Apesar dos investimentos em construção de moradias feitos por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, das concessões de infraestrutura e das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a fatia de construções dentro do total de investimentos da economia brasileira encolheu.

 

Em recente pesquisa, o diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Claudio Hamilton dos Santos, decompôs a formação bruta de capital fixo (FBCF), medida do investimento na economia, e viu, a preços constantes, que a participação de construções fechou 2013 correspondendo a 41,8% da FBCF total.

 

O valor é menor do que os 49,61% atingidos em 2000. Ao mesmo tempo, a fatia do setor de máquinas e equipamentos cresceu dentro da FBCF total no período: passou de 42,72% em 2000 para 51,81% em 2013.

 

"Você se surpreende um pouco [com esse quadro]", disse Santos. "São 3 milhões de moradias no Minha Casa, Minha Vida e um pacote infraestrutural de R$ 100 bilhões por ano. É muita coisa, já deveria de alguma maneira aparecer nos dados." Segundo ele, houve aceleração das concessões de infraestrutura a partir de 2012 e o "Minha Casa" vem desde 2009. As construções envolvem desde residências até outros tipos de obras, como pavimentação, edifícios e hidrelétricas.

 

A fatia menor dentro da FBCF guarda relação com o fato de, entre 2000 e 2013, a taxa de crescimento real de construções também registrar ritmo lento: a alta foi de 42% contra 119% em máquinas e equipamentos. O crescimento em máquinas e equipamentos - três vezes superior ao de construções -ocorreu em um período em que boa parte do setor industrial viveu retração. Para alguns economistas, isso está relacionado a investimentos de empresas estatais, como a Petrobras.

 

Os dados surpreendem porque, em teoria, se esperava que o foco do governo federal em infraestrutura tivesse impacto significativo em construções dentro da FBCF, o que não ocorreu. Ao mesmo tempo, há uma discussão sobre se o motor da economia seria atualmente consumo ou investimentos. Para Santos, o avanço de máquinas nos 13 anos da análise mostra a preponderância dos investimentos das empresas.

 

Os dados de 2014 - que não fazem parte da pesquisa de Santos, porque os dados fechados do ano passado da FBCF só saem no dia 27 deste mês - devem mostrar uma continuidade desse movimento morno em construções e possivelmente um quadro também mais morno em máquinas.

 

Este ano não deve ser diferente. Há muitas dúvidas sobre o andamento das concessões de infraestrutura em um ano em que a prioridade é o ajuste fiscal. Além disso, não há clareza sobre qual será o tamanho do reflexo da Operação Lava-Jato - que envolve Petrobras e várias construtoras - sobre a economia, embora algumas estimativas de consultorias apontem recuo de até 1,5 ponto percentual do PIB. O reduzido investimento em infraestrutura em relação ao tamanho do país pode ser um outro motivo para construções não ter puxado a economia. "Talvez a gente chegue à conclusão de que melhorar as condições de vida urbana teria sido uma frente importante de expansão" disse o professor da Unicamp André Biancarelli.

 

Para o professor da Unicamp, o Minha Casa, Minha Vida é um programa muito grande para a história do Brasil, mas ainda é preciso fazer mais. Lembra que pouca coisa andou em saneamento básico ou em mobilidade urbana, em parte pela baixa capacidade de realização de projetos por parte de vários municípios e Estados.

 

O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Nelson Marconi concorda. Nas suas contas, em 2009, a preços constantes, o setor de construções correspondia a 8,8% do PIB. Em 2010, chegou a 9,2%, passou para 9,3% em 2011, para 9,4% em 2012 e se manteve em 9,4% em 2013. "O crescimento nos últimos dois anos foi residual. Deveria ter sido maior, pelo menos uns três pontos a mais", afirma, lembrando que na década de 70 as construções correspondiam a 14% do PIB.

 

A revisão das contas nacionais, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que será divulgada hoje, pode estar por trás de números tão magros para construções. Santos acredita que a revisão poderá trazer números um pouco mais elevados. Mas pondera que, mesmo assim, sua "opinião particular" é a de que ela não está puxando o investimento.

 

"Se eu estiver correto, os dados vão ser significativamente revistos para cima, mas isso não significa dizer que [com a revisão] estamos crescendo muito e não estamos vendo. São coisas distintas", disse Santos.

 

"Quando a economia está crescendo, porque alguma coisa está acontecendo, você nota, mesmo com as contas não estando muito boas. A não ser que o dado estivesse completamente equivocado", o que não seria o caso, explica o pesquisador, referindo-se aos números usados na análise - anteriores à revisão do IBGE.

 

Há outras questões importantes que têm prejudicado o setor e que podem ajudar a explicar os números baixos, como os atrasos e paralisações de obras e o ainda tímido volume de concessões de infraestrutura, na opinião de empresários.

 

O presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio, acredita que a lentidão com que o programa de concessões de infraestrutura foi até agora tocado pode estar se refletindo nos números tímidos das construções na taxa de investimento, como foi observado por Santos. Ele ressalta que em ferrovias saíram poucos leilões e faltam leilões em portos, hidrovias e dezenas de aeroportos.

 

"A gente esperava muito mais", diz. "Quando saem cinco lotes de rodovias, todo mundo diz 'que beleza', mas tinha que sair 200 lotes", criticou Amadio. Ele criticou ainda o ritmo do PAC. "Do PAC 1, tem mais da metade [das obras] para fazer. Do PAC 2, se tiver 20% ou 25% feito, é muito", afirmou.

 

As estimativas oficiais do governo federal são de que o PAC 2 teria executado, até dezembro de 2014, R$ 802,9 bilhões em obras, o que corresponde a 99,7% do previsto entre 2011-2014, o que seria 72% superior aos investimentos realizados do PAC 1. O Minha Casa, Minha Vida, segundo o governo, corresponderia a R$ 449,7 bilhões, entregando 1,87 milhão de moradias, embora haja 3,7 milhões de moradias contratadas.

 

 

Produção industrial cresce em 7 regiões, mas não indica retomada

 

 

A produção industrial brasileira cresceu em 7 de 14 locais em janeiro em relação a dezembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), impulsionada por base de comparação baixa, referente ao fim do ano passado. O cenário regional da indústria em janeiro foi melhor do que o de dezembro, quando a produção caiu em 12 regiões, em comparação com novembro.

São Paulo foi o destaque, com expansão recorde de 7,1% na atividade industrial, em janeiro ante dezembro. Mas, na análise do IBGE, o incremento na produção paulista é uma “melhora relativa”, e sem sustentabilidade. Para o instituto, os sinais positivos, delineados na Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física Regional (PIM-PF Regional) anunciada ontem, são insuficientes para indicar retomada sustentável na produção, cuja trajetória ainda é negativa.

O aumento na atividade industrial de São Paulo em janeiro, em comparação com dezembro, só não foi maior do que o de Pernambuco, na mesma comparação (13,5%), beneficiado por forte expansão na indústria de produtos químicos e alimentícios, principalmente açúcar, no começo do ano. Houve, ainda, aumentos expressivos nas produções das indústrias de Minas Gerais (6,5%). Goiás (4,4%), Espírito Santo (4,3%) e Santa Catarina (2,4%).

O gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, frisou que, na comparação com janeiro de 2014, a produção industrial paulista ainda mostrou recuo de 5,4% em janeiro deste ano.

Com participação de 37% no total da produção industrial do país, São Paulo pode ser considerado “termômetro” do ambiente da indústria nacional. Portanto, qualquer indício de recuperação nessa localidade pode ser considerada boa notícia, admitiu Macedo. Mas, ele ponderou que a expansão recorde em janeiro foi influenciada por base de comparação baixa relativa a dezembro, quando houve concentração de ‘lay-off’ (suspensão temporária de contrato de trabalho) e férias coletivas em montadoras no Estado. Assim, na prática, o retorno paulatino à atividade nas montadoras em janeiro contribuiu para elevar a produção paulista, no primeiro mês do ano.

“A leitura do que temos em São Paulo é muito semelhante ao quadro nacional. Tivemos avanços em bens de capital no Estado em janeiro ante dezembro, mas, ao mesmo tempo, esse segmento ainda mostra queda em relação a janeiro do ano passado”, resumiu.

Além disso, na análise dele, a magnitude da elevação na atividade industrial de São Paulo em janeiro ante dezembro não compensa as perdas significativas na produção do Estado, em meses anteriores, na série com ajuste. “Em São Paulo, tivemos taxas negativas de junho a dezembro de 2014, com exceção de outubro”, afirmou. Os meses de retração levaram a queda acumulada de 12,2% na produção da indústria paulista, calcula.