Se quiser derrubar a inflação, a presidente Dilma Rousseff terá de mostrar uma disposição nunca exibida até agora quando se tratou de conter a alta de preços. A inflação poderá aumentar no curto prazo e permanecer elevada nos próximos meses, antes de entrar num "longo período de declínio", segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do Banco Central (BC). A presidente deveria ler a ata e considerar seriamente suas implicações. Talvez isso a ajude a resistir às pressões de companheiros, aliados, empresários e sindicalistas frequentemente mais inclinados a apoiar os desmandos fiscais e monetários que a aplaudir as políticas de ajuste e de estabilização.

Novos aumentos de juros são perfeitamente plausíveis, a julgar pela ata. Para o Comitê, os "avanços alcançados no combate à inflação" ainda se mostram insuficientes. A dúvida principal, entre os analistas do mercado financeiro, é se o próximo aumento será de 0,5 ponto porcentual, como o último, ou se a dose será reduzida para 0,25.

Os aumentos de preços esperados para os próximos meses consistirão, em boa parte, em realinhamentos dificilmente evitáveis. Preços administrados, como os da eletricidade e dos transportes públicos, deverão ajustar-se às condições de mercado. Esses preços foram contidos politicamente nos últimos dois anos, por decisão ou por pressão do governo federal, e apenas começaram a ser corrigidos. Os consumidores já sofrem os efeitos do fim do represamento. O ajustamento deverá prolongar-se por algum tempo e será necessário. Mas será preciso, segundo o Copom, "conter os efeitos de segunda ordem", isto é, evitar o contágio dos demais preços.

O contágio de preços e salários tende a ser inevitável quando o conjunto das políticas é frouxo, como foi no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Durante quase dois anos, entre o fim de agosto de 2011 e abril de 2013, os juros foram contidos por uma política voluntarista, enquanto se intensificavam as pressões inflacionárias. Depois disso, a nova sequência de aumentos de juros foi insuficiente para conter a escalada dos preços, porque os desajustes no mercado se ampliaram. A gastança federal aumentou, o crédito se expandiu, a elevação dos salários superou os ganhos de produtividade e as pressões de custos se agravaram em toda a economia.

A maior parte desses fatores continua presente, embora a expansão do crédito seja mais lenta e as condições do mercado de trabalho tenham piorado. Ainda assim, a oferta de mão de obra continua apertada e o descompasso entre salários e produtividade ainda pode afetar os preços, segundo avaliação dos membros do Copom.

A ata menciona as metas fiscais anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy: superávit primário equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto neste ano e 2% em 2016. Nos últimos anos, o Copom manifestou confiança mais de uma vez no ajuste progressivo das contas públicas. Se houver condições políticas para o ministro da Fazenda avançar nesse ajuste, as condições de combate à inflação ficarão muito melhores. Mas a nova política só será possível se a presidente Dilma Rousseff se comprometer, de fato, com a austeridade.

A curto prazo, as políticas de ajuste deverão frear a atividade e a perspectiva de crescimento abaixo do potencial é mencionada na ata. Com maior confiança das empresas e famílias, os negócios poderão intensificar-se, segundo o texto. Mas o potencial de crescimento é muito baixo, por causa dos erros cometidos em anos de baixo investimento e nenhum cuidado com a competitividade.

O retorno ao crescimento seguro só será possível se ocorrer a recomposição esperada pelos membros do Comitê: consumo em expansão mais moderada e aumento sensível do investimento produtivo, com avanços na qualificação da mão de obra. Isso dependerá, naturalmente, de uma política econômica muito diferente daquela mantida na maior parte dos últimos doze anos. Esta conclusão ultrapassa os limites da ata. Mas é inevitável para quem seguiu o desastre da economia nacional nesse período.