Título: Crise da saúde vem de longe
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Fonte: Correio Braziliense, 22/07/2011, Opinião, p. 10

Tornou-se lugar-comum dizer que a saúde do Distrito Federal pede socorro. Ou que se encontra na UTI. O diagnóstico procede. O quadro piora à medida que o tempo passa e o Entorno incha. Sem oferecer assistência médica, os municípios vizinhos obrigam a população a buscar tratamento na capital da República.

Há prefeituras que dispõem de ambulância com motorista cuja tarefa é transportar os enfermos para as portas de nossas unidades hospitalares. Não se trata de um ou dois doentes. Nem de uma ou duas cidades. São levas de vizinhos que aqui desembarcam.

Além do problema crônico que lhe sufoca a capacidade de dar respostas rápidas aos desafios, o DF enfrentou um drama pontual. A Operação Caixa de Pandora imobilizou a administração por mais de um ano. De novembro de 2009 até praticamente a posse de Agnelo Queiroz, em 1º de janeiro de 2011, passando pelo governo-tampão de Rogério Rosso, concursos, licitações e contratações precisaram ser adiados. Obras foram interrompidas. Urgências entraram em compasso de espera. Entre elas, providências relacionadas à saúde.

Mais: os servidores de nível médio e superior (exceto médicos e enfermeiros) decidiram cruzar os braços. A greve se estendeu de 27 de junho a 12 de julho. Durante 15 dias ¿ sem auxiliares, padioleiros, técnicos em radiologia e enfermagem, profissionais administrativos ¿, médicos e enfermeiros ficaram de mãos atadas. Centros de saúde, hospitais e unidades de pronto atendimento não tinham como atender a demanda. UTIs e emergências funcionaram com 30% da capacidade.

Vale o exemplo do drama vivido pelos pacientes que aguardam o resultado da biópsia de tumores suspeitos de serem cancerosos. No Hospital de Base (HBDF), a espera chega a seis meses. Os exames estão prontos, mas faltam servidores para digitar o laudo. É desesperador, sem dúvida. Muitos veem a vida se escoar pelos escaninhos da burocracia.

O governador, ao tomar conhecimento do fato, agiu com rapidez. Determinou providências imediatas. Ou a Secretaria de Saúde remaneja pessoas de outras áreas, ou contrata empresa terceirizada para zerar o estoque de laudos. Trata-se de medida emergencial bem-vinda. Sabe-se que, quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficaz é a resposta ao tratamento. O tempo, no caso, é sinônimo de vida.