Durou pouco a folga de caixa que a Petrobras ganhou no fim do ano passado com a forte redução de preços de petróleo no mercado internacional. A recente desvalorização da taxa de câmbio – de 13,32% do início de fevereiro até ontem – reduziu significativamente a diferença entre o preço da gasolina nas refinarias brasileiras e no mercado externo.
De acordo com economistas ouvidos pelo Valor, essa diferença ainda é favorável à Petrobras, em torno de 5% no caso da gasolina e 10% no diesel, mas caso o real continue a perder valor em relação ao dólar, a Petrobras pode voltar a ter prejuízo com a importação de combustíveis.
Para Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria, os combustíveis ainda estão mais caros no mercado doméstico do que no Golfo do México, que é usado como preço de referência, mas a diferença à favor da Petrobras se reduziu substancialmente nos últimos dois meses.
Em dezembro, a gasolina e o diesel estavam cerca de 40% mais caros no Brasil do que no exterior. Na semana passada, afirma, essa diferença, ainda a favor da Petrobras, se reduziu para 4%, no caso da gasolina, e 12% no diesel. Em sua avaliação, ainda que o real tenha registrado forte desvalorização nós últimos dias, o barril de petróleo também caiu, o que deve ter mantido essa relação estável.
A comparação não leva em conta impostos, e por isso desconsidera o aumento de PIS e Cofins sobre o combustível em fevereiro, que levou a gasolina a subir 8,42% nas bombas no mês passado.
Na contas de Fernando Rocha, sócio da JGP Gestão de Recursos, a gasolina está 4% mais cara no mercado doméstico, enquanto a vantagem na venda de diesel é de 6,7%, considerando as cotações de fechamento de ontem (dólar a R$ 3,10 e barril de petróleo do tipo Brent a US$ 56).
“Essa redução diminui a ‘gordura’ que a Petrobras estava conseguindo acumular. A vantagem da defasagem bastante favorável para a estatal era fazer caixa”, afirma Rocha. Sem essa ajuda, aumenta a necessidade, que já estava no cenário do mercado, de que a estatal tenha que vender ativos ou emitir dívida para fortalecer sua posição, especialmente após a perda de grau de investimento pela Moody’s, agência de classificação de risco.
Para Rocha, porém, era pouco provável que a vantagem para a estatal na venda de combustíveis no mercado doméstico seguisse tão elevada ao longo de todo ano, já que as condições de janeiro pareciam insustentáveis, com preço do petróleo a US$ 40 e taxa de câmbio em R$ 2,55. “Ao mesmo tempo, ninguém imaginava que a desvalorização do real ocorreria tão rapidamente”, diz.
Rocha calcula, porém, que para que a defasagem de preços seja eliminada, a taxa de câmbio ainda teria que ter desvalorização adicional relevante, para algo como R$ 3,30, considerando que o barril fique estável em U$ 60.
Para Vitto, da Tendências, é possível que a relação se inverta e passe a ser desfavorável para a Petrobras ainda neste ano. A consultoria está revisando seu cenário, mas estima que a taxa de câmbio pode ficar, na média, em R$ 3 ao longo de 2015, enquanto a cotação do barril de petróleo tende a se recuperar na segunda metade do ano. A projeção é que com efeitos da redução de investimentos no setor sobre a produção a partir do quarto trimestre e economia global mais aquecida, o barril pode voltar para algo como US$ 65 e US$ 70.
Flavio Serrano, economista-sênior do Besi Brasil, afirma que, considerando a média dos últimos seis meses, os preços nas refinarias foram superiores aos do mercado externo em 10% no caso da gasolina e 14% no diesel, que é mais relevante para a Petrobras.
Serrano diz que de fato a vantagem diminuiu entre janeiro e a última semana, mas avalia que um cenário em que a estatal volte a ter prejuízo com a venda de combustíveis está distante. “Nos preços atuais de petróleo, a taxa de câmbio teria que superar R$ 3,30, o que ainda embute desvalorização adicional importante”.
O economista avalia que até pode haver necessidade de reajuste de preços de combustíveis pela estatal, caso o real continue a perder valor em relação ao dólar e as cotações da commodity voltem a subir de forma mais consistente no mercado internacional, mas esse seria um cenário para o fim do ano, e não para o curto prazo.
Os analistas, porém, são unânimes em avaliar que a Petrobras não tem condição de voltar a absorver perdas com a importação de combustíveis e que, nesse caso, teria que haver repasse para o consumidor. “Se a defasagem voltar para 5% contra a Petrobras, a estatal não teria como segurar os preços por muito tempo”, comenta Rocha, da JGP. O economista acrescenta que a nova equipe econômica também já sinalizou que a estatal tem autonomia para fazer reajustes e dificilmente seria a favor de controle de preços de combustível.
Câmbio adiciona pressão à inflação e IPCA em 12 meses pode superar 8%
Segundo a Serasa, a demanda do consumidor por crédito caiu 10,7% em fevereiro ante janeiro, quando recuou 2,5%. Na comparação com fevereiro do ano passado, houve ligeira alta de 0,9%, o menor ritmo de avanço dos últimos sete meses. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança do Consumidor recuou 4,9% em fevereiro e atingiu seu menor nível desde setembro de 2005. Como reflexo, a confiança do comércio também teve queda forte no mesmo período, de 8,8%, o maior recuo em cinco anos. Outra pesquisa, a do SPC Brasil, mostrou que o número de pessoas incluídas em serviços de proteção ao crédito aumentou 2,33% em fevereiro ante o mesmo período do ano passado, um crescimento menor que os 3,12% registrados em janeiro. Foi a menor variação desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 2011.
Três dados divulgados ontem mostram que o consumidor está de fato retraído neste início de ano. Ele tem buscado menos crédito e se endividado menos, o que também tem feito a inadimplência ceder, de acordo com números da Serasa Experian, da FecomercioSP e do SPC Brasil. Segundo a Serasa, a demanda do consumidor por crédito caiu 10,7% em fevereiro ante janeiro, quando recuou 2,5%. Na comparação com fevereiro do ano passado, houve ligeira alta de 0,9%, o menor ritmo de avanço dos últimos sete meses. Embora o desempenho do mês tenha sido afetado pelo Carnaval, a Serasa avaliou que o baixo grau de confiança dos consumidores e as altas taxas de juros têm reduzido a procura por crédito. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança do Consumidor recuou 4,9% em fevereiro e atingiu seu menor nível desde setembro de 2005.
Como reflexo, a confiança do comércio também teve queda forte no mesmo período, de 8,8%, o maior recuo em cinco anos. Contratando menos crédito, o consumidor reduz as dívidas a serem pagas no dia a dia. Embora numa amostragem menor que a Serasa, é o que indica a pesquisa da FecomercioSP. O percentual de famílias endividadas em São Paulo caiu pelo sétimo mês e chegou a 38,9% em fevereiro, 12 pontos percentuais menos que no mesmo período do ano passado, quando 50,9% tinham débitos a quitar. A queda demonstra que o consumidor continua cauteloso na contratação de novos financiamentos em função do desempenho econômico do país, das altas dos preços e dos juros, que pressionam a renda das famílias, disse a entidade.
A Fecomercio-SP também identificou que, no mês passado, a busca por novas linhas de crédito caiu 5,4% na comparação com igual mês de 2014. Além disso, a maioria dos entrevistados (84,3%) disse não ter a intenção de contrair novos financiamentos nos próximos três meses. A inadimplência também caiu: 10,8% informaram estar inadimplentes, ante 14,4% em fevereiro de 2014. Entre as famílias com contas atrasadas, 52,2% estão com as contas vencidas há mais de 90 dias& 894; 24,5% possuem contas atrasadas entre 30 e 90 dias& 894; e 21,6% estão com dívidas em atraso de até 30 dias.
Outra pesquisa, a do SPC Brasil, mostrou que o número de pessoas incluídas em serviços de proteção ao crédito aumentou 2,33% em fevereiro ante o mesmo período do ano passado, um crescimento menor que os 3,12% registrados em janeiro. Foi a menor variação desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 2011. A quantidade de dívidas atrasadas, que em janeiro havia registrado alta de 2,40%, cresceu menos e subiu 1,81% em fevereiro. Para o SPC Brasil, a menor oferta de crédito mais que a regularização dos pagamentos tem amenizado o crescimento da inadimplência.