A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira, 20, em sua primeira entrevista à imprensa após assumir o segundo mandato, que a corrupção na Petrobrás já ocorria durante o governo Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990, mas foi ignorada. 

“Se em 1996 e 1997 tivessem investigado e tivessem, naquele momento, punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobrás que ficou durante mais de dez anos, quase 20 anos, praticando atos de corrupção”, afirmou Dilma, referindo-se à gestão FHC como o início da corrupção na empresa. E emendou: “A impunidade leva água para o moinho da corrupção”. 

Em sua declaração, a presidente se referiu ao ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco, que em seu depoimento de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato afirmou que em dez anos, entre 2003 e 2013, o PT arrecadou até US$ 200 milhões em propinas por meio do esquema de corrupção e cartel na estatal. Segundo ele, os desvios ocorreram em ao menos 90 contratos da Petrobrás nesse período. Ele afirmou que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, arrecadou o valor em propinas para o partido a partir de porcentagens cobradas de 1% a 2% do valor de contratos.

 

 

Presidente Dilma Rousseff diz que não se pode impedir investigação contra empreiteiras

Presidente Dilma Rousseff diz que não se pode impedir investigação contra empreiteiras

Dilma fez questão de ressaltar que “não é que antes não existisse (corrupção), mas é que antes não tinha sido investigado e descoberto porque quando você investiga, descobre a raiz das questões, e quando surgem as raízes você impede que aquilo se repita e seja continuado”. 

Para a presidente, “hoje foi dado um passo no Brasil”, em que tudo está sendo investigado. “Atualmente, não tem engavetador da República, não tem controle sobre a Polícia Federal e não nomeamos pessoas políticas para os cargos da PF. Isso significa que junto com o Ministério Público e todos os órgãos do Judiciário está havendo um processo de investigação como nunca foi feito antes”, prosseguiu a presidente. 

Sem citar diretamente a polêmica envolvendo a audiência de advogados da Odebrecht, que está na mira da Lava Jato, com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo - além de um encontro do ministro com o advogado da UTC -, Dilma afirmou que seu governo está fazendo “tudo dentro da legalidade”. 

‘Doa a quem doer’. Ao ser questionada como avaliava a relação do governo com as empresas para tentar evitar que elas quebrem por conta dos problemas nos contratos da Petrobrás, a presidente considerou que é preciso levar em conta a importância das companhias para a geração de empregos. Destacou, no entanto, que isso não pode impedir as investigações. 

“As empresas, os donos das empresas e os acionistas serão investigados. Porque a empresa não é um ente que esteja desvinculado dos seus acionistas. Agora, o que o governo fará é tudo dentro da legalidade”, afirmou a presidente ao fim da cerimônia com embaixadores, no Palácio do Planalto. 

Dilma destacou que o governo não vai ser “conivente” com irregularidades. “Nós iremos tratar as empresas tentando principalmente considerar que é necessário criar emprego e gerar renda no Brasil. Isso não significa de maneira alguma ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que seja”, disse. “Doa a quem doer.” 

Dilma ainda destacou ser necessário distinguir a ação da Petrobrás e a ação daqueles que praticaram malfeitos contra a estatal. “Eu não vou tratar a Petrobrás como a Petrobrás tendo praticado malfeitos. Quem praticou malfeitos foram funcionários da Petrobrás, que vão ter de pagar por isso. Quem cometeu malfeitos, que participou de atos de corrupção, vai ter de responder por eles”, disse. 

A presidente comentou que sempre houve corrupção no País, mas o que há de diferente, agora, é que existe “um processo de investigação como nunca foi feito antes”. Para ela, isso é um passo importante dado no Brasil, “que temos de olhar e valorizar”, completou.