O depoimento do ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco jogou por terra ontem a estratégia do PT de ampliar o escopo das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados para atingir também o PSDB e enfraqueceu o discurso da presidente Dilma Rousseff, de que se os casos de corrupção tivessem sido investigados no governoFernando Henrique Cardoso os desvios não teriam se perpetuado por tanto tempo.

Primeiro convocado da nova CPI, Barusco confirmou em público o que disse ao Ministério Público em acordo de delação premiada: que o tesoureiro do PTJoão Vaccari Neto, teria recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina para o partido, estimativa feita com base nos recursos que o próprio Barusco recebeu. O ex- gerente afirmou, contudo, que não sabia de que forma Vaccari recebeu o dinheiro e para quais políticos distribuiu.

O suborno, disse Barusco, era de 2% dos contratos da Petrobras. Metade ficaria com o PT e a outra metade era dividida entre o delator e o ex-diretor de Serviços Renato Duque. Outro episódio reafirmado à CPI é que a campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff em 2010 teria recebido doação irregular de US$ 300 mil da SBM, empresa investigada na operação Lava-Jato. Barusco contou que recebeu esse dinheiro e houve um “acerto de contas” com Vaccari.

Em nota, Vaccari e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disseram que nunca trataram de doações com o delator. “O senhor Barusco não apresentou nenhuma prova ou mesmo indício que liguem o secretário João Vaccari Neto ao recebimento de propinas, apesar de falar por mais de cinco horas e ser reiteradamente questionado pelos integrantes da bancada.” A assessoria de imprensa da SBM informou que a empresa vai se posicionar hoje sobre as afirmações do ex-gerente.

Barusco também afirmou que recebeu propina na estatal pela primeira vez em 1997, no governo FHC, mas frisou que esse foi um ato individual, sem relação com o esquema que se instalou depois. “Foi iniciativa pessoal minha, junto com representantes da empresa [SBM Offshore, de aluguel de sondas]”, disse. “De forma mais ampla, mais institucionalizada, foi a partir de 2003, 2004″.

Funcionário de carreira da PetrobrasBarusco foi nomeado em 2003, no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gerente-executivo da Diretoria de Serviços e ficou no cargo até 2011, quando virou gerente de operações da Sete Brasil, empresa criada para construir sondas no país para a Petrobras. Disse que suas nomeações sempre foram técnicas e que nunca foi indicado por partidos.

“Ele acabou com qualquer tentativa do PT [de ampliar a investigação]. O Barusco foi bem claro de que são coisas completamente distintas”, afirmou o deputado Bruno Covas (PSDB-SP). Para o presidente da CPIHugo Motta (PMDB-PB), a oitiva reforçou que as investigações devem se restringir ao período de 2005 a 2015, ou seja, apenas durante o governo petista. “Ele delimitou que de 1997 e 1998 não existia uma corrupção institucionalizada. Não tinha corrupção política. Ele tinha uma corrupção pessoal”, afirmou.

O relator da CPILuiz Sérgio (PT-RJ), questionou várias vezes Barusco sobre o pagamento de propina nos anos 1990, mas o ex-gerente disse que não poderia falar sobre isso porque há investigação do Ministério Público e polícia da Holanda. “A dinâmica da CPI é que vai mostrar se há conexão ou não”, afirmou. A sessão da comissão durou oito horas, mas, para o relator, não houve fato novo em relação ao que acordo de delação premiada.

Segundo Barusco, o esquema de corrupção já era “sistêmico” em 2008. “Nos contratos das empresas do cartel já estavam embutidos o pagamento de comissões e propinas, estava institucionalizado. Era o modus operandi, o dia a dia das licitações”, disse.

Barusco rebateu a tese das empreiteiras, de que foram pressionadas a pagar subornos, e disse que a primeira vez que ficou claro para ele a existência de um cartel foi nas obras da refinaria de Abreu e Lima, depois no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), quando, apesar do mercado aquecido, as empresas apresentaram preço muito superior ao orçamento estimado. “Extorsão eu nunca vi”, disse.

Como os contratos da Petrobras podiam ser assinados com valor até 20% acima do orçamento inicial, o cartel trabalhava para a licitação ser fechada perto desse teto. “A Petrobras tem costume ou tinha procedimento de fechar contratos entre menos 15% e mais 20% em relação ao orçamento médio. O cartel trabalhou fortemente para elevar ao limite superior”, revelou.

Além da corrupção na Petrobras, Barusco citou que houve desvio de dinheiro em contratos da Sete Brasil. “Não tenho o valor exato [dos desvios], mas foi, no máximo, de dez milhões”, disse, sem detalhar se a estimativa de propina paga é em dólar ou em real. Ele disse que, depois deste pagamentos, o esquema “parou”.

O ex-gerente afirmou ainda que os bancos suíços onde ele abriu contas para receber os pagamentos conheciam a origem do dinheiro. “Acho que os bancos todos sabiam [que era propina]”, disse.

Amanhã o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de pressionar as empreiteiras, vai depor à CPI a pedido. A convocação dos outros políticos investigados será decidida na próxima semana.

 

 

Acuado, PP tira da comissão deputados que respondem a inquérito no Supremo

 

 

Pressionado pelos líderes partidários e integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras na Câmara dos Deputados, o PP decidiu substituir os deputados que respondem a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento em desvios na estatal - e, depois de mais pressão, também os parentes de investigados.
 
A primeira substituição ocorreu de tarde, quando os deputados Lázaro Botelho (TO) e Sandes Júnior (GO) foram trocados. Na reunião da CPI pela manhã, na qual os dois faltaram, deputados cobraram a saída dos investigados da comissão. "A CPI não pode começar em pizza", afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
 
PSDB e PSOL ameaçaram recorrer à Corregedoria da Câmara e ao STF e o PP decidiu indicar dois filhos de políticos que são investigados: Covatti Filho (RS), herdeiro político do ex-deputado Vilson Covatti (PP-RS), e Cacá Leão (BA), filho do vice-governador da Bahia, João Leão (PP).
 
Depois de nova pressão dos líderes partidários em reunião de tarde, o PP alterou novamente a composição da comissão e indicou os deputados Ezequiel Fonseca (PP-MT) e Fernando Monteiro (PP-PE), sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro.
 
Covatti Filho, Lázaro Botelho e Cacá Leão também devem sair do Conselho de Ética. O líder do PP, Eduardo da Fonte (PE), afirmou que os substitutos serão confirmados até a manhã desta quarta-feira, antes da eleição para a presidência do colegiado, e defendeu que os integrantes do partido em postos de comando na Câmara e que são investigados na Lava-Jato fiquem no cargo.
 
Dos 40 deputados do PP, 18 foram citados pelo doleiro Alberto Youssef como beneficiários do esquema de pagamento de propina da Petrobras. Entre eles o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Arthur Lira (AL), e o 1º vice-presidente, Aguinaldo Ribeiro (PB), eleito ontem em votação apertada - teve 28 votos a favor, contra 26 votos em branco.
 
A manutenção dos dois no comando da CCJ foi criticada por PSOL e PSB. A comissão é a instância recursal dos pareceres pela cassação de deputados no Conselho de Ética e é o presidente da CCJ que indica os relatores destes pareceres.