Título: Constrangimento e alívio
Autor: Sassine, Vinicius ; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2011, Política, p. 2-5

O escândalo que atinge a direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) mexe com a rotina e com o humor dos servidores do órgão. Pelos corredores, na hora do almoço e durante o cafezinho, o assunto é o aparelhamento político e as denúncias de corrupção que atingem, em alguns casos, chefes de setores que lidavam diretamente com grande parte dos servidores. "É um ambiente muito conturbado, está todo mundo estressado. Estamos constrangidos. Parece que todo mundo no Dnit é corrupto", reclama uma funcionária que trabalhava com um dos 15 servidores demitidos pela presidente Dilma Rousseff.

Os trabalhadores sindicalizados, no entanto, reconhecem no escândalo o momento ideal para que o órgão seja reestruturado e realizam atos pela moralização do departamento. Os funcionários rejeitam a tese de omissão institucional diante do mau uso do dinheiro público e alegam que tentaram alertar as autoridades para os problemas do Dnit, mas não foram ouvidos. André Hernandes, servidor do órgão em São Paulo e diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Federais do estado, lembra que, em 2008, os funcionários fizeram greve e levaram os problemas para a rua durante os protestos. "É muita revolta. Engenharia é assunto técnico, não é político. O Dnit está há muito tempo abandonado."

O funcionário Fausto Emílio Medeiros, secretário da seção do Dnit no Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Distrito Federal, conta que, em junho do ano passado, a Comissão de Ética do órgão elaborou um projeto com regras de conduta interna e entregou à diretoria, mas a proposta ficou engavetada. Medeiros denuncia ainda que os servidores que criticavam o aparelhamento político do órgão e apontavam supostas irregularidades na gestão eram perseguidos. "Estamos aliviados, porque a casa está sendo limpa. Acaba essa aura de improbidade. Agora, estamos discutindo propostas para contribuir com o governo na retomada do departamento, com o marco regulatório da ética. Fomos muito perseguidos por isso." (JJ)