A Petrobras perdeu ontem R$ 14 bilhões em valor de mercado, sendo duramente punida pelos investidores pelo fato de ter divulgado o balanço do terceiro trimestre sem incluir, como era esperado, as perdas relativas à corrupção que vem sendo investigada pela Operação Lava Jato. A queda no valor das ações superou os 10%.

O balanço deveria ter sido divulgado em novembro, mas foi adiado por causa de perdas provocadas pela corrupção. A estatal até divulgou ontem uma estimativa de que seus ativos estão inflados em R$ 88,6 bilhões -mas não conseguiu estabelecer quanto disso é resultado direto de atos como superfaturamento em obras ou desvios para partidos políticos. Por outro lado, estimou também que há R$ 27,2 bilhões em ativos subavaliados. O rombo potencial é, portanto, de R$ 61,4 bilhões.

Sem consenso entre os integrantes do conselho de administração, que se reuniu na terça-feira por mais de dez horas, a estatal decidiu divulgar um balanço que tem pouca relevância para o mercado, já que não incluiu as baixas contábeis e continua sem a assinatura de uma auditoria.

Sua divulgação, mesmo com todas as restrições, entretanto, era necessária para que a estatal se livrasse do risco de ter de pagar adiantado dívidas que estão por vencer. Em acordos fechados com credores, a empresa havia se comprometido a divulgar um balanço financeiro até o fim deste mês, sob o risco de ter de antecipar pagamentos estimados em pelo menos US$ 800 milhões. O balanço divulgado no meio da madrugada de ontem mostra um lucro líquido de RS 3,1 bilhões, queda de 38% em relação ao segundo trimestre de 2014 e de 9% em relação ao terceiro trimestre de 2013.

Método. O cálculo de perda com a corrupção apresentado ao conselho de administração foi realizado por consultorias independentes. Segundo fontes, a diretoria da empresa não apresentou nenhum número para não ser acusada de influenciar nos resultados.

As consultorias utilizaram dois métodos para calcular as perdas. No primeiro, a conclusão foi de um prejuízo de R$ 4 bilhões. No outro, de R$ 88,6 bilhões. Diante da disparidade, os conselheiros e mesmo os consultores concordaram que as duas estimativas ainda não condizem com a realidade. Mas não houve um consenso sobre qual método expressa melhor o rombo no patrimônio.

A primeira projeção considera o pagamento de propina de 3% a ex-funcionários, compensado em superfaturamento de projetos – ou seja, seria a perda direta com corrupção. A segunda foi calculada pelo método de fluxo de caixa descontado, que considera os valores do ativo no momento da aquisição, os ganhos decorrentes da operação e desconta o desgaste dos equipamentos. Nesse caso, não é apenas o rombo com a corrupção que aparece. Esse método é usado para calcular se os números do mercado condizem com o valor de mercado.

Segundo fontes, as consultorias utilizaram uma taxa de 12% de depreciação pelo desgaste dos equipamentos. Mas, usualmente, a Petrobras utiliza 6,5% em seus balanços. Por causa dessa diferença, os consultores admitiram que os valores podem estar superdimensionados e se comprometeram a discutir mudanças no cálculo, caso o método de fluxo de caixa descontado seja o eleito como o melhor para mensurar o sobrepreço dos ativos.

O conselho de administração da Petrobras volta a se reunir no dia 6 de fevereiro. Mas a expectativa é de que, dessa vez, o cálculo do sobrepreço esteja fora da pauta. A decisão foi que técnicos da estatal e das consultorias vão se reunir nos próximos dias para chegar a um acordo sobre o melhor método de cálculo. A expectativa, no entanto, é que o trabalho dure mais do que dez dias. Por isso, o tema não está previsto para o próximo encontro dos conselheiros.