Título: Violência ronda o DF
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Fonte: Correio Braziliense, 15/07/2011, Opinião, p. 14

Visão do Correio ::

A explosão da violência no Entorno instala o medo e cria clima de insegurança no Distrito Federal. Em municípios que cercam a capital, a média de homicídios é superior à registrada em países em guerra. Valparaíso, por exemplo, chora a morte de um cidadão a cada três dias. Foram 56 vidas no primeiro semestre deste ano ¿ aumento de 16% em relação ao mesmo período de 2010.

A apreensão não se restringe à escalada dos números. Levantamento da Secretaria de Segurança Pública de Goiás traz à luz dado mais assustador: crescem as ocorrências de crimes graves. Entre eles, estupros, assassinatos e tentativas de homicídios. Luziânia, Planaltina, Formosa e Novo Gama concentram a maior parte dos casos. Pior: a deterioração do quadro ocorre apesar da presença da Força Nacional de Segurança.

Não é a primeira vez que militares federais atuam no Entorno. Há menos de dois anos ¿ entre outubro de 2007 e outubro de 2009 ¿ a tropa esteve na região. O resultado foi inexpressivo. O mesmo ocorre agora. Atendendo a apelo do governador Marconi Perillo, incapaz de frear a violência crescente, os homens voltaram. O resultado não foi melhor. O saldo desalentador não significa que eles devam partir. Significa que a repressão não é suficiente. Outras medidas se impõem para o retorno da paz e da tranquilidade.

A barbárie não nasce do nada. É a resposta à carência de condições dignas de sobrevivência na área. O Entorno vive a realidade do filho feio que nenhum pai quer assumir. Situadas nos limites do Distrito Federal, as cidades não recebem investimentos do estado de origem. O índice de desenvolvimento humano é baixo. Ali se conjuga o verbo faltar. Falta iluminação, saneamento, asfalto. Faltam hospitais e escolas. Falta moradia, trabalho, transporte público. Faltam delegacias e recursos humanos qualificados.

Não é por acaso que mais de 10 mil investigações de assassinato aguardam solução. Sem atacar as causas que se associam para chegar às estatísticas assustadoras, iniciativas pontuais pouco ou nada resolverão. Os estados precisam integrar o Entorno. Mantê-lo à margem das conquistas da civilização tem preço alto. Pagam-no a população de lá e de cá. Além da violência que ceifa vidas e rouba a paz, o equipamento urbano se sobrecarrega com as urgências dos vizinhos. Encontrar saídas para o problema pressupõe aglutinação de forças. A União e o Distrito Federal precisam se aliar a Goiás na busca por soluções eficazes.