A economia formal fechou vagas pelo segundo mês consecutivo neste ano em fevereiro. Foram 2,4 mil demissões líquidas, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), depois de 78,3 mil cortes no mês anterior. Com as baixas – que somam 47 mil vagas a menos no acumulado em 12 meses -, o volume de empregos com carteira assinada no país, de 41,125 milhões, já é inferior ao registrado no mesmo intervalo do ano passado – algo inédito em um mês de fevereiro pelo menos desde 2002.

Os setores que mais têm demitido neste início de ano são o comércio, que conta 30,4 mil postos a menos apenas em fevereiro, e a construção civil, que fechou 25,8 mil empregos no mês passado. A indústria gerou 2 mil vagas no período, mas seguiu demitindo em segmentos de alto valor agregado, especialmente aqueles ligados ao setor automotivo.

Os serviços, por sua vez, continuam no processo forte de desaceleração das contratações observado desde o segundo semestre do ano passado. O setor abriu 52,3 mil vagas em fevereiro, quase um terço do saldo apurado no mesmo mês de 2014, de 143,3 mil. O saldo negativo de fevereiro foi o pior desde 1999, quando foram cortados 78 mil empregos.

No mês passado, além de sentir os “efeitos do PIB zero de 2014″, o comércio foi prejudicado pelo Carnaval, quando geralmente se postergam as contratações no segmento, afirma Fabio Romão, da LCA Consultores. “Mas o consumo está sendo cada vez mais prejudicado pela inflação alta, pelo comprometimento maior da renda das famílias e pela queda na confiança”, acrescenta.

O economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, lembra que os efeitos do ajuste fiscal em curso desde o início do ano ainda não se manifestaram na renda. Em janeiro, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ela aumentou 1,7% em termos reais. Nesse sentido, a situação do setor – que surpreendeu ao cortar 128 mil empregos no começo deste ano – pode ficar ainda mais delicada. Para ele, os dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram nos últimos meses uma deterioração rápida das condições do mercado de trabalho.

A adição de 2 mil empregos na indústria em fevereiro – e de 27 mil em janeiro -, diz Gonçalves, não indica uma retomada de contratações no setor. “A indústria ajusta um pouco a curva, mas o cenário ainda é negativo”, pondera.

O saldo positivo, ressalta Romão, da LCA, foi puxado pela adição de 5,4 mil vagas no segmento calçadista, que pode estar se beneficiando da redução das importações que até meados do ano passado abasteciam parte do mercado doméstico. Os ramos que fabricam produtos de maior valor agregado, ressalta, continuaram demitindo em fevereiro – metalúrgica (-1,2 mil), mecânica (1,2 mil) e material de transporte (-4,6 mil).

De acordo com as projeções da LCA para 2015, a indústria deve fechar o ano com 160 mil vagas a menos, depois de perder 185 mil empregos em 2014, levando em conta a série que adiciona apenas as informações enviadas dentro do prazo legal ao ministério.

Dessazonalizado pela consultoria, o resultado de ontem representa na verdade uma redução de 80 mil postos, resultado ainda pior do que janeiro, quando, também excluídos os efeitos sazonais, a economia formal fechou 70,2 mil empregos. A LCA ajustou a projeção de geração de vagas para o ano de alta de 25 mil postos para fechamento de 29 mil, também levando em conta a série sem ajuste.

Os serviços foram beneficiados pelas contratações sazonais no segmento de ensino, responsável por 38,2 mil postos do saldo de 52,3 mil vagas registrado em fevereiro. Ainda assim, o segmento perde tração desde o segundo semestre do ano passado. Entre fevereiro de 2014 e o mês passado, o saldo de vagas acumulado em 12 meses caiu de 592,3 mil para 324,5 mil.

Para o ministro do Trabalho, Manoel Dias, o saldo negativo de fevereiro é, diante das 80 mil demissões líquidas de janeiro, uma sinalização de “estabilidade” no mercado de trabalho. “A maior perda [de emprego em fevereiro] foi na construção e no comércio, mas nós tivemos recuperação do setor de serviços e indústria, que vinha desde março do ano passado com fechamento de vagas”, afirmou. Dias disse esperar que a construção civil retome as contratações nos próximos meses devido, por exemplo, à execução de políticas de governo que permitem a construção de moradias para a população de menor renda.

Ele lembrou que o orçamento do FGTS para habitação neste ano é de R$ 56 bilhões. Desse total, R$ 8,7 bilhões já foram contratados até 17 de março. Segundo ele, o montante viabiliza a construção de 99 mil unidades habitacionais para a baixa renda, o que deve representar a criação de 285 mil postos de trabalho. “Na construção civil, se espera que tenha recuperação na medida que começar novos contratos sejam feitos”, destacou.

 

 

Deterioração é rápida e disseminada no mercado

 

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram uma disseminação do desemprego entre as regiões e os setores, com poucas e sazonais exceções. Surpreende a velocidade do ajuste. Há um ano, em fevereiro, o país havia criado 1,1 milhão de novas vagas no acumulado em 12 meses. Esse número caiu ao longo do ano passado, mas ainda encerrou 2014 com a criação de 396 mil empregos. Passados apenas dois meses, o saldo já veio para o terreno negativo. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, foram eliminados 47 mil empregos. 

É um quadro de deterioração bastante rápida, e as perspectivas não são boas. Em fevereiro do ano passado ainda foram abertas 260 mil vagas, com saldos positivos em todos os oito setores. Neste fevereiro, foram fechadas 2,4 mil vagas, com saldo negativo em cinco setores. Salvaram-se a indústria (mas com apenas 2 mil vagas novas, desempenho muito inferior aos 52 mil novos empregos de fevereiro do ano passado), serviços, com saldo positivo de 52 mil vagas (também menos que os 143 mil de fevereiro de 2014) e administração pública (10 mil empregos novos). 

Regionalmente, o Nordeste teve o maior número de demissões: 27,5 mil vagas fechadas. O número do mês só não foi pior porque no Sul e no Centro-Oeste foram criados empregos. Pelo tamanho, pela velocidade e pela dispersão entre os setores, o quadro de demissões desenhado pelo Caged confirma a deterioração crescente do mercado de trabalho e a perda de uma das bandeiras do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Até 2014, apesar dos pesares, o país criava empregos. Em 2015, a história mudou.

 

Analistas preveem recuo do IPCA-15 no mês, mas índice vai a 7,9% no acumulado do ano

 

A saída do impacto dos reajustes em educação deu um pequeno e pontual alívio à inflação na primeira quinzena de março, mas os preços devem ter seguido pressionados pelo aumento de tarifas públicas. A estimativa média de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) subiu 1,23% neste mês, pouco abaixo da alta de 1,33% registrada em fevereiro. 

As projeções para a prévia da inflação oficial, a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de avanço de 1,10% até 1,38%. Como, em igual mês do ano passado, a alta do indicador foi bem menor, de 0,72%, a inflação em 12 meses deve ter continuado em trajetória de ascensão. A previsão média dos analistas consultados indica que o IPCA-15 chegou a 7,9% nos 12 meses encerrados em março, maior taxa nessa comparação desde maio de 2005. Naquele período, o índice acumulava aumento de 8,19%. 

Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, diz que a ligeira descompressão prevista para o IPCA-15, que cedeu para 1,29% em março, só ocorreu devido a questões metodológicas. Ao contrário de outros itens pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as correções de mensalidades escolares são incluídas nos índices de preços de uma vez só, e não ao longo de todo o mês, e, depois de se concentrarem em fevereiro, saem totalmente dos indicadores. Por isso, Leal projeta que o grupo educação avançou apenas 0,5% na prévia atual, após ter saltado 5,98% no dado anterior. 

A parte de despesas pessoais também deve ter perdido fôlego, acrescenta Leonardo França, da Rosenberg & Associados, com o fim dos efeitos relacionados à elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de cigarros. Em suas estimativas, a alta de despesas pessoais diminuiu de 1,22% para 0,38%, e o IPCA-15 registrou alta de 1,27%. 

Os demais grandes grupos que compõem a inflação, por outro lado, devem ter caminhado em sentido contrário, ou ficado praticamente estáveis, ainda influenciados, em sua maioria, pelo "realismo tarifário" adotado pela nova equipe econômica. 

Os transportes, por exemplo, desaceleraram pouco, prevê o economista, de 1,98% para 1,90%. Nesse segmento, a saída dos reajustes de transporte público foi quase totalmente compensada pelo aumento de impostos sobre combustíveis, que passou a valer no início de fevereiro. Segundo Leal, a gasolina subiu 6,8% em março. 

A maior pressão sobre o indicador, no entanto, deve vir das tarifas de energia elétrica, que podem encerrar o ano cerca de 50% mais caras. Em março, pesaram sobre os custos com eletricidade o aumento da bandeira vermelha, que subiu de R$ 3 para R$ 5,50 a cada 100 quilowatts-hora, e as revisões tarifárias extraordinárias autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para as distribuidoras. 

Para França, as contas de luz avançaram de 7,7% para 12,5%, o que levou a inflação dos administrados a aumentar de 2,76% para 3,19% na passagem mensal. Ao fim do mês, a alta das tarifas de energia deve alcançar 18%, estima ele, mas os preços administrados devem se manter em nível parecido, porque o reajuste da gasolina vai perder força. 

Além das tarifas administradas, outro grupo de peso na inflação que deve ter registrado aceleração na prévia de março é a parte de alimentação e bebidas. Nos cálculos da Rosenberg, os alimentos deixaram alta de 0,85% no mês passado e, agora, subiram 1,05%. Os tubérculos e cereais, que haviam pressionado o índice em fevereiro, já estão perdendo fôlego, diz França. Em compensação, aves e ovos saíram do campo deflacionário e hortaliças e frutas estão pressionando mais. 

Leal, do ABC, tem projeção igual para a inflação de alimentos nesta prévia, mas observa que o grupo já deve refletir a escalada da moeda americana, por meio dos derivados de trigo. Por enquanto, diz o economista, esse vai ser o único segmento da inflação ao consumidor afetado pelo câmbio. "Como a economia está muito ruim, é difícil que haja um repasse grande do câmbio para os preços." 

Na avaliação do economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, a transmissão defasada da desvalorização do real para os índices ao consumidor vai limitar a redução das taxas mensais do IPCA no segundo trimestre. Em março, Velho calcula que o IPCA-15 cedeu para 1,1%, mas, ao fim do mês, a inflação oficial deve superar 1,3%, devido ao encarecimento da eletricidade e dos alimentos. (Arícia Martins - Valor Online)

 

Ministério pretende medir impacto da Lava-Jato na redução do emprego formal

 

 O ministro do Trabalho, Manoel Dias, anunciou ontem que o governo está tentando medir o impacto da Lava-Jato na redução do número de vagas com carteira assinada no país e avaliar como a Petrobras pode fazer uma reserva de caixa para pagamento de dívidas trabalhistas. A construção civil, que sofre com o menor ritmo de execução de obras desde a deflagração da operação, tem perdido vagas de maneira significativa neste início de ano. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor fechou 33,3 mil postos em janeiro e fevereiro.

"Neste primeiro momento, a questão da Lava-Jato influenciou em redução de emprego. A Petrobras pediu que procuremos os sindicatos, para ver o alcance que teve", frisou Dias. Ele ressaltou que as demissões no setor de petróleo influenciaram o desempenho do Rio de Janeiro, que liderou a lista de cortes. O Estado fechou 11,1 mil vagas em fevereiro e foi seguido por Pernambuco (-10,6 mil), Bahia (-6,8 mil), Rio do Grande do Norte (-4 mil), Espírito Santo (-3 mil) e Maranhão (-2,3 mil).

O ritmo de demissões na construção civil tem surpreendido economistas que acompanham o mercado de trabalho. No ano passado, o setor já teve um desempenho bastante negativo, ressalta José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, com o fechamento de 145,3 mil empregos com carteira, de acordo com a série sem ajuste.

Em fevereiro, foram 25,8 mil postos a menos; se incluído janeiro, as perdas sobem para 33,3 mil. Parte dessa piora, afirma o economista, pode estar relacionada à Operação Lava-Jato, que tem afetado o caixa e os negócios das maiores empresas do setor.

Fabio Romão, da LCA Consultores, acrescenta a perda de fôlego nas vendas de novos imóveis, decorrente, por sua vez, da desaceleração da alta dos salários e do maior comprometimento da renda das famílias, e a dinâmica típica dos períodos pós-eleições - já que nos meses anteriores ao pleito o governo geralmente gasta mais com investimentos em infraestutura. Segundo o economista, o cenário para o setor nos próximos meses, ao contrário das expectativas do ministro do Trabalho, deve incluir novas demissões. A projeção de queda para o PIB da indústria neste ano, ressalta Romão, é ainda pior do que para o ano passado. Em 2015, o indicador deve cair 7,1%, de acordo com as contas da LCA, contra retração de 5,2% prevista para o ano passado.

 

OCDE reduz projeção para PIB do Brasil

 

O Brasil sofreu o maior rebaixamento na projeção do PIB entre grandes economias, enquanto a Índia é apontada como o país que vai crescer mais que a China nos próximos dois anos, em estudo divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

A entidade projeta contração de 0,5% na economia brasileira este ano. A previsão anterior, de novembro, era de crescimento de 1,5%. O aperto fiscal e monetário e a crescente incerteza política são os limitadores do país, diz a OCDE. 

Para 2016, a OCDE projeta a volta do crescimento no Brasil, com taxa de 1,2%, mas em baixa de ¬0,8% em relação ao projetado em novembro. Segundo a entidade, as perspectivas de crescimento de médio prazo pioraram desde novembro de 2014 nos exportadores de commodities. 

A China está desacelerando gradualmente para a taxa oficial de cerca de 7%. A economia indiana deve ter a melhor performance, com expansão de 7,7% este ano, superando a China. A recuperação continua nos EUA, com 3,1% de alta do PIB.