O ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco afirmou em sua delação premiada no âmbito da Lava Jato que em dez anos, entre 2003 e 2013, o PT arrecadou até US$ 200 milhões em propinas por meio do esquema de corrupção e cartel na estatal. O depoimento serviu de base para a nona fase da operação, deflagrada ontem pela Polícia Federal.

A ação teve como alvo principal uma rede de operadores que, segundo as investigações, atuou na Diretoria de Serviços da estatal por intermédio do ex-diretor Renato Duque, indicado pelo PT, e o tesoureiro nacional da legenda, João Vaccari Neto – que foi levado coercitivamente para depor na sede da PF em São Paulo.

Segundo Barusco, que era braço direito de Duque e foi apontado como operador do ex-diretor na estatal, os desvios ocorreram em ao menos 90 grandes contratos da Petrobrás nesse período. Duque ocupou a Diretoria de Serviços entre 2004 e 2012. Na sexta-feira passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal parecer em que defende a volta à prisão de Duque por risco de o ex-diretor da Petrobrás fugir do País. Procurada ontem, a defesa de Duque não foi localizada.

O depoimento de Barusco, prestado no dia 20 de novembro, foi divulgado ontem nos autos da Justiça Federal no Paraná, onde tramitam processos e inquéritos da Lava Jato. Segundo integrantes da força-tarefa da Lava Jato, a ação teve como objetivo coletar provas de desvios ocorridos na Diretoria de Serviços da estatal realizados por uma rede de 11 operadores, incluindo o tesoureiro do PT.

Em seu depoimento, Barusco afirma que Vaccari arrecadou entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propinas para o partido a partir de porcentagens cobradas de 1% a 2% do valor de contratos da estatal firmados por quatro diretorias – além da de Serviços, a de Abastecimento, Gás e Energia e Exploração e Produção. O PT, segundo ex-gerente, “representado” pelo tesoureiro do partido, ficava sempre com metade do porcentual arrecadado ilegalmente.

Vaccari chega a sede da PF para prestar depoimento. Foto: Felipe Rau/ Estadão.

Vaccari chega a sede da PF para prestar depoimento nesta quinta-feira, 5. Foto: Felipe Rau/ Estadão.

Contra Vaccari foi expedido um mandado de condução coercitiva e ele teve de prestar depoimento na PF, em São Paulo. O tesoureiro falou à PF durante três horas e foi liberado no início da tarde. Ele negou envolvimento.

O ex-gerente entregou à força-tarefa da Lava Jato um mapa de 90 contratos (obras da Refinaria Abreu e Lima, instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, acordos com empresas de fachada, entre outros) onde teria ocorrido pagamento de comissões. Apontou nomes de beneficiários, porcentuais de propinas, números de contas e nomes de instituições bancárias. Ele indicou inclusive uma conta no Panamá por meio da qual Vaccari teria operado valores ilícitos.

Das 26 empresas que Barusco apontou como integrantes do esquema, a maioria é de fachada. Elas foram usadas para fazer circular dinheiro ilícito por meio de emissão de notas fiscais sobre serviços e consultorias não realizados. Em um único endereço em São Paulo “funcionavam” sete empresas do esquema.

O ex-gerente revelou ter sido montado esquema de propinas em outras áreas da estatal, como a construção de sondas de perfuração em alto mar, por estaleiros – contratações que envolveram ao todo US$ 22 bilhões.

Provas. A ação da Lava Jato deflagrada nesta quinta trouxe ainda uma nova frente de investigações envolvendo contratos da BR Distribuidora com uma empresa de Santa Catarina. Duas pessoas foram presas em Itajaí, no litoral do Estado.

O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse que a nona fase da Lava Jato ainda está no estágio de “semeadura de provas”. Segundo ele, a oitiva de Vaccari Neto tinha por objetivo obter “informações a respeito de doações que ele (o tesoureiro) solicitou, legais ou ilegais, envolvendo pessoas que mantinham contratos com a Petrobrás”. Indagado se o dinheiro ia em forma de doações para o PT, o procurador afirmou: “Não posso dizer exatamente o destino porque nem sempre doações passam pelo caminho legal”.

Em outubro, o empreiteiro Augusto Ribeiro Mendonça Neto – que também fez acordo de delação premiada na Lava Jato – admitiu ter pago parte da propina cobrada por ex-diretores da Petrobrás na forma de doação oficial para campanhas eleitorais do PT.

Segundo a Procuradoria da República, os 11 operadores da Diretoria de Serviços tinham a mesma função do doleiro Alberto Youssef na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, controlada pelo PP.

A operação tinha como objetivo cumprir 62 mandados judiciais: um de prisão preventiva, três de prisão temporária, 18 de condução coercitiva e 40 de busca e apreensão nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina./ COLABORARAM FÁBIO FABRINI, ANDREZA MATAIS E MATEUS COUTINHO

VEJA O TERMO DE COLABORAÇÃO PREMIADA DE PEDRO BARUSCO

VEJA A NOTA COMPLETA DE VACCARI:

“João Vaccari Neto, secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores – PT, por sua defesa, vem a público para dizer que há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome.

Reitera, mais uma vez, que o Partido dos Trabalhadores – PT, não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a Lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes.

Sua defesa registra ainda, que o Sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos, e que sua condução coercitiva, desta data, entendeu-se desnecessária, pois bastaria intimá-lo, que o Sr. Vaccari comparece e presta todas as informações solicitadas, colaborando com as investigações da operação “Lava Jato”, como sempre o fez.”

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA OFICIAL DO PT:

“A assessoria de imprensa do PT reitera que o partido recebe apenas doações legais e que são declaradas à Justiça Eleitoral. As novas declarações de um ex-gerente da Petrobras, divulgadas hoje, seguem a mesma linha de outras feitas em processos de “delação premiada” e que têm como principal característica a tentativa de envolver o partido em acusações, mas não apresentam provas ou sequer indícios de irregularidades e, portanto, não merecem crédito. Os acusadores serão obrigados a responder na Justiça pelas mentiras proferidas contra o PT.”