Em uma situação descrita como “desesperadora” por analistas e investidores, a Petrobrás teve sua nota de crédito rebaixada ontem pela agência internacional de classificação de risco Moody’s. Foi o terceiro rebaixamento da estatal nos últimos quatro meses e a agência ainda alertou que uma nova revisão negativa pode acontecer no curto prazo – o que significaria a perda do grau de investimento, o que restringiria o acesso e pioraria as condições de crédito da empresa no mercado internacional. A corrupção e a falta de clareza da real situação financeira da companhia pesaram sobre a avaliação da agência. A avaliação provocou novo tombo das ações da companhia. As preferenciais (PN) caíram 6,51%, fechando cotadas a R$ 8,18, o menor valor desde maio de 2005. Já as ordinárias tiveram queda de 5,08%, fechando a R$ 8,04, menor cotação desde agosto de 2004.

 
No comunicado, a Moody’s alerta para a possibilidade de que os credores da companhia iniciem ações judiciais para antecipar a cobrança de dívidas, diante do atraso na publicação auditada – e crível – das informações financeiras trimestrais da companhia. Essa atitude afetaria diretamente a liquidez da companhia,em um momento já delicado para a Petrobrás. “O que nós estamos medindo é a possibilidade de default. Se ela aumenta, o risco aumenta e a nota diminuiu”, explica Nymia Almeida, analista para América Latina da Moody’s. ‘A cada dia que passa o cenário menos provável vai se tornando mais provável.” O fundo abutre Aurelius, dos Estados Unidos, considera que a estatal já quebrou compromissos e busca investidores para uma ação coletiva. 
 
Em uma teleconferência na quinta-feira, o diretor - financeiro da estatal, Almir Barbassa, avaliou que o balanço divulgado na madrugada de quarta - feira atende aos compromissos e que outras análises são “opiniões”. Pelo peso de seus investimentos para o País, a perda de grau de investimento da estatal poderia influenciar, também, a avaliação do risco soberano do Brasil, agravando a situação da economia. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse, porém, que “não trabalha” com essa possibilidade. “Tudo está público. No relatório estão bastante explicadas as ações que a Petrobrás está realizando.”
 
Clareza.A Moody’s, por sua vez, vê “incertezas”quanto à capacidade da empresa de honrar seus compromissos, e cobrou “clareza” e um anúncio público sobre a metodologia que será adotada para registrar as perdas com a corrupção.No último balanço, as estimativas variaram de R$ 4 bilhões a R$ 88,6 bilhões em valores inflados de ativos, decorrentes também de outros fatores como ineficiência e deficiência de projetos. “O principal não está sendo resolvido, que é entregar as demonstrações financeiras auditadas”, avalia Nymia. 
 
A analista acredita em “uma vontade alta” do governo em socorrer a estatal, caso suas finanças piorem, mas questiona as condições. A indefinição da companhia sobre o tema e o rebaixamento de sua nota podem ampliar pressão política para uma possível alteração na diretoria da Petrobrás. A avaliação é de um analista de banco estrangeiro, que pediu anonimato. “Para reconhecer efetivamente as perdas, deveria tirar a diretoria atual. Com a vinda de uma diretoria mais isenta, esse reconhecimento tende a ser mais fácil”, explicou.