BRASÍLIA - O líder do PMDB e candidato à Presidência da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), convocou nesta terça-feira uma coletiva de imprensa para alegar que está sendo vítima de uma suposta armação que teria como objetivo constranger sua candidatura. O deputado diz ter sido procurado no último sábado em seu escritório no Rio de Janeiro por um homem que se apresentou como delegado da Polícia Federal e que teria lhe denunciado uma movimentação interna no órgão para incluir o nome de Cunha em um inquérito em andamento.

O suposto policial teria dado ao deputado uma gravação entre dois homens em que um deles se faz passar por um policial insatisfeito que teria sido “esquecido” por Cunha e estaria em busca de pagamentos. Eduardo Cunha distribuiu à imprensa CDs com cópias do áudio, que simula uma conversa entre uma pessoa que supostamente conhece o deputado com outra que aparenta ser um policial. Segundo o deputado, o homem teria lhe informado que a “armação” estava sendo orquestrada pela cúpula da Polícia Federal, a mando do governo.

OUÇA ABAIXO O ÁUDIO DIVULGADO POR CUNHA:

 

O deputado disse que o suposto policial lhe entregou uma cópia da gravação afirmando que seria inserida em um inquérito policial que teria autorização judicial para uso de escuta telefônica, como se fosse parte desse inquérito. Mas, não esclareceu se dizia respeito à operação Lava-Jato. Segundo Cunha, a justificativa do suposto policial para lhe comunicar a dita montagem seria por não concordar com o que estava ocorrendo e porque a classe teria “gratidão” em relação à atuação do deputado em temas de interesse da corporação.

– Já fui vítima de uma alopragem – não estou acusando ninguém, nem o ministro Mercadante com a referência do termo alopragem. Mas quero denunciar essa tentativa de farsa, de montagem, uma coisa absurda e que certamente a polícia vai comprovar que é mais uma daquelas tentativas de constranger a minha candidatura, o que não vão conseguir – alegou Cunha, que diz não reconhecer nenhuma das vozes no áudio.

 

 O diálogo entre os dois homens é marcado por incoerências. Em um momento, um deles diz para se encontrarem “no local de sempre” mas, em seguida, fala que irão se comunicar depois para marcar o local. Em outro trecho, o interlocutor pede para que outro não lhe telefone mais “por questões de segurança”, mas ao final da conversa pede que o outro lhe telefone para marcarem o encontro. Para Cunha, um dos homens pretendia fazer-se passar pelo policial afastado Jayme Alves, o “Careca”, que teria citado o deputado como beneficiário de pagamentos provenientes do esquema de corrupção na Petrobras.

O deputado disse que, orientado pelo vice-presidente Michel Temer, telefonou na manhã de hoje para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que está em Madri, e comunicou o fato a ele, afirmando que iria protocolar um ofício junto à pasta pedindo a instalação de inquérito policial federal para verificar o conteúdo da gravação.

 Quero que seja investigada essa montagem, essa farsa, as razões e os culpados. Cardozo se mostrou perfeitamente disposto a tomar providências e me pediu que procurasse o ministro interino. Meu pedido é que se faça perícia, sindicância, o que quiser. Não posso fazer acusações sem provas, mas a farsa que está sendo montada é semelhante a outras que foram montadas no nosso país. Não vou apontar nomes, porque não quero macular a honra de ninguém sem provas. Até porque o policial pode ter se aproveitado da situação e ter colocado nomes de pessoas que são desafetos dele – disse Cunha.