O gabinete da presidente Dilma Rousseff está analisando seriamente o pedido do PT de reconsideração do veto à correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A intenção do presidente do Congresso, Renan Calheiros, é colocar o veto na pauta de votação ainda esta semana. É grande a possibilidade de o ato da presidente ser derrubado pelos congressistas, o que ajuda a explicar o recuo do Planalto diante de uma medida que parecia inegociável pela equipe econômica. O PT fez o pedido de reconsideração na última reunião da sua Executiva Nacional, faz duas semanas. A derrubada do veto pelo Congresso Nacional com o PT votando a favor de sua manutenção é o pior dos cenários para o Partido do Trabalhadores. Daí o pedido que o partido fez a Dilma, para não ter que simplesmente posicionar as bancadas no Senado e na Câmara a favor da derrubada do veto. O PT espera negociar todas as medidas do ajuste fiscal. O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) avisou os petistas que o assunto está sendo estudado. A bancada do PT já marcou duas vezes uma reunião com o ministro Joaquim Levy (Fazenda) para discutir o ajuste fiscal. As duas foram canceladas, na falta de mudanças que possam dar um pretexto ao partido para abraçar o arrocho do ministro da Fazenda. Dilma precisa ajustar "timing" do processo decisório Dilma vetou a lei e até agora não botou nada no lugar. O PT quer a manutenção da correção de 6,5% da tabela. Ontem a tarde a expectativa era que o apelo fosse atendido, mas havia outras possibilidades sobre a mesa de Mercadante, como o aumento do teto de isenção, o que atenderia boa parte do eleitor do PT na nova classe média. Um interlocutor do ministro conta o que está sendo discutido: "Ou ficam os 6,5% ou se faz alguma flexão que pode ser do tipo de escalonamento ou aumentar o teto da isenção". A eventual reconsideração não deve esvaziar as pressões por mudanças no ajuste fiscal, previstas para as manifestações marcadas para a próxima sexta-feira 13 "contra as medidas, em defesa da democracia, do Estado de Direito e da reforma política". Uma das principais patrocinadoras dos protestos é a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade vinculada ao PT. O partido, por seu turno, apoia a manifestação, mas seus principais líderes não devem comparecer aos atos. "Nós não estamos convocando, nós estamos apoiando", disse um dirigente do PT. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pensou em ir, mas desistiu - para não dar mais o que falar sobre a resistência petista ao pacote de Levy. A concessão ao PT faz parte das mudanças esperadas pelo partido e defendidas por Lula na postura da presidente. Ela já começou a receber as bancadas, a viajar mais aos Estados e deve entronizar o vice-presidente Michel Temer no núcleo decisório do governo. Não é que Temer vá participar de reuniões com os petistas do núcleo duro. É algo mais abrangente. A crítica que Dilma parece ter aceito é que Temer é o vice-presidente da República, deve ter livre acesso a ela e isso deve ser rotina e não uma exceção, em épocas de crise como se queixam os pemedebistas. Reuniões com Temer e os líderes aliados permitirão a Dilma monitorar com mais precisão a conjuntura e não ser surpreendida por atitudes como a do presidente do Senado, Renan Calheiros, quando devolveu ao Palácio do Planalto a MP que revê a desoneração da folha de pagamentos das empresas. No entorno da presidente Dilma afirma-se que em várias coisas ela tem mudado positivamente, como a decisão de reunir com as bancadas, viajar mais e chamar Temer para o centro das discussões do governo. Mas o processo de decisão da presidente continua precisando de ajuste, quase nunca está no timing certo. Na maioria das vezes, o processo decisório é muito demorado; em outras, muito apressado. Neste último caso, lembra-se da redução da tarifa da energia elétrica, decisão que a presidente não teve como sustentar. Hoje paga o preço político por ela. Neste caso também se inclui o pacote fiscal. As medidas corretivas no pagamento de pensões, do seguro defeso e do abono salarial foram anunciadas antes do pacote de ajuste fiscal propriamente dito. O fim das desonerações saiu de uma vez só, quando poderia sair primeiro para um setor e depois para o outro. Ou seja, a medida juntou todos contra o governo. "Ela está se esforçando bastante", diz um integrante do condomínio do poder. Mas há mudanças que precisam ser feitas com urgência, especialmente no núcleo da coordenação política do Palácio do Planalto, que Dilma parece ainda hesitar em fazer. A pergunta feita no entorno da presidente é sobre quem é o operador político do governo? No papel, ele seria o ministro Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), o órgão no Palácio do Planalto encarregado de fazer a articulação política com o Congresso Nacional. Pepe, no entanto, está inviabilizado politicamente. Depois que Renan devolveu a MP das desonerações, o ministro foi visitá-lo no Senado - ganhou um chá de cadeira de quase uma hora. A ex-ministra Ideli Salvatti ficou quase um ano como uma morta-viva no mesmo lugar de Pepe, antes de a presidente decidir substituí-la. Teme-se que o mesmo possa agora acontecer com o simpático gaúcho. A rigor, quem o Congresso e os partidos identificam como o principal operador político do Palácio do Planalto é o ministro Aloizio Mercadante, o poderoso chefe da Casa Civil de Dilma. Ao ministro são atribuídas algumas decisões que contribuíram para o isolamento político da presidente, como o apoio a uma candidatura do PT na Câmara, contra o favoritismo evidente do deputado Eduardo Cunha, e a manobra para a criação de novos partidos para reduzir a dependência do governo do PMDB, o que foi considerado um ato de guerra pelo maior aliado. Até agora, o esforço de recomposição política do governo era adiado pela expectativa do anúncio da lista de políticos da Lava-Jato. Agora tem o 15 de março, com as expectativas redobradas depois do panelaço de domingo. Os fins de semana ficaram muito mais longos em Brasília.