Em seu primeiro evento público como diretor de Gás e Energia da Petrobras, o engenheiro Hugo Repsold Junior admitiu, ontem, que divulgar o balanço auditado da petroleira é uma "tarefa árdua", mas que a "surra" que a estatal tem levado para cumprir a tarefa, e assim recuperar credibilidade no mercado, deve deixar um legado na governança da petroleira. Para o executivo, a empresa tem elementos fundamentais para se recuperar. E chegou a comparar à atual crise por qual passa a companhia a um câncer que tem de ser extirpado. "Câncer a gente trata com cirurgia, e não com homeopatia", afirmou.

Responsável pela área de negócios de onde a companhia pretende gerar a maior parte de suas receitas com vendas de ativos no biênio 2015/2016, Repsold participou de uma aula inaugural para estudantes e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E questionado sobre a presença da companhia em projetos de energias renováveis, disse que a verticalização da estatal no mercado de energia é um "erro estratégico" para a empresa.

"Se a Petrobras for investir em todas as dimensões, vamos cometer um erro estratégico. Isso vai drenar recursos importantes", opinou Repsold, sem dar maiores detalhes sobre a venda de ativos na área de Gás e Energia.

O executivo reforçou, ainda, que a companhia não tem gás natural para oferecer a termelétricas nos próximos leilões de energia, pelo menos no curto prazo.

Durante o encontro na UFRJ, o diretor afirmou também que a empresa trabalha para entregar o balanço auditado de suas contas de 2014 "o mais rápido possível", mas destacou que a empresa se encontra em período de silêncio e que não poderia antecipar informações antes de prestar esclarecimentos à Comissão de Valores Mobiliarios (CVM) e da Security & Exchange Comission (SEC).

Repsold disse, ainda, que a empresa passa por um momento "delicado" e que a divulgação de seu balanço contábil é um trabalho "árduo" que a direção da estatal vem perseguindo. "Temos uma tarefa árdua de concluir as contas e mostrar as demonstrações contábeis, para que todos conheçam e entendam", disse o executivo.

O diretor, contudo, se disse confiante com a superação das pendências contábeis e que os problemas enfrentados pela estatal com a divulgação de seu balanço não é um problema "tão grave" que não possa ser superado. "[o escândalo de corrupção] Foi horrível para empresa e magoou bastante a empresa, funcionários e a sociedade. É um caso para ser tratado dentro da lei com todo o rigor, e dentro da empresa também, com todo o rigor", afirmou Repsold.

"Estou muito confiante. Não só por eu ser otimista, mas porque nesses 30 anos [de carreira na Petrobras] eu vi essa capacidade de superação ser construída. Não acho que esse problema seja tão grave para a Petrobras, para os corações e mentes de quem está envolvido com esse projeto comum [recuperação da companhia]", complementou.

Segundo Repsold, a estatal tem elementos fundamentais para que seja bem sucedida em sua recuperação, como grandes reservas provadas e um corpo técnico qualificado. "A companhia tem muitos problemas. Temos problemas até demais, mas é isso que vai nos mover", disse.

O diretor admitiu que a petroleira deixou de cumprir algumas metas de seu plano de negócios nos últimos anos, mas que a "surra" que tem levado para divulgar seu balanço auditado e recuperar a credibilidade do mercado deve deixar um legado na governança da empresa.

"Andamos deixando alguns objetivos para trás, deixando de alcançar algumas metas. E nesses últimos anos nos conectando a essa realidade [respeito às metas], porque elas [as metas] são pedaço imprescindível para nosso negócio e vai nos levar aos nossos objetivos", disse o executivo.

"Depois dessa 'surra' que estamos levando [com a divulgação de seu balanço auditado e com os escândalos de corrupção], estamos desenvolvendo mais os controles e governança", afirmou Repsold.