A mais recente pesquisa de opinião do instituto MDA, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgada ontem, foi uma coletânea de notícias negativas para a presidente Dilma Rousseff. Não apenas reafirmou a queda acelerada de sua popularidade, mas apurou que 59,7% dos entrevistados são a favor de seu impeachment. A confiança na presidente caiu: o eleitorado está cético em relação à eficácia das respostas que o governo federal vem dando às crises política e econômica e de combate à corrupção, o que indica a dificuldade que Dilma enfrentará para recuperar seu capital político. Os dados da pesquisa mostram que grande parcela da população já sente os efeitos negativos da desaceleração econômica e da inflação. Também responsabiliza a própria Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelas irregularidades flagradas na Petrobras. Parte dos entrevistados pelo instituto que votaram em Dilma no segundo turno da eleição de outubro demonstra estar arrependida. Se a eleição presidencial fosse hoje, apurou o MDA, 55,7% votariam no senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno e apenas 16,6% votariam em Dilma. Os votos em branco ou nulos somariam 22,3%. Como resultado, segundo a sondagem, a avaliação positiva do governo caiu para 10,8% em março na comparação com setembro do ano passado, às vésperas da eleição, quando estava no patamar de 41,01%. Já a aprovação pessoal da presidente variou de 55,6% para 18,9% no período. Atualmente, o índice de desaprovação é de 77,7%, ante 40,1% em setembro. Para o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), a queda na popularidade da presidente se deve a uma "lavagem cerebral midiática". Ele afirmou que o governo recuperará a credibilidade com diálogo. "Ocorreu uma supervalorização pela mídia das manifestações contra o governo. Tinha mais de 40 mil professores na avenida Paulista e não vi uma linha nos jornais. Só noticiam quando é contra o governo", disse o petista. O cenário que se apresenta a Dilma, porém, é desafiador. De acordo com a pesquisa CNT/MDA, 66,9% dos entrevistados acreditam que as medidas tomadas pelo governo Dilma não serão capazes de reverter a crise que o país enfrenta. Além disso, entre os que confiam nas ações do governo, 51% consideram que os problemas só serão solucionados daqui a três ou quatro anos. Para 82,9%, a presidente não está sabendo lidar com a crise econômica. E aproximadamente metade dos entrevistados disse que a situação política e econômica vai piorar até o fim de 2018. Dilma precisa agir rápido para estancar essa percepção, num momento em que não deve ter folga dos protestos de rua, 81% dos entrevistados pelo MDA disseram que ela não cumpre suas promessas de campanha e parte considerável da população está cética em relação à reação de sua administração. Caso contrário, mesmo que a ideia não tenha prosperado no Congresso e na Justiça, a presidente pode ver a demanda por seu impeachment aumentar. Ao comentar a pesquisa desfavorável a Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apontou uma confusão com o sentido do termo impeachment. "Não podemos tratar impeachment como recurso eleitoral. Está se vulgarizando o termo, caiu na boca do povo. Por isso, as pessoas respondem sem conhecer o significado", disse Cunha, que mais uma vez reiterou não existir fato determinado que leve ao afastamento da presidente para que seja investigada. A mesa diretora da Câmara é a responsável pelo início da tramitação de um pedido de impeachment. A pesquisa mostrou que 85% dos entrevistados acompanharam ou ouviram falar sobre as denúncias de corrupção na Petrobras. Entre esses, 68,9% consideram a presidente Dilma Rousseff culpada pelas irregularidades, frente 67,9% que responsabilizam o ex-presidente Lula. Mas a minoria disse acreditar que os envolvidos serão punidos. Entre os entrevistados que acompanham o escândalo, 57,4% não acreditam que o governo federal será capaz de combater a corrupção na estatal. Entre aqueles que acreditam que o governo conseguirá combater a corrupção na Petrobras, 6,4% acreditam que será combatido totalmente. Presidente do PSDB e candidato derrotado por Dilma, Aécio Neves avaliou que os equívocos cometidos na condução da economia, cuja real situação não teria sido colocada às claras aos eleitores durante a disputa eleitoral, resultaram na perda de credibilidade de Dilma. "A pesquisa é clara ao apontar a perda de credibilidade da presidente da República", destacou o senador. "Ela e o seu partido falharam ao terem optado por manter um projeto de poder a todo e qualquer custo e em prejuízo do Brasil." (Colaboraram Vandson Lima e Raquel Ulhôa)