As perspectivas de um aumento nos investimentos das empresas dos Estados Unidos neste ano enfrentam um forte obstáculo: o colapso dos preços do petróleo está provocando cortes significativos numa indústria que vinha se destacando em meio à morna recuperação econômica do país.

Os gastos de capital cresceram 6% no ano passado devido a ganhos de uma ampla base de indústrias americanas. Mas as dificuldades agora enfrentadas pelas empresas de petróleo podem reduzir essa taxa de crescimento pela metade, dizem economistas do Goldman Sachs. GS -1.46%

Além disso, analistas de ações do banco preveem que os gastos globais de capital das empresas do setor de petróleo que fazem parte do índice S&P 500 cairão 25%, causando o primeiro recuo anual em investimentos de capital por parte de grandes empresas em vários setores desde 2009. Até agora, as companhias de petróleo que integram o S&P 500 anunciaram cortes de gastos de cerca de US$ 8,3 bilhões.

Os cortes no setor petrolífero ocorrem num momento em que exportadores e produtores estão enfrentando dificuldades mais amplas devido ao fortalecimento do dólar, o que torna os produtos americanos mais caros no mercado internacional.

A economia americana ainda sai lucrando com o petróleo mais barato. Consumidores que gastam menos com gasolina geralmente gastam mais no varejo e em restaurantes. As empresas também se beneficiam com custos mais baixos de matéria-prima.

Mas reduções profundas em investimentos de capital ressaltam como a economia foi transformada pelo boom americano do petróleo, que afetou profundamente a economia industrial durante a atual expansão.

Para os produtores de aço, “é um caso muito claro de sofrimento no curto prazo e, nós esperamos, lucros no longo prazo”, diz Bill Hutton, diretor-superintendente da Titan Steel Corp., de Baltimore.

Nos últimos anos, o setor de petróleo tem sido um grande consumidor de aço nos EUA, assim como o automobilístico, e ajudou a compensar as contínuas dificuldades no setor de construção civil, diz Hutton. A expectativa agora é que os consumidores gastarão o excedente de recursos em carros, geladeiras e máquinas de lavar.

Entre 2009 e 2014, investimentos em estruturas e equipamentos para exploração de campos de petróleo e gás representaram 70% dos investimentos industriais líquidos, segundo Jason Thomas, diretor de pesquisa do Carlyle Group. CG +0.04% Isso representou em torno de US$ 245 bilhões em investimentos no ano passado, ou 11% dos investimentos totais não residenciais.

Ainda assim, tais investimentos representam uma fatia relativamente pequena da economia americana, ou menos de 2% do produto interno bruto.

Economistas do J.P. Morgan JPM -0.65% esperam que os cortes em investimentos de capital do setor de petróleo reduzam o crescimento do PIB este ano em 0,3 ponto percentual, enquanto os gastos dos consumidores, que representam dois terços do PIB, podem acrescentar um ponto percentual.

Outros setores eventualmente podem compensar os cortes na área petróleo.

Excluindo o setor de petróleo, o crescimento dos gastos de capital de 4% neste ano para as empresas do S&P 500 fica abaixo dos 5% previstos no segundo semestre do ano passado, diz Tobias Levkovich, estrategista-chefe de ações do Citi. Isso marcaria o sexto crescimento anual seguido nos investimentos das empresas para setores excluindo o petrolífero e o financeiro.

O problema é que pode levar tempo para empresas aéreas, de transporte terrestre e agronegócio transformar as economias com o petróleo mais barato em novos investimentos. A valorização do dólar também está afetando os lucros das multinacionais, o que pode reduzir os investimentos a partir de agora.

“O setor de transportes ficará muito satisfeito com ganhos inesperados”, diz Ed Yardeni, diretor-superintendente da Yardeni Research Inc., consultoria de estratégia de investimentos de Brookville, em Nova York. “Mas ele não responderá tão rapidamente encomendando novos caminhões e aviões quanto os cortes das empresas de petróleo.”

“Agora não é hora para pintar coisas ou comprar coisas novas”, diz John Rynd, diretor-presidente Hercules Offshore Inc., HERO -2.74% uma prestadora de serviços de perfuração de poços, a investidores no mês passado.

Clayton Williams, diretor-presidente da petrolífera Clayton Williams Energy Inc.,CWEI +0.78% disse a investidores que uma rodada recente de cortes foi “parecida com Dunkirk”, referindo-se à evacuação de soldados aliados das praias francesas na Segunda Guerra Mundial. “Estamos fazendo o que podemos para sobreviver.”

Investidores também estão procurando os efeitos que as perdas com petróleo tiveram além do chão de fábrica. Uma área de atenção é a financeira.

O setor de petróleo é responsável por aproximadamente 17% do volume existente de títulos de dívida de alto rendimento, um valor em torno de US$ 178 bilhões. O setor sozinho é dono da maior fatia da dívida, de acordo com o Goldman Sachs. Apenas três anos atrás, ele era responsável por 5,9% dessa dívida.

O mercado imobiliário em regiões de forte atuação da indústria de petróleo representa outro ponto de pressão. A cidade de Houston, no Texas, emitiu 38.300 alvarás para construções de casas residenciais no ano passado, apenas 300 a menos que o Estado da Califórnia.

No momento, a cidade está “se mantendo bem”, diz Richard Campo, diretor-presidente da Camden Property Trust, CPT -0.72% empresa do setor imobiliário que atua no país todo e possui 9 mil unidades em Houston. Mas, segundo ele, se os preços do petróleo permanecerem nos níveis atuais por três ou quatro anos, ocorrerão demissões também de profissionais que trabalham em áreas administrativas.

“Se você é um fornecedor para essas sondas que suspenderam as próprias operações , seu negócio simplemente sumiu”, diz Levkovich. “Você não tem uma empresa. Você tem um prédio com algum inventário.”

A Loadcraft Industriesl Ltd., fabricante de peças para equipamentos de petróleo de Brady, no Texas, recebeu inúmeras cartas de clientes solicitando cortes nos custos de até 25%. “Nós simplesmente não podemos fazer isso”, diz Terry McIver, diretor-presidente e proprietário da Loadcraft.

Elevar a produção para outros setores, como trailers customizados, também não é fácil. “Nossa principal questão é o valor do dólar”, disse McIver, considerando que os exportadores canadenses têm vantagens por conta da taxa cambial.