Com a cúpula dividida com relação a uma possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o PSDB divulgou ontem nota oficial manifestando apoio às "manifestações de indignação dos brasileiros diante da flagrante degradação moral e do desastre econômico-social promovidos pelo governo Dilma Rousseff".

Na nota, o partido convoca militantes e simpatizantes para participar dos atos. "Acreditamos que a participação popular melhora as instituições e eleva os padrões de governança pública. Por isso, o PSDB, através de seus militantes, simpatizantes e várias de suas lideranças participará, ao lado de brasileiros de todas as regiões do país, desse movimento apartidário que surge do mais legítimo sentimento de indignação da sociedade brasileira." O apoio aos atos convocados para domingo, 15 de março, foi divulgado após reunião da Executiva Nacional, na qual ficaram claras as divergências em relação a um processo de afastamento de Dilma.

O presidente nacional do partido e candidato derrotado à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), decidiu não comparecer às manifestações, embora os militantes sejam estimulados a fazê-lo. Aécio explicou, após a reunião da executiva, que sua ausência nesses atos deve-se à preocupação de não acirrar a discussão sobre um terceiro turno das eleições. "Não estamos proibindo e nem proibidos de falar sobre impeachment. Mas, neste momento, isso não está na agenda do PSDB", disse o dirigente após a reunião.

Na nota, a cúpula tucana repudia o cerceamento do direito à livre manifestação e a tentativa de setores aliados do governo de convencer a população de que "a crítica aos governantes se confunde com atentados contra a ordem institucional e o Estado de Direito".

"Não aceitamos patrulhamento do PT. Chegaram ao ridículo de dizer que patrocinamos o panelaço. Nem que tivéssemos crédito ilimitado nas Casas Bahia ou no Ricardo Eletro teríamos dinheiro para comprar tantas panelas para atender a tantos brasileiros", afirmou Aécio. O senador se referiu aos protestos que ocorreram no dia 8 de março, durante pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em cadeia de televisão.

O senador considerou arriscado o fato de movimentos sociais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e outras entidades terem convocado manifestações para amanhã em defesa da Petrobras e dos trabalhadores e contra tentativa de golpe contra a presidente.

"Estamos vendo algo inédito no Brasil contemporâneo. Tradicionalmente, é a oposição que organiza protestos. Estamos vendo um governo tão perdido, que setores ligados a ele é que estão indo às ruas protestar", disse.

Ele lembrou o episódio em que o ex-presidente Fernando Collor, ameaçado de impeachment, conclamou a população para sair às ruas para defendê-lo e a resposta foi gente vestida de preto se manifestando. "Quando Collor fez isso, nós assistimos àquele resultado."

Na reunião, ficaram patentes as divergências com relação a eventual processo de impeachment. Por enquanto, o partido não tem posição sobre o assunto. O próprio Aécio e outras lideranças, como o senador Tasso Jereissati (CE), são cautelosos em relação aos desdobramentos políticos de um afastamento da presidente. Mas há setores da própria Executiva Nacional mais inflamados, que defendem o apoio a um processo como esse.

"O partido tem que apoiar toda e qualquer manifestação da população, que clame os seus direitos, por cobrança a seus governantes, desde que ocorram dentro da ordem pública, de forma pacífica. Agora, do ponto de vista político, só o tempo dirá até onde esse movimento vai chegar", afirmou o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que é líder da oposição na Câmara dos Deputados.

Segundo ele, que bateu panela no plenário da Câmara na terça-feira, um eventual caminho para o impeachment vai depender do avanço - ou não - dos movimentos populares e dos desdobramentos das investigações da Operação Lava-Jato.

A expectativa é que depoimentos do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, "aumentem a temperatura" contra o governo e o PT. Na reunião, foi discutida a campanha para aumentar o número de filiações ao partido, que será lançada em 8 de abril e culmina com o congresso do partido, em julho, na qual haverá eleição da próxima direção partidária. Aécio deverá ser reeleito presidente. O partido quer aproveitar o ambiente de descontentamento com o governo para aumentar seus filiados.

Em uma manifestação mais cautelosa do que a dos tucanos, o DEM diz aplaudir o movimento, com o cuidado de retirar o caráter partidário da iniciativa. Segundo o presidente nacional do partido, senador José Agripino (RN), o DEM dá "completa solidariedade e os militantes estão liberados para participar ou não. Aplaudimos sem querer nos apropriar da iniciativa". Na nota, o DEM afirma que "os movimentos de protestos que vêm ocorrendo são legítimos, dignos pelo seu caráter pacífico e, portanto, merecedores do nosso respeito".

Com dezesseis deputados, o também oposicionista Solidariedade foi a primeira sigla a formalizar o apoio a um eventual impeachment. O partido anunciou ontem que começou a coleta de assinaturas para o impeachment da presidente da República Dilma Rousseff. O presidente da sigla, deputado federal Paulinho da Força, também é o dirigente da Força Sindical, única central que não vai participar do ato convocado para esta sexta, contra o ajuste fiscal do governo.

 

Para militar, Collor foi afastado por menos

 

Porta-voz informal da opinião corrente no oficialato do Exército, o Clube Militar manifestou simpatia pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Representando a entidade, o primeiro vice-presidente, general da reserva Sérgio Costa de Castro, disse que os escândalos envolvendo a Petrobras geram "muita insegurança" no país e afirmou que o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo "por muito menos".

"Estamos acompanhando com preocupação esse desgaste grande não só do Executivo, mas também do Legislativo. Vemos com apreensão como tudo isso vai acabar", afirmou Castro ontem ao Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor. "O desgaste da presidente é enorme, é preocupante. Como é que vai governar?", disse.

Na avaliação do general, os protestos populares contra a presidente se assemelham ao momento anterior ao golpe militar, em 1964. O general afastou a possibilidade de intervenção das Forças Armadas mas ressaltou: "Estamos vivendo uma época em que tudo pode acontecer." Segundo o general, uma intervenção armada pode ocorrer "se houver conflito social ou ameaça de guerra civil" mas disse que "o caminho natural seria o impeachment, que é um processo político". "As Forças Armadas só vão interferir se houver conflito social, uma ameaça de guerra civil", afirmou Castro.

"E se o presidente Lula lançar o exército do Stédile contra o povo?", indagou Castro, em uma referência à declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um evento em defesa da Petrobras, de que o líder do MST poderia colocar seu "exército na rua" para defender a estatal.

O general afirmou que o Clube Militar não está participando diretamente da organização dos atos contra Dilma. A entidade tem 36 mil associados, majoritariamente militares da reserva.

O general disse que os escândalos de corrupção envolvendo políticos, investigados na Operação Lava-Jato e citados na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, são um sinal de uma crise de valores na sociedade brasileira. "Os valores estão deturpados", disse. Na próxima semana, no dia 19, o Clube Militar lançará uma campanha pela "moralidade".

Em sua página na internet, a entidade é descrita como um ambiente frequentado por pessoas "de excelente poder aquisitivo e elevado padrão sócio-cultural".

 

"PT nunca esteve tão paralisado", diz petista

 

Tesoureiro da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, o deputado estadual Edinho Silva (SP) reconheceu erros do PT e afirmou que o partido nunca esteve tão paralisado como está no início do quarto mandato da legenda na Presidência.

Integrante da direção nacional do PT e ex-presidente do diretório paulista, Edinho disse que não há novidades no momento conturbado enfrentado pelo governo Dilma. "Há, sim, erros no nosso campo político. Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados", afirmou, em carta aberta ao PT, divulgada por e-mail na tarde de terça-feira.

Depois de manifestações contra a presidente no domingo e às vésperas de novos protestos contra o governo, Edinho alertou para o imobilismo do partido e disse que sem uma reação o PT pode acabar. "Há momentos na história que a dúvida leva à derrota e há momentos que o recuo leva ao aniquilamento", escreveu o petista, afirmando que "é hora" de petistas pegarem "a história nas mãos". "Sem o PT não existirá esquerda forte no Brasil, não existirá campo progressista e transformador", afirmou Edinho, que é ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em meio às denúncias apontadas pela operação Lava-Jato, que investiga esquemas de corrupção na Petrobras, Edinho criticou os petistas que usaram o partido para se enriquecer.

"Se a corrupção é endêmica e povoa as instâncias governamentais, ela tem que ser combatida com muita dureza. Errado está quem desrespeitou a nossa história", afirmou no texto. "Nós nascemos e nossa existência só se justifica por sermos o maior e mais robusto instrumento de lutas 'para a libertação integral do povo brasileiro'. Não podemos e não vamos servir a outros interesses", afirmou o tesoureiro da campanha presidencial.

Um dos raros dirigentes petistas a expor a falta de apoio do partido a Dilma, Edinho disse que o governo e o PT são um binômio e dependem um do outro para sobreviver à crise. "Sim, é um binômio. Engana-se quem pensa que um superará esse momento sem o outro".

As críticas foram elogiadas pelo ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu que, em seu blog na internet, classificou como uma "excelente reflexão" para o partido. Condenado no julgamento do mensalão, Dirceu destacou, entre outros trechos, as críticas à corrupção e a afirmação que o PT sempre defendeu o "combate com muita dureza" dos desvios.