Uma variedade da gripe aviária altamente contagiosa entre pássaros infectou granjas produtoras de perus no Arkansas e Missouri que abastecem a Butterball LLC, agravando um surto que já atinge vários Estados americanos e aumentando a perspectiva de que os Estados Unidos sofram amplas restrições de parceiros comerciais às exportações de aves e produtos relacionados.

A Butterball, uma das maiores processadoras de perus dos EUA, confirmou na quarta-feira que "um número limitado dos perus" fornecidos por granjas terceirizadas foi diagnosticado com o vírus H5N2 da gripe aviária.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) também confirmou a presença do vírus em 40.020 perus em um estabelecimento não identificado no Arkansas, e já havia confirmado a doença em outro grupo de aves no Missouri. Os surtos seguem casos similares registrados em outros Estados recentemente que provocaram restrições a importação de carne de aves dos EUA por países como China e México.

Não há registro de casos de infecção do H5N2 em humanos nos EUA, e a cepa é de baixo risco para a saúde humana, informaram autoridades do USDA. O órgão reiterou que as aves e os ovos devem sempre ser cozidos a uma temperatura interna de 74 graus Celsius para assegurar que bactérias e vírus sejam mortos.

Os últimos registros - especialmente no Arkansas, onde as aves e os ovos contribuem com US$ 4 bilhões em vendas anuais, segundo dados de 2012 do USDA - estão aumentando as preocupações de que o vírus possa interromper a produção na principal região avícola do país.

O Estado do Arkansas, sede da Tyson Foods Inc., é o terceiro maior produtor de aves dos EUA e segundo maior produtor de peru. Os Estados da Georgia e Alabama processam o maior volume de frango.

A Butterball, localizada em Garner, na Carolina do Norte, pertence ao conglomerado Seaboard Corp. e ao grupo Goldsboro Milling Co. Tem fábricas nos EUA que produzem por volta de 450 mil toneladas de produtos à base de peru anualmente, segundo documentos apresentados aos reguladores pela Seaboard.

Embora casos mais amenos do vírus tenham sido encontrados em granjas comerciais dos EUA no passado, incidentes com cepas mais perigosas são raros. O registro do vírus H5N2 da gripe aviária no Texas em 2004, o primeiro caso doméstico em 20 anos, levou ao sacrifício de milhares de aves e provocou restrições a importações por parte da União Europeia, Coreia do Sul e outros.

As ações de algumas das principais empresas de aves dos EUA caíram com força na quarta-feira. As ações da Tyson caíram 5,6%, as da Pilgrim's Pride Corp., controlada pela JBS S.A., recuaram 4,4% e as da Sanderson Farms Inc. caíram 4,2%.

Após a descoberta do caso no Arkansas, as autoridades estaduais colocaram as granjas em quarentena, e as aves da propriedade serão sacrificadas para evitar que a carne de animais infectados entre na cadeia de abastecimento de alimentos, e para evitar uma maior proliferação do vírus, informou o USDA. "Nossa primeira preocupação é sempre com a saúde e a segurança das pessoas que consomem nossos produtos, assim como o cuidado e o bem-estar de nossas aves" informou a Butterball.

A China - um grande comprador de carne de peru e frango dos EUA - baniu, em janeiro, importações de todos os produtos de aves e ovos dos EUA por causa do vírus. Cerca de 30 países já impuseram restrições à importação de produtos aviários americanos, seja de certas regiões ou do país inteiro.

Nesta semana, alguns países impuseram embargos imediatos às importações de produtos aviários originados ou processados em Missouri, e o caso no Arkansas deve causar restrições semelhantes.

Os vírus detectados nos dois Estados são similares à cepa H5N8 originada na Ásia que se espalhou pela rota de migração das aves no Pacífico no início do ano, misturando-se com vírus de gripe aviária da América do Norte, segundo o USDA. O primeiro caso foi confirmado na rota do Mississipi neste mês.

Acredita-se que o vírus seja transmitido através das fezes de aves infectadas, que muitas vezes não apresentam os sintomas da doença.

"As aves selvagens migratórias estão indo para o norte com a aproximação da primavera [no hemisfério], então existe um volume inacreditável de risco por lá" de infecção, diz Jim Sumner, presidente do Conselho de Exportação de Produtos Aviários e Ovos dos EUA.

O surto americano começou em bandos de aves não comerciais no noroeste do Pacífico. Desde dezembro, o USDA confirmou a cepa mais altamente patogênica nos Estados do Oregon, Washington, Idaho, Califórnia, Minnesota e Missouri.

"O medo é que Arkansas não seja o fim [da disseminação do vírus], porque lá perto estão os Estados de Mississipi, Louisiana, Texas e outros grandes produtores de aves", diz Thomas Elam, diretor-superintendente da consultoria FarmEcon LLC. "Todos os grandes produtores que registraram surtos sobreviveram, e nós iremos também, mas será incômodo e custará algum dinheiro para essas empresas, já que oportunidades de exportação serão perdidas."

Embora a maioria dos vírus que afeta as aves não provoque doenças em humanos, alguns, como o H7N9, identificado no início do ano no Canadá, podem causar doenças em pessoas.

A indústria de carne de peru dos EUA deve produzir 2,8 milhões de toneladas, ante 18,1 milhões de toneladas de carne de frango, segundo dados do USDA. Cerca de 12,6% da produção de peru devem ser exportados em 2015, ante 18% de frango.

Phil Stayer, veterinário da Sanderson, diz que a empresa do Mississipi, uma das maiores processadoras de frango dos EUA, nos últimos dias, suspendeu a circulação "desnecessária" de pessoas e veículos nos locais de criação de frangos. O fornecimento de alimentos e de remédios agora está sendo feito em outros lugares ou foi adiado.

A Tyson informou que tem medidas de "biossegurança" em vigor, e que suas fazendas de criação de aves têm sido "ainda mais diligente desde que [a gripe aviária] foi registrada nos EUA no inverno [americano]". (Colaborou Jacob Bunge.)