O governo corre para evitar que o rebaixamento da nota de crédito da Petrobras para grau especulativo também implique a perda do selo de bom pagador do Brasil. Para isso, a equipe econômica prepara um novo pacote de medidas para conter gastos, elevar receitas e convencer as agências de classificação de risco de que o país ainda é atrativo para investimentos e tem condições de honrar os compromissos assumidos com o mercado. Como o próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já sinalizou, o contribuinte sentirá o peso das medidas no bolso. Parte do ajuste será feito por meio de aumento de tributos e encarecerá produtos e serviços. 

As medidas serão anunciadas nos próximos dias para evitar que a decisão da Moody’s de rebaixar em dois níveis a nota da Petrobras, de Baa3 para Ba2, tenha peso determinante quando os analistas estudarem os números do país. Mesmo com todos as dificuldades que enfrenta, a estatal ainda é a maior empresa brasileira, respondendo, sozinha, por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Ontem, a presidente Dilma Rousseff tentou minimizar o problema. Em entrevista após entregar unidades do Minha Casa Minha Vida em Feira de Santana (BA), ela disse que não vê risco de o rebaixamento da Petrobras contagiar o rating do Brasil.

A demora da Petrobras em tomar medidas para publicar o balanço do terceiro trimestre de 2014, com o parecer de auditores independentes, tornou o cenário ainda pior para a companhia. Por isso, a Moody’s sinalizou ontem que a nova classificação da estatal será mantida a médio prazo, mesmo que ela cumpra as metas de investimento e produção de 2015.

Na noite de ontem, quase 24 horas depois do anúncio do rebaixamento, a companhia divulgou nota em que afirma trabalhar para divulgar o mais brevemente possível os resultados financeiros de 2014. A estatal ressaltou ainda que está agindo para preservar o caixa, reduzir a necessidade de tomar recursos no mercado e diminuir seu plano de investimentos, que prevê a aplicação de US$ 220 bilhões até 2018. Por fim, informa que o corte da avaliação de risco não implica vencimento antecipado de dívidas. 

Para o BTG Pactual, a falta de uma ação mas decisiva da petroleira aumenta a possibilidade de que a Fitch, outra grande agência internacional, também reduza a nota de crédito da estatal para grau especulativo. Em relatório, o banco comentou que, se isso ocorrer, a Petrobras perderá a capacidade de refinanciar dívidas no mercado, o que tornaria necessária uma grande capitalização, provavelmente com dinheiro público, para manter a companhia à tona. Publicamente, o governo tem descartado essa possibilidade. No começo do mês, a Fitch já havia rebaixado o rating da empresa de BBB para BBB-, ainda na faixa considerada de investimento. 

O Itaú Unibanco também avalia que a Fitch deve reduzir a nota de crédito da Petrobras. Caso isso aconteça, muitos fundos estrangeiros serão obrigados a desovar no mercado bônus de dívidas e ações da companhia, que teriam perdas ainda maiores. A maioria dos investidores institucionais é proibida de manter na carteira papéis de empresas classificadas em grau especulativo por mais de uma agência de risco. 

No mercado, a expectativa de piora é crescente, como mostram os preços dos Credit Default Swaps (CDS), que são uma espécie de seguro contra calotes a que os investidores recorrem para prevenir perdas. Ontem, o CDS da Petrobras era cotado a 571 pontos, o que representa um risco de inadimplência de 33%. Há um mês, ele estava em 450 pontos. 

Em nota, o analista de crédito soberano da Moody’s para o Brasil Mauro Leos informou que selo atual de bom pagador do país leva em conta vários cenários — entre eles a possibilidade de o governo ter que fazer um aporte na Petrobras. Ele ressaltou, porém, que o grau investimento só será mantido se um eventual socorro financeiro à estatal não levar a dívida pública bruta a ultrapassar 70% do PIB. O endividamento está em trajetória de alta e já alcança 63,4%. 

Na opinião do economista chefe da Itaim Asset, Ivo Chermont, as medidas tomadas pela Petrobras nos próximos meses serão determinantes para avaliação na nota de crédito do país pelas agências. O Brasil, acrescentou, pode cair para o grau especulativo também se o ajuste fiscal não sair do papel. 

A economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galanto/MBB, considerou que o rebaixamento da Petrobras era inevitável dada a crise que a empresa atravessa. Na avaliação dela, as demais agências deverão fazer o mesmo em relação à estatal, mas ainda devem aguardar para decidir sobre as notas de risco dos títulos do governo brasileiro. “É evidente que, se a situação da Petrobras se agravar, o impacto será direto na avaliação do Brasil”, afirmou.