Shinko Nakandakari, apontado como operador da propina paga em contratos da Diretoria de Serviços da Petrobras, afirmou em depoimento de delação premiada da Operação Lava Jato que entregou dinheiro “em espécie diretamente a Renato Duque”. Indicado pelo PT, Duque comandou a Diretoria de Serviços da estatal entre 2003 e 2012.

Shinko, como é conhecido, afirmou que, ao todo, chegaram às mãos de Duque, direta ou indiretamente, R$ 5,4 milhões de propina da empreiteira Galvão Engenharia - uma das 16 acusadas de formar um cartel para atuar em contratos da Petrobras.

Segundo a Lava Jato, a Diretoria de Serviços era cota do PT no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás. Duque teria sido indicado pelo ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção no escândalo do mensalão - Dirceu nega a indicação.

Por meio diretoria, eram arrecadados até 2% de todos os contratos da estatal, por ser a área responsável pelas licitações das demais diretorias. O PMDB, controlava a Diretoria Internacional, e o PP, a de Abastecimento.

Tratado por Shinko como “nobre”, Duque teria recebido propina em mãos em dois restaurantes em hotéis de luxo, em Copacabana e Ipanema, no Rio. “(Foi) R$ 1 milhão no período de julho de 2011 e março de 2012. (Foi) entregue em espécie diretamente a Renato Duque”, afirmou Shinko, em depoimento prestado no dia 19 de fevereiro.

Ainda segundo o operador, depois de março de 2012 e até o início de 2014, o dinheiro foi entregue pessoalmente a Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobras. Subordinado a Duque, Barusco também fez acordo de delação premiada.

Shinko entregou à Lava Jato notas fiscais emitidas à Galvão por uma empresa de consultoria aberta em nome de seus filhos (a LSFN). As notas serviriam para “esquentar” a propina, afirmou no depoimento.

Duque foi preso pela Lava Jato em 14 de novembro de 2014, acusado de ser o diretor indicado pelo PT para arrecadar propina em nome do PT. Em 3 de dezembro, ele foi solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-diretor está entre os alvos das novas denúncias criminais da Lava Jato. Ele será acusado formalmente pelo Ministério Público Federal por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa - em uma primeira etapa.

Por meio de assessores, Duque afirmou ontem “jamais ter mantido relacionamento ilícito com o sr. Shinko Nakandakari.” A Galvão Engenharia sustenta que “os pagamentos feitos (pela empreiteira) resultaram de prática de extorsão e concussão, conforme relatado às autoridades competentes”.

Barusco já havia confirmado em sua delação, em novembro, que recebeu valores entregues por Shinko em nome de Duque. “(Shinko) entregava pessoalmente o dinheiro em euros, reais ou dólares, sempre na quantia correspondente a aproximadamente R$ 100 mil”, afirmou em um de seus depoimentos da delação.

O ex-gerente explicou que depois entregava a parte do ex-diretor pessoalmente a ele. Em algumas ocasiões, o pagamento teria ocorrido dentro da Diretoria de Serviços, na sede da Petrobrás, no Rio. Por ter feito a delação, Barusco aguarda a conclusão dos processos em liberdade.

Mensagens

Shinko entregou também à força-tarefa da Operação Lava Jato cópias de e-mails trocados com diretores da empreiteira para mostrar atuação ativa da empresa na corrupção. O delator foi acusado por Erton Medeiros Fonseca - um dos executivos presos desde 14 de novembro de 2014 - de ter extorquido a empreiteira em nome de Duque e Barusco. “Estranha o fato de ter sido ‘denunciado’ por Erton”, afirmou no depoimento. “A iniciativa de oferecer a vantagem indevida foi sempre da empresa Galvão”, afirmou Shinko. Segundo ele, eram feitas reuniões semanais com Erton Medeiros Fonseca, em que era “comunicado o valor que deveria ser levado para Pedro Barusco e Renato Duque”.

Os valores da propina “vinham preestabelecidos da direção da Galvão” - correspondendo a um porcentual do aditivo ou contrato mantido pela empreiteira com a Petrobras. As propinas eram chamadas de “direitos”. Enquanto Duque era tratado como “nobre”, Barusco era chamado de “amigão”.

Sigilo

A Justiça Federal decretou o bloqueio de R$ 106 milhões de outro ex-diretor da Petrobrás. Nestor Cerveró. Responsável pela área Internacional da estatal entre 2003 a 2008, ele é acusado de receber propinas na cota do PMDB. Cerveró está preso desde janeiro. Ele já é réu em duas ações criminais da Lava Jato, uma por corrupção passiva, a outra, instaurada nesta quarta feira, por lavagem de dinheiro. No mesmo despacho - do final do mês passado -, a Justiça ordenou a quebra do sigilo fiscal de Cerveró no período de 2004 a 2014. Os e-mails do ex-diretor também serão abertos a partir de 2003.