Parte das empreiteiras investigadas sob suspeita de integrar o cartel da Petrobrás começou a atuar nos bastidores a fim de que as punições do escândalo não se restrinjam a seus executivos, a operadores e a ex-diretores da estatal. O objetivo é tentar deixar claro que houve protagonismo de políticos ligados ao governo e que a direção da Petrobrás teve participação ativa na formação do conluio entre as empresas.
A preocupação dos empreiteiros - externada em conversas reservadas - está no fato de a Operação Lava Jato estar dividida em duas instâncias judiciais.
A parte que trata de executivos, operadores e ex-diretores da Petrobrás está sob a guarda da primeira instância, mais precisamente sob condução de Sérgio Moro, magistrado considerado linha-dura que atua na Justiça Federal no Paraná. Já a outra parte da investigação - a que apura a participação de políticos -, está sob a guarda do Supremo Tribunal Federal. Isso porque parte dos citados é parlamentar e tem, portanto, foro privilegiado.
A fórmula, mesmo legal, criou dois pesos e duas medidas, na visão das construtoras - elas já tentaram juntar as investigações a partir de um recurso no STF, mas os ministros entenderam que o caso deve mesmo ficar desmembrado: parte no Paraná e parte em Brasília.
'Crucificado'. Um empreiteiro ouvido pela reportagem afirma que não é "santo", mas que não está certo ser "crucificado" sozinho. Ele cita a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás. Costa afirmou que, a partir de 2004, iniciou-se uma cobrança de até 3% de propina para partidos políticos nos contratos das empresas com a estatal. Os depoimentos de delação premiada do ex-diretor, assim como os do doleiro Alberto Youssef - outro que cita pagamentos a políticos -, são sigilosos e estão sob a guarda do Supremo, que deve abrir os inquéritos envolvendo os políticos em fevereiro. Os processos envolvendo os empreiteiros tocados pela Justiça Federal do Paraná não estão sob sigilo.
Essas duas questões - ritmo da investigação e sua publicidade - são a base das queixas reservadas dos empreiteiros. Eles questionam o fato de a maioria dos presos da Lava Jato, atualmente, ser formada por executivos das empresas que atuam em contratos da Petrobrás.
A permanência na cadeia virou um "suplício", não apenas para os presos e seus familiares, mas para todos que atuam no setor de construção, segundo classificou outro empreiteiro ouvido pela reportagem. Esse empresário chega a comparar as prisões às "torturas dos anos 70", ressaltando que as prisões são "tortura psicológica", mas não deixam de ser "tortura". Ele fala de um "temor generalizado" entre o empresariado, que segundo ele foi transformado numa "facção criminosa, à margem de tudo, uma espécie de PCC da construção".
Dentro da tática de colocar os partidos em posição de protagonismo do escândalo, pelo menos uma das empresas investigadas já preparou uma lista de nomes de políticos que receberam propinas no esquema de corrupção na Petrobrás, conforme mostrou ontem o jornal Folha de S.Paulo.
O Estado revelou uma lista com 28 nomes de políticos citados por Costa em depoimentos da delação premiada: 8 do PMDB, 10 do PP, 8 do PT, 1 do PSB e 1 do PSDB. Os ex-ministros Antonio Palocci e Gleisi Hoffmann, ambos do PT, e Edison Lobão, do PMDB, estavam no rol.
Na semana passada, a revista Veja publicou anotações do empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, que está preso. Os manuscritos fazem ameaças veladas a políticos. Em documento enviado à Petrobrás e revelado pela Folha de S.Paulo, a UTC afirma que, se houve cartel, a responsabilidade é da estatal.