Dentro de alguns dias, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) receberá um conjunto de dados que, na visão petista, terá força para desgastar a imagem do senador Aécio Neves, presidente do PSDB, que ficou de fora do pedido de abertura de inquéritos feitos pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava-Jato.

A inclusão do ex-governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB) no rol dos políticos investigados na Lava-Jato já foi visto por tucanos como uma forma de o Planalto lançar sombra sobre a oposição. Anastasia nega qualquer participação.

Pimentel encomendou a seus secretários um balanço da era tucana assim que assumiu o governo, em janeiro. Os dados devem ser entregues entre meados e fim do mês. Uma fonte destacada do governo mineiro afirmou ao Valor que o trabalho dará ao PT novas armas contra Aécio. Para o PSDB, o governador de Minas tenta cumprir uma tarefa dada por Brasília.

Na avaliação da fonte, que falou com a reportagem na condição de que seu nome não fosse citado, o que virá do levantamento terá impacto sobre a imagem do tucano e sobre seus futuros planos eleitorais para 2018. Os tucanos governaram Minas por três mandatos seguidos (2003 a 2014) - dois deles do próprio Aécio e o terceiro de Anastasia. Na disputa de 2014, no entanto, ele perdeu em casa a disputa presidencial para Dilma. Minas é hoje o principal Estado governado pelo PT.

O que deve sair do levantamento é um conjunto de informações que contestarão muitos dos resultados que Aécio e seu grupo em Minas usaram, sobretudo na campanha, como sendo feitos de um jeito de governar eficiente e moderno.

Os alvos estarão espalhados: na forma como Aécio e seu grupo político lidaram com o abastecimento de água (tema que já gerou troca de ataques entre petistas e tucanos); na forma como interesses de mercado teriam se sobreposto a um plano de Estado para a Cemig e na política de remuneração por resultado aos policiais, o que, para o PT, encorajou policiais a registrar ocorrências a menos.

Na economia, entre os alvos, segundo apurou a reportagem, estarão críticas à forma como os tucanos lidaram com a dívida do Estado com a União (que não foi renegociada, como outros governadores fizeram); o cancelamento de empenhos de obras realizadas, que a política tributária virou uma colcha de retalhos que atrapalha empresários.

As críticas se estenderão também ao governo Anastasia (2011 até o início de 2014). Ontem, um interlocutor de Pimentel disse à reportagem que, por ora, petistas em Minas não estão vendo espaço para usar o inquérito contra Anastasia como discurso de ataque, uma vez que o PT tem sete integrantes sob investigação.

No PSDB mineiro, o balanço petista gera mal estar. A visão tucana é de que a iniciativa é tão somente uma forma de ataque político a Aécio.

Procurado pela reportagem, Aécio não comentou. Seu gabinete escalou o presidente do PSDB de Minas Gerais, o deputado federal, Marcus Pestana.

"O PT está no seu pior momento. A Petrobras, na gestão petista, foi rebaixada; a inflação é crescente, a economia enfrenta um quadro recessivo, há uma crise de confiança, a sociedade está inquieta e há especulações sobre impeachment", disse Pestana.

Aécio declarou há alguns dias que os protestos pró-impeachment de Dilma que estão sendo convocados, principalmente pelas redes sociais, para 15 de março são "fruto da indignação" em relação à "desordem" e ao "quadro recessivo" no país.

"É nesse contexto que o PT de Minas Gerais tenta cumprir uma tarefa nacional de procurar desconstruir a herança do governo Aécio, que é líder da oposição a alternativa de poder", acrescentou Pestana. Ele disse que as gestões do tucano foram reconhecidos no país e no exterior e que governo Pimentel precisa "começar a governar e parar de olhar pelo retrovisor".