Em meio a fortes críticas de organismos internacionais, preocupados com a ameaça à estabilidade da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro endureceu a retórica e avisou: “Ninguém deve meter os narizes nos assuntos venezuelanos”. Em discurso na cidade de Maturín, no estado de Monagas, ele prometeu apresentar as evidência do plano de um “atentado golpista”. “Nós temos uma democracia plena, à prova de tudo. A essa direita internacional, eu lhes digo, e espero que a mensagem chegue bem clara: ‘Ocupem- se dos assuntos de seu país’”, declarou o presidente, que contou com o apoio dos colegas José “Pepe” Mujica (Uruguai) e Evo Morales (Bolívia). O colombiano Juan Manuel Santos colocou- se à disposição para atuar como mediador entre o Palácio de Miraflores e a oposição. Ele lembrou que a troica formada pelos chanceleres de Brasília, Quito e Bogotá está pronta a ajudar no processo. “O futuro somente pode ser construído se ambas as partes dialogarem; caso contrário, será muito difícil encontrar uma saída para os problemas da Venezuela” alertou. Durante visita a Montevidéu, Morales denunciou uma tentativa de golpe orquestrada por Washington. “É uma conspiração dos Estados Unidos”, garantiu. “Ouvimos as palavras do secretário de Estado (John Kerry) sobre sanções econômicas, convertidas em uma tentativa de golpe de Estado, e vamos defender a democracia na América Latina.” Mujica teme um complô de militares socialistas em Caracas. “Com isso, a defesa democrática se vai ao c.... Seria um gravíssimo erro se abandonarem a Constituição”, disse ao jornal local El País. Na quarta-feira, o Congresso brasileiro aprovou moção de repúdio ao governo de Maduro e autorizou o envio de uma comitiva de senadores à capital venezuelana. O Correio apurou que a manobra do Legislativo não causou mal-estar no Itamaraty. Uma fonte da chancelaria lembrou que a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado é um poder independente. Segundo ela, os parlamentares possuem mecanismos próprios de diálogo, como o Parlamento do Mercosul (Parlasul). O formato de uma comissão da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) deve ser discutido à margem da posse do presidente eleito do Uruguai, Tabaré Vázquez, no domingo. A pressão sobre Maduro se intensificou, com demonstrações de preocupação por parte de entidades como a Anistia Internacional (AI), a Human Rights Watch (HRW — leia Três perguntas para) e a Organização das Nações Unidas (ONU). A AI lamentou a “trágica morte” de Kluiverth Roa — estudante de 14 anos baleado pela polícia em San Cristóbal (Táchira) — e advertiu que a violência vai se intensificar, “caso as autoridades não enviem uma clara mensagem de que não se tolerará o uso excessivo da força”. A HRW cobrou posição mais incisiva da Unasul. “Ao guardar silêncio sobre os abusos cometidos na Venezuela, os membros da Unasul estão se distanciando de seus princípios orientadores”, afirma a nota. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mostrou apreensão com “os novos relatos de violência e a perda de vidas” no país e saudou a iniciativa da Unasul.

Prefeito

Prefeito Às 19h de ontem (17h30 em Caracas), Mizty de Ledezma atendeu ao telefonema do Correio, quando acabava de sair da prisão militar de Ramo Verde, onde visitou o marido — o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, detido em 19 de fevereiro por suposto envolvimento na conspiração contra Maduro. “Ele está sereno, com todas as coisas elementares de que pode dispor, como comida… Está muito sereno e convencido de que fez o que precisava fazer: seguir lutando”, relatou à reportagem. “Antonio pediu que todos mantenhamos a unidade. Disse-me que, hoje, mais do que nunca, unidos, poderemos lutar contra o governo antidemocrático. Ele deseja que a oposição fique firme, nas ruas.” De acordo com Mizty, as autoridades de Ramo Verde, a 30km da capital, se responsabilizaram pela vida do prefeito. O presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Diosdado Cabello, divulgou que Ledezma fez ligações para Carlos Manuel Osuna Saraco, suspeito de financiar o complô para derrubar Maduro. Os telefonemas teriam sido realizados para um número internacional, proveniente dos EUA e pertencente ao general de brigada Eduardo Báez Torrealba e a Saraco. “As evidências são notórias. As provas são extremamente claras”, disse Cabello. Omar Estacio, advogado de Ledezma, falou ao Correio por telefone e rebateu o chefe do Legislativo. “A denúncia se baseia em dados falsos, em provas irregulares e em conclusões jurídicas inválidas. Pretende-se imputar a Antonio Ledezma um crime que não existiu.” De acordo com o defensor, as provas foram “manipuladas e contaminadas”. “Os delitos não se ajustam aos artigos 132 do Código Penal e 37 da Lei contra a Delinquência Organizada. Nós conhecemos a debilidade do sistema judicial venezuelano, mas vamos esgotar todos os recursos”, prometeu Estacio.