutir projetos de lei de combate à corrupção. O Ministério da Justiça tem uma série de anteprojetos e gostaria de apresentá-los ao Congresso em conjunto com o Ministério Público.
 
O procurador disse, no entanto, que o Executivo deve se sentir livre para enviar as propostas quando julgar conveniente. Isso porque o MPF ainda analisa iniciativas de própria autoria, mas não há prazo para levá-las ao Congresso.