Título: Aproximação com os rebeldes
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2011, Política, p. 7

Indicação do deputado Arlindo Chinaglia e do senador Walter Pinheiro para relatar o Orçamento e o Plano Plurianual reflete a tentativa do governo em estreitar a relação com esses petistas, que não são alinhados ao Palácio do Planalto

Dois petistas considerados independentes em relação ao Palácio do Planalto ¿ o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o senador Walter Pinheiro (PT-BA) ¿ serão responsáveis por relatar assuntos estratégicos para o governo: o Orçamento para 2012 e o Plano Plurianual (PPA) 2012-2015. Os dois nomes foram escolhidos pelas bancadas de parlamentares e tiveram o aval da presidente Dilma Rousseff, interessada em estabelecer uma melhor relação com a dupla. O líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS), não acredita que terá problemas com os dois relatores. "O que conta, para mim, é a capacidade do Walter e do Arlindo e o cuidado que eles têm com os recursos públicos", destacou Ribeiro.

Chinaglia foi o principal articulador da eleição de Marco Maia (PT-RS) para a Presidência da Câmara, derrotando o candidato preferido de Dilma, Cândido Vaccarezza (PT-SP). É apontado também como um dos responsáveis por minar o apoio da bancada ao ex-ministro de Relações Institucionais Luiz Sérgio e tentar emplacar o nome de um aliado para a vaga. Caberá a ele relatar o primeiro Orçamento elaborado pelo governo Dilma. "Não vejo nenhum problema na minha relação com o Planalto. O governo tem preocupação com o país e eu também", disse Chinaglia ao Correio. O líder do PT na Casa, deputado Paulo Teixeira (SP), lembrou que Chinaglia foi presidente da Câmara, líder da bancada e líder do governo, o que lhe confere todas as credenciais para relatar o Orçamento.

Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), responsável pela indicação de Walter Pinheiro para o PPA (plano que estabelece as medidas, os gastos e os objetivos a serem seguidos pelo governo federal ao longo de um período de quatro anos), afirma que a escolha foi consensual na bancada, apesar de um desejo do senador José Pimentel (CE) de também relatar o projeto. "Não acredito que haverá qualquer dificuldade, pela natureza das matérias e pelo perfil dos indicados", ponderou Costa.

Walter Pinheiro esteve prestes a deixar o PT em 2003, quando discordou da reforma da Previdência proposta pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva e comandou um movimento interno de pressão. Outros integrantes daquele grupo, como a ex-senadora Heloisa Helena (AL) e o deputado Chico Alencar (RJ), deixaram o PT para fundar o PSol. Pinheiro permaneceu na sigla, foi indicado secretário de Governo de Jaques Wagner na Bahia, sendo eleito senador no ano passado. Este ano, foi uma das vozes mais incisivas na cobrança de que o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci deveria dar explicações convincentes sobre o aumento patrimonial de 20 vezes verificado em um período de apenas quatro anos.