A lista de pessoas a serem investigadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Operação Lava-Jato foi maior do que se esperava e a Corte poderá demorar mais tempo para concluir os julgamentos de todos os inquéritos do caso do que ocorreu no mensalão. A lista com 54 nomes enviada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na terça-feira, representa o maior pedido de abertura de inquéritos numa mesma investigação na história do STF. Esperava-se que ele enviasse entre 28 e 40 nomes ao STF. "Todos nós estamos estarrecidos com o quadro", admitiu o ministro Marco Aurélio Mello. "Esperamos que não se repita o que aconteceu na Ação Penal nº 470", lamentou.

No mensalão, o pedido inicial foi feito em abril de 2006 e envolveu 40 pessoas. Se aquele caso teve apenas um inquérito, a Lava-Jato começa com 28 e esse número ainda pode crescer. O mensalão teve um delator - o então deputado Roberto Jefferson. A Lava-Jato já tem 15 e devem surgir outros. Com a realização de novas delações premiadas, empresários deverão entregar mais provas de crimes aos integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal, em Curitiba, e sempre que surgirem novos indícios contra políticos eles serão encaminhados para a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, onde devem ser pedidos novos inquéritos ao STF.

"Esse é um processo longo, que está começando agora", disse Janot, na segunda-feira, um dia antes de apresentar os pedidos de abertura de investigação ao STF.

A Lava-Jato já teve nove fases e é uma operação em evolução, pois outras etapas ainda podem ser deflagradas a partir de novas revelações de crimes. No mesmo dia em que entregou a lista ao STF, Janot autorizou a continuidade da força-tarefa por mais seis meses e novas prorrogações devem ser feitas indefinidamente.

O escândalo da Lava-Jato é maior e envolve mais partidos políticos do que o mensalão. O Ministério Público Federal verificou que o esquema de corrupção envolvendo contratos da Petrobras começou a funcionar há pelo menos 15 anos - mais tempo que o mensalão petista, que durou de 2002 a 2005. Além disso, o número de partidos supostamente beneficiados pelos desvios de dinheiro da estatal é maior que o até então "maior julgamento da história do Supremo". Pelo menos, sete legendas foram citadas nas investigações da operação Lava-Jato: PT, PMDB, PP, PSDB, PSB, PTB, Solidariedade. No caso do mensalão, parlamentares de cinco partidos - PT, PTB, PL (atualmente PR), PP e PMDB foram réus no processo.

As quantias movimentadas no escândalo da Lava-Jato são bem maiores que as do mensalão. Em 2012, o Ministério Público concluiu que foram feitos R$ 141 milhões em empréstimos bancários, movimentações fraudulentas e repasses a políticos no mensalão. Ao todo, os desvios daquele escândalo não chegaram a R$ 200 milhões. Na Lava-Jato, as primeiras ações do MPF pedindo ressarcimento aos cofres públicos envolvem R$ 4,4 bilhões e os valores devem aumentar.

Outra dificuldade que o STF vai enfrentar para julgar a Lava-Jato, em tempo hábil está nas provas que terão que ser obtidas no exterior. No mensalão, a necessidade de cooperação internacional foi pequena, pois havia apenas uma apuração envolvendo país estrangeiro - uma intermediação de negócios com a Portugal Telecom. Na Lava-Jato, foram identificados vários repasses de dinheiro para contas na Europa e nos Estados Unidos e para obter esses dados é preciso acionar os mecanismos de cooperação internacional. Atualmente, o Departamento de Recuperação de Ativos Ilícitos (DRCI) do Ministério da Justiça consegue obter, em três meses, dados de contas suspeitas fora do país. Mas, se o STF optar pelo uso de carta rogatória, esse prazo pode se alongar.

A convocação de testemunhas - um direito da defesa - também pode alongar o prazo para o julgamento final. No mensalão, foram necessários três anos, a partir do recebimento da denúncia, em agosto de 2007, para ouvir todas as testemunhas requeridas pelos réus e essa fase só terminou em 12 de agosto de 2010.

Outro problema está na possibilidade de aposentadoria dos principais personagens envolvidos no julgamento da Lava-Jato. O ministro Joaquim Barbosa conviveu oito anos com o mensalão, entre a entrada do inquérito, em abril de 2006 e o julgamento dos últimos recursos dos condenados, em 2014. O relator dos autos da Lava-Jato no STF, ministro Teori Zavascki, não terá esse prazo, pois ele se aposentará ao completar 70 anos em 15 de agosto de 2018. Serão pouco mais de três anos dedicados à Lava-Jato.

No mensalão, a investigação teve início com o então procurador-geral Antonio Fernando de Souza. Mas ele estava aposentado quando o julgamento começou, em agosto de 2012, e a acusação foi representada pelo seu sucessor, Roberto Gurgel. Na Lava-Jato, Janot vai concluir o seu mandato de dois anos à frente do MPF em setembro deste ano. Ele pode ser reconduzido ao cargo, mas mesmo assim, apenas dois anos podem não ser suficientes para que o STF conclua o julgamento dos 28 inquéritos iniciais.

Apesar de ser um caso muito maior do que o mensalão, a Lava-Jato será julgada em outra sistemática pelo STF, o que deve favorecer os trabalhos da Corte e essa é a maior esperança de agilidade nas decisões. Ao invés de fazer um grande julgamento, como foi o mensalão - que durou um semestre e tomou 53 sessões do STF -, os ministros vão analisar os inquéritos de maneira fatiada - um por um.

Os réus sem foro privilegiado deverão ser enviados para julgamento na 1ª instância, o que reduz o trabalho dos ministros do STF. E, por fim, só serão julgados pelo plenário do Supremo os presidentes da Câmara e do Senado. Os demais serão votados na 2ª Turma, composta por quatro integrantes e para a qual a presidente Dilma Rousseff terá que fazer a indicação de mais um nome.

Zavascki pretende concluir até sexta-feira a análise dos 28 pedidos de abertura de inquéritos feitos por Janot. O ministro reconheceu que o tempo é curto e o trabalho é extenso, mas fará o possível para tomar todas as decisões o mais rapidamente que puder, trabalhando inclusive no período noturno. Como Zavascki deve quebrar o sigilo dos autos, se ele conseguir cumprir a tarefa nesse tempo, os nomes das 54 pessoas investigadas também será conhecido na sexta-feira, mais provavelmente ao fim do dia.