O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem novos cálculos para o tamanho e o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) nos anos de 2001 a 2011. As novas contas mostram que o Brasil cresceu mais que o anteriormente estimado ao longo daqueles onze anos e, como consequência, a economia brasileira, em 2011, era do tamanho de R$ 4,375 trilhões, valor R$ 230 bilhões superior ao que se estimava antes. Individualmente, a maior revisão ocorreu em 2011, quando a alta, em termos reais, passou de 2,7% para 3,9%.

O fato de a economia ser maior traz uma "ajuda" para as contas públicas que pode ser importante em tempos de questionamentos sobre sua solvência, pois as dívidas brutas e líquidas do setor público ficam menores na comparação com esse PIB nominal maior. Por outro lado, o crescimento maior, ancorado em investimento, mostra um "mix" de geração de riqueza um pouco melhor do que os dados anteriores.

No "novo" PIB de 2011, o consumo das famílias ficou um pouco menor (passou de um peso de 60,3% para 58,8%), enquanto a formação bruta de capital fixo (medida do que se investe em máquinas, equipamentos, construção civil e pesquisa e desenvolvimento) ganhou participação, indo de 19,3% para 20,6%.

A nova metodologia (que não foi uma 'invenção' do instituto brasileiro e sim uma incorporação às Contas Nacionais de uma metodologia internacionalmente discutida e que está sendo adotada por todos os países) também vai afetar os valores dos PIBs de 2012 a 2014, cujos dados serão divulgados no fim de março. Ainda não há, contudo, consenso entre os economistas sobre qual será esse impacto.

Na avaliação da LCA Consultores, o crescimento de 2012, por enquanto de 1%, será revisto para cima e ficará entre 1,5% e 2%. Já para 2013 e 2014, o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges, observa que o impacto da nova metodologia é mais incerto, pois há fatores que ajudam e outros que reduzem o PIB. Entre os fatores que "jogam contra" está o maior uso de térmicas e a crise da construção civil no ano passado. A favor, conta o uso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) para estimar a evolução de alguns segmentos do setor de serviços. Pela Pnad, a população ocupada evoluiu mais que o indicado na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), antes usada nessa estimativa.

O Bradesco também avalia que o desempenho real do PIB pode ter uma melhora modesta em 2012. No entanto, isso não deve acontecer em 2013, nem em 2014, diz o economista Igor Velecico. Ele pondera que o comportamento do PIB, quando revisado, tende a acompanhar a trajetória do mercado de trabalho. "A criação de empregos em 2011 sugeriria um PIB até maior do que essa alta de 3,9% divulgada", afirmou, em referência à taxa que antes era de 2,7%.

Em 2012, analisando a relação entre criação de vagas e crescimento, ainda haveria espaço para uma pequena revisão para cima no aumento de 1% do PIB, ainda que não muito significativa, avalia o economista do Bradesco. 2013 e 2014, no entanto, já foram anos em que a geração de vagas formais medida pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e o desempenho do PIB caminharam mais próximos, pondera Velecico. "O crescimento real está limitado pelo que aconteceu no mercado de trabalho. Em 2012 já teríamos chegado ao pleno emprego e, com isso, é de se esperar que o PIB cresça menos por uma restrição física", disse ele.

 

Mesmo que os dados de crescimento real de 2013 (alta de 2,7% de acordo com os dados atualmente disponíveis) e 2014 (previsão de crescimento zero, conforme estimativa média do mercado) não mudem com os novos cálculos, o aumento de 5,6% do PIB nominal em 2011 deve ter repercussões importantes sobre o nível de endividamento do setor público, ainda que a tendência de deterioração dos indicadores fiscais não deva ser alterada, observa Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

A LCA, o Banco ABC Brasil, o Bradesco e o Banco Brasil Plural estimam que a relação entre a dívida bruta do governo geral e o produto deve recuar de 63,5% registrados em dezembro para algo perto de 60%. O economista da LCA pondera, contudo, que a meta fiscal estipulada em 1,2% do PIB para 2015, que hoje corresponde a R$ 66,3 bilhões, ficaria também maior, passando um pouco de R$ 70 bilhões.

Leal, do ABC Brasil, comenta que, para fazer um superávit primário de 1,2% do PIB, o governo terá que ou fazer um esforço maior do que a poupança de R$ 66 bilhões sinalizada como meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias, ou reduzir a meta como proporção do PIB. Leal não vê problemas se for adotada essa última alternativa, já que um endividamento menor também requer um superávit primário mais baixo para estabilizá-lo.

Em relatório, o Banco Brasil Plural estima que o esforço fiscal a ser feito, a partir da atualização da série história para as Contas Nacionais deve, porém, ser muito pouco reduzido. Para o banco, o resultado primário do setor público necessário para estabilizar a relação dívida/PIB caiu apenas 0,2 ponto percentual após a revisão divulgada ontem pelo IBGE.

Semana passada, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, deu uma indicação de que o governo pode não aumentar a meta por causa das mudanças na série história do PIB, ao enfatizar que a meta é nominal, de R$ 66,3 bilhões.

Na opinião do professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda, as revisões tornam também mais distante o risco de um eventual rebaixamento da nota soberana do país pelas agências internacionais de classificação de risco, justamente porque melhoram, entre outros aspectos, as relações de endividamento do país sobre o PIB. Este é um dos principais indicadores entre os observados por estas instituições.