A Petrobras reduzirá em 30% seus investimentos este ano. A decisão da estatal e um corte, previsto
por analistas, de 15% nos projetos das empreiteiras devem fazer o PIB ficar negativo em 2015. A
Petrobras pretende investir entre US$ 31 bilhões e US$ 33 bilhões neste ano, números que representam
queda de até 30% nos investimentos em relação ao ano passado, quando destinou cerca de US$ 44
bilhões, segundo dados de seu plano de negócios. A medida foi antecipada pelo GLOBO na semana
passada. A redução dos investimentos da Petrobras e de 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava­
Jato pode representar perda de até 1,9 ponto percentual na economia brasileira em 2015, segundo
projeção da consultoria Tendências. A conta considera um corte de 15% nos recursos investidos pelas
empresas de construção. E com isso, economistas já preveem um cenário de estagnação e até de retração
para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).
Estimativas da GO Associados indicam que pode haver perda de até R$ 7 bilhões na arrecadação de
impostos e de R$ 16 bilhões na massa salarial dos trabalhadores, num cenário onde já se previa aumento
da taxa de desemprego este ano. Com essa projeção, a massa salarial ficaria estagnada. Nos cálculos da
GO, considerando apenas o corte de investimentos da Petrobras, o impacto negativo no PIB é de 1 ponto
percentual, com base nos efeitos diretos e indiretos.

O impacto direto de menos investimentos é na área de infraestrutura, já que boa parte dos
recursos da Petrobras vai para exploração e produção. Só que há efeitos indiretos. Quando se corta
investimentos, há dispensa de trabalhadores, esse desemprego afeta a renda e o consumo — afirma
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.
Trata­se do efeito multiplicador: a cada R$ 1 gasto em investimentos, a movimentação na economia é
de R$ 1,90, segundo a Tendências. O peso da Petrobras no PIB é de 2%, enquanto o das 23 empresas de
construção é de 2,8%. Pelas contas da GO Associados, esse efeito multiplicador é um pouco maior, de R$
2,15 a cada R$ 1 investido.

Se considerarmos apenas o efeito no setor de petróleo e gás, haveria queda de 0,1 ponto
percentual, mas isso chega a 1 ponto percentual se incluirmos setores como transporte, eletricidade,
fabricação de máquinas e equipamentos e construção — explica a economista da GO Associados Mariana
Orsini.

EXPANSÃO MENOR DA PRODUÇÃO
A projeção da Tendências para o PIB em 2015 passou de expansão de 0,6% para queda de 0,5%,
visto que a estimativa anterior já levava em conta algum efeito da Operação Lava­Jato. A GO Associados
previa alta de 0,5% da economia este ano, revisou a projeção para estagnação e agora, com o corte de
investimentos da Petrobras, admite que o número pode ser negativo em até 1%.
Entre janeiro e setembro do ano passado, a Petrobras já havia reduzido seus investimentos em 10%,
para R$ 62,543 bilhões. Segundo analistas, a redução tem como objetivo preservar o caixa da empresa,
que, por conta das investigações de corrupção, não vai conseguir obter crédito no exterior ao longo deste
ano.
Para isso, a companhia pretende se concentrar em projetos para aumentar a produção de petróleo. A
meta, agora, é que sua produção tenha alta de 4,5% neste ano, com margem de um ponto para cima ou
um ponto para baixo. No ano passado, a meta de aumento da produção oscilou entre 6,5% e 8,5%.
Porém, a Petrobras obteve alta de 5,3%, para 2,034 milhões de barris por dia — ou seja, abaixo da meta.
A empresa pretende ter geração de caixa operacional entre US$ 28 bilhões e US$ 33 bilhões neste
ano. No ano passado, entre janeiro e setembro, a geração de caixa operacional foi de US$ 16,4 bilhões (ou
R$ 42,3 bilhões), uma queda de 11% em relação a 2013. A Petrobras ressaltou ainda que terá “à
disposição garantias da União Federal para os recebíveis (títulos de valor a receber) do setor elétrico, que
permitirão a negociação desses créditos no mercado bancário”. Em 30 de setembro de 2014, a empresa
possuía recebíveis do setor elétrico no total de R$ 10,313 bilhões.
Para reforçar o caixa, a empresa informou ainda que fará “desinvestimentos em 2015, com potencial
de contribuição ao caixa em níveis próximos aos realizados em 2014”.