Título: Trabalho em bom momento para mudanças
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Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2011, Opinião, p. 20
A recuperação dos investimentos nos últimos anos leva o Brasil para cada vez mais perto do pleno emprego. Melhor: com salários igualmente em alta. O registro de recordes sucessivos é um alento para o trabalhador. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação recuou de 6,4% para 6,2% em junho, com relação a maio, e o rendimento médio foi a R$ 1.578,50, maior valor para o mês desde 2002. Mas não basta pisar fundo o acelerador da atividade econômica para preservar o ambiente favorável e incluir no mercado o 1,5 milhão de pessoas que continuam desempregadas. A baixa qualificação da mão de obra, a inflação ainda preocupante, o problema cambial e as crises nos Estados Unidos e na União Europeia são relevantes fatores de risco.
Em suma, falta assegurar sustentabilidade ao crescimento. Note-se que o problema lá fora é a deteriorização das contas públicas em nações ricas.
Desse ponto de vista, a situação interna é razoavelmente confortável. Resta saber até quando. No início do mês, o Banco Central já aumentou em um ponto percentual a previsão da dívida pública para este ano, agora em 39% do PIB. O país tem reservas superiores a US$ 330 bilhões e a arrecadação de impostos federais é crescente ¿ foi a R$ 465,6 bilhões de janeiro a junho, avanço real de quase 13% sobre igual período de 2010. Mas o governo gasta muito e gasta mal. Deveria poupar bem mais que os 18% do PIB estimados (algo em torno de 25%), para manter as taxas de crescimento na média de 5% ao ano sem ameaça de disparada dos preços.
Bom termômetro do mau desempenho governamental é o atraso na construção da infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014. Apresentado como excelente oportunidade de negócios, o evento vai se firmando na opinião pública como exemplo de descontrole. O fato de a situação se encaminhar para um quadro de emergência impôs a adoção de Regime Diferenciado de Contratações, em que o orçamento apenas se tornará público no fim do processo de licitação. Não bastasse, a União desembolsou para obras no primeiro semestre R$ 17,8 bilhões, 7% menos do que em igual período do ano passado. Isso, sem nem de longe cumprir o ajuste fiscal anunciado em fevereiro, de R$ 50 bilhões. O que se viu nesses primeiros seis meses foi, ao contrário, o aumento dos gastos com a folha de pagamento do funcionalismo público, num salto de 12% comparado a 2010.
O vigor do mercado de trabalho brasileiro precisa ser vitaminado com rápida correção de rumos na macroeconomia e também na qualificação profissional, especialmente dos jovens, responsabilidade a ser compartilhada entre o poder público e a livre iniciativa. É trágico que sobrem vagas enquanto pessoas seguem desocupadas por falta de preparo, inclusive perdendo espaço para estrangeiros ¿ este ano, o número de vistos para trabalhar no Brasil cresceu 19,4% sobre janeiro a junho de 2010, chegando a 26,5 mil. Também urge melhorar a produtividade. Enfim, o país precisa aproveitar o momento favorável e criar as condições para que o cidadão tenha emprego e renda cada vez melhores sem que o governo, na outra ponta, o asfixie com impostos e juros escorchantes.