Durante jantar com senadores do PT na noite de quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos correligionários apoio às medidas de ajuste fiscal enviadas pelo governo ao Congresso. Segundo participantes do encontro, Lula disse que o PT “erradamente assumiu uma postura de oposição às propostas de ajuste” e que não esperava um bloqueio desta natureza vindo do partido que deveria dar sustentação ao governo. “Se o Brasil chegar escangalhado em 2018, acabam as chances de nós vencermos as eleições presidenciais”, disse Lula. “O povo fica feliz com dinheiro no bolso e capacidade de comprar o que quer. Se não tiver isso, esquece”, completou ele, durante café da manhã com o PMDB ontem. Até o momento, mais de 500 emendas foram apresentadas às medidas provisórias alterando normas trabalhistas e previdenciárias. Boa parte delas vêm do PT. Ontem a Executiva Nacional da legenda divulgou nota defendendo“ que as medidas provisórias 664 e 665 (que tratam da restrição do acesso a benefícios), que têm o nosso apoio, devem ser objeto de negociação no Congresso, para serem aperfeiçoadas.” É um descolamento em relação à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais sindicais, que propõem, simplesmente, a retirada das MPs. No Congresso, as lideranças petistas já estão orientadas a utilizar a estratégia “emenda apresentada não significa emenda aprovada”. Na prática, os parlamentares podem propor alterações ao texto para dar uma satisfação às bases sindicais e sociais, mas aquelas que descaracterizarem a proposta inicial não serão acatadas pelos relatores. Para Lula, ao bater nas propostas, o PT deixa que o PMDB assuma o discurso de austeridade. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do partido na Casa, Eunício Oliveira (CE) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) já disseram que as medidas apresentadas são pífias e insuficientes. Lula disse que Dilma deve ser mais explícita na defesa das propostas do ajuste e mostrar que são medidas corretas que precisam ser tomadas para corrigir a economia. “O governo não fez isso, perdeu o debate da comunicação e, agora, está sendo acusado de ter mentido durante a campanha eleitoral”, reclamou o ex-presidente. Ele também quer ver a presidente, os ministros e os parlamentares do PT viajando mais para tirar a sigla das cordas, acuado que está sob a pecha de corrupto. “O partido precisa responder a essa tentativa de criminalizar o PT”, disse o porta-voz do encontro, senador Humberto Costa (PE).

Hostilidade

Ontem Lula tomou café com alguns caciques do PMDB do Senado, incluindo o ex-senador José Sarney (PMDB-AP). Reconheceu que há uma crescente hostilidade nas ruas, especialmente na classe média, contra o PT e o governo. “Estão querendo criminalizar a política e as empresas. Qual empresa estrangeira virá para cá se enrolar em nossa bandeira? Nenhuma”, disse ele, defendendo as empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato. Hábil, Lula disse aos peemedebistas que eles são fundamentais. Defendeu que representantes da legenda, possivelmente o vicepresidente Michel Temer, tomem assento no Conselho Político. “Ele lembrou que sempre levava José Alencar para os encontros”, disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).