Países islâmicos do Oriente Médio, Ásia Meridional e Norte da África registraram ontem protestos contra o jornal Charlie Hebdo – alvo de atentado que causou a morte de 12 pessoas na semana passada – e suas charges retratando o profeta Maomé. Os episódios mais violentos ocorreram em Níger, onde morreram quatro pessoas. Em Karachi, no Paquistão, ao menos outras três ficaram feridas. Foram registrados confrontos ainda na Argélia, Sudão e Jordânia.

“Morreram um policial e três civis”, disse uma fonte da polícia nigerina. “Alguns dos manifestantes estavam armados de arcos, flechas e porretes e os confrontos foram violentos.”

Os protestos no Níger começaram depois que o presidente do país visitou a França durante o ato pelas vítimas do atentado da semana passada. Ontem, cerca de 4 mil pessoas saíram às ruas. Ao menos dez igrejas foram atacadas, entre elas o Instituto Francês, uma Escola de Missionários e a sede do partido do governo.

A manifestação em Karachi foi convocada pela ala jovem do Jamaat-e-Islamiya, o maior partido religioso do Paquistão. Manifestantes jogaram pedras contra a polícia, que respondeu com canhões de água e tiros. Entre os feridos, está um fotógrafo da agência France Presse, identificado como Asif Hasan. Ele passou por uma cirurgia no Hospital de Jinnah e não corre mais risco. Os outros feridos são um câmera da emissora local Capital TV e um professor.

De acordo com o porta-voz da polícia, Ikram Hussain, simpatizantes do partido começaram a atirar contra as forças de segurança, que responderam com tiros para o alto. O canal de TV Geo, no entanto, informou que a origem dos disparos não está clara. Alguns dos feridos podem até mesmo ter sido atingido por balas de borracha.

 

 

As forças de segurança conseguiram dispersar os manifestantes após usar gás lacrimogêneo e jatos de água. No entanto, as organizações que convocaram os protestos anunciaram que estudarão novas mobilizações nos próximos dias.

Houve protestos em outras cidades paquistanesas, mas eles transcorreram pacificamente, segundo a polícia. Na quinta-feira, o Parlamento do Paquistão aprovou uma resolução que condena as charges do protesto como discurso de ódio e pediu à comunidade internacional medidas contra essa prática. “A liberdade de expressão não pode ser usada para ofender a fé”, diz a moção.

A blasfêmia contra o profeta é considerada crime no Paquistão e protestos violentos ocorreram no país em outras ocasiões em que Maomé foi retratado em desenhos satíricos. Na terça-feira, em Peshawar, um clérigo islâmico já tinha pedido em sermão para que os fiéis glorificassem os responsáveis pelo atentado ao Charlie Hebdo.

Protestos. Na Jordânia, a polícia enfrentou manifestantes que tentavam se aproximar da Embaixada da França em Amã. Milhares de pessoas participaram das manifestações convocadas por grupos islamistas diante da Grande Mesquita de Hussein em Amã, depois da reza muçulmana do meio-dia. Ao menos quatro dos líderes da manifestação foram presos, segundo a polícia. O lema da manifestação era “Exceto o Profeta”, mostrando que Maomé é uma linha vermelha que não deve ser atravessada.

Nas mesquitas, os sermões desta sexta-feira se centraram em condenar o ataque contra a redação da Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos, e por outro em criticar “os inimigos de Deus que atacam o profeta”. No entanto, os ímãs insistiram que a forma de lidar com esta ofensas deve ser pacífica.

No Sudão, centenas de pessoas protestaram em Cartum, após a oração muçulmana do meio-dia, contra a publicação das charges. Os manifestantes saíram da Grande Mesquita, no centro da capital, carregando cartazes com as mensagens “Morte ao Charlie Hebdo”, “Pedimos que a França peça perdão” e “Nos sacrificamos por ti, profeta”. O clérigo da mesquita, Kamal Rezq, pediu durante o sermão para expulsar o embaixador da França.

Os protestos também foram violentos na Argélia, ex-colônia francesa. Dezenas de pessoas, entre elas os líderes islamistas Ali Belhadj e Hamadache Zeraoui, foram presas na manifestação, que também deixou vários feridos.

Centenas de pessoas marcharam nas ruas de Argel cantando palavras de apoio ao profeta, com cartazes que diziam “Eu sou Maomé”. No fim da marcha, manifestantes jogaram paus e pedras contra a polícia, que respondeu.