Título: Furnas é o alvo
Autor: Pariz, Tiago; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 22/07/2011, Política, p. 3

A presidente Dilma Rousseff deve promover, nas próximas semanas, modificações na diretoria de Furnas, uma das principais subsidiárias do setor elétrico. No início do ano, a presidente já havia trocado o então diretor-geral, Carlos Nadalutti Filho, por Flávio Decat. Mas como não alterou a composição da diretoria, Furnas ficou praticamente paralisada nesses cinco meses por ausência de clima para decisões colegiadas.

A primeira baixa deve ser do atual diretor-financeiro, Luiz Henrique Hamann, ligado politicamente ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). O nome mais cotado para substituí-lo é de Paulo Sérgio Petis, homem de confiança de Decat e que tem total apoio de Dilma.

As mudanças não devem parar por aí. A presidente está disposta a retomar as nomeações no setor elétrico, iniciadas no fim de janeiro mas interrompidas em seguida pela necessidade de composição com o PMDB no Congresso. Dilma demonstrou disposição para romper o feudo do partido no setor e o estopim para a alteração foi o surgimento de um dossiê apontando Furnas como alvo de irregularidades comandadas pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Dilma resolveu, então, nomear Decat, homem de sua confiança desde os tempos em que a presidente era ministra de Minas e Energia.

Mas Decat ficou engessado. Pelo estatuto da empresa elétrica, as nomeações para a diretoria precisam ser decididas pelo Conselho de Administração, do qual o governo federal é sócio majoritário. Segundo apurou o Correio, Dilma reconheceu que a atual composição da cúpula de Furnas ainda reflete o poderio de Cunha na empresa. Os pemedebistas ¿ assim como o PR no caso do Ministério dos Transportes ¿ pedem isonomia do Planalto no tratamento aos indicados pelo PT. Se Hamann sair, o diretor de Gestão Corporativa, Luís Fernando Paroli Santos, indicado pelo petista Odair Cunha (MG), não poderá permanecer no quadro diretor.

É pouco provável que a Eletrobras entre nessa lista de mudanças ¿ a empresa teve seu presidente substituído no início do ano, saindo José Antonio Muniz Lopes Filho para a entrada de José da Costa Carvalho Neto, o Costinha. Mas ainda há espaço para mexidas na Eletronorte e na Chesf. Nessa última, o atual presidente, Dilton da Conti, perdeu o apoio político do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que já sinalizou o interesse de substituí-lo após oito anos no comando da empresa. Dilton também ficou fragilizado após o apagão de mais de cinco horas em sete estados da Região Nordeste.

A presidente teve que interromper as substituições no setor elétrico para não confrontar o PMDB em um momento que precisava do partido em votações importantes no Congresso, como o salário mínimo e o Código Florestal. Depois, o principal articulador dessas trocas, o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, envolveu-se na crise deflagrada com a descoberta de seu expressivo aumento patrimonial e teve de deixar a pasta. O Planalto ainda se refazia quando o Ministério dos Transportes foi atropelado pelo escândalo de superfaturamentos em obras. "Mas a presidente está se sentindo mais à vontade com a faxina nos indicados do PR e acha que isso poderá reforçar a ação no setor elétrico", disse um político que milita na área. (PTL)