Depois de finalmente ter rompido a barreira de R$ 3 na quinta-feira, o dólar deu um passo além e renovou sexta-feira o maior patamar em mais de dez anos. Foi a quinta sessão consecutiva de ganhos neste início de março, marcado pela forte tensão política no Brasil. Essas preocupações continuaram no radar dos investidores, mas o principal fator da valorização do dólar em relação ao real veio do exterior: o relatório do mercado de trabalho dos EUA de fevereiro, conhecido por payroll. 


No fim do dia, o dólar à vista subiu 1,36%, a R$ 3,050, maior nível de fechamento desde 5 de agosto de 2004. Na máxima, a moeda atingiu R$ 3,0720 (valorização de 2,09%) e, na mínima, R$ 2,9830 (queda de 0,86%). O volume de negócios totalizou US$ 1,241 bilhão. Na semana, o dólar à vista acumulou alta de 6,79%. No mercado futuro, o dólar para abril avançou 1,98%, a R$ 3,0845. O giro no mercado futuro totalizou US$ 17bilhões. 

Depois de fechar no maior patamar desde 13 de agosto de 2004, de R$ 3,009 (alta de 1,01%), o dólar abriu a sessão em queda, sofrendo ajustes. Mas o alívio foi interrompido pelo payroll, que levou a moeda a registrar máximas na sessão. 

Segundo o documento, a economia americana criou 295 mil postos de trabalho em fevereiro, bem acima da expectativa dos analistas, que previam 240 mil vagas. A taxa de desemprego caiu 0,2 ponto porcentual para 5,5% no mês passado, ante a previsão de baixa para 5,6% (leia mais na pág.B8). 

Os números reforçaram as ex-pectativas de que o Federal Reserve retirará o termo "paciente" de seu comunicado de política monetária no encontro de 17 e 18 de março. A palavra garante a manutenção dos juros inalterados por "um par de meses". Com isso, as autoridades do BC americano pavimentarão o caminho para uma discussão mais incisiva na reunião de junho, embora não seja certa uma elevação de juros nessa ocasião. 

Governo. Contribuíram também para o avanço da moeda declarações do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que tentou atenuar os impactos da valorização do dólar. Durante um evento organizado pela Câmara de Comércio França-Brasil, Barbosa ressaltou que o governo não trabalha com uma taxa específica de câmbio. 


"O governo não tem meta de câmbio, a gente trabalha com qualquer cotação",disse Barbosa. Ainda segundo o ministro, o mercado aponta que a taxa de câmbio real corrige a apreciação entre 2007 e 2011 e destacou que "a taxa de câmbio real caminha para o nível de 2006". 


Apesar das declarações do ministro, a curva de juros futuros já mostra o impacto da disparada da moeda sobre a inflação. Dados divulgados ontem pela manhã indicaram que os preços continuam pressionados, com o IPCA e o IGP-M subindo acima do teto das projeções em fevereiro. 


• Fluxo positivo

 
A alta se manteve mesmo depois de saírem os dados do fluxo cambial, com resultado positivo de US$ 2,7 bilhões entre dias 2 e 5. (Clarissa Mangueira - O Estado de S.Paulo - 07.03)