O presidente da Toshiba America do Sul Luís Carlos Borba disse que foi enganado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, e induzido a contratar a empreiteira Rigidez para negociar o ressarcimento de prejuízos provocados à empresa pela greve ocorrida no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) em 2011. Segundo o advogado de Borba, José Carlos Dias, o executivo não sabia que a Rigidez era uma das fachadas usadas por Youssef para lavar dinheiro desviado de contratos com a Petrobras. "Não resta dúvida de que ele foi enganado. A Rigidez foi contratada porque naquele momento havia o problema da greve na Petrobras e a empresa iria apresentar uma assessoria e consultoria para ver se conseguiria retomar a obra", afirmou o criminalista ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. O contrato da Toshiba com a Rigidez envolveu R$ 2 milhões, segundo documentos que constam dos autos da Operação Lava-Jato.

Em depoimento à Polícia Federal, Borba disse que em 2009 a Toshiba recebeu convite para fornecimento de equipamento da área elétrica da obra do Comperj, e que o contrato de cerca de R$ 120 milhões foi assinado no início de 2010. Mas que em decorrência da paralisação, a empresa teve prejuízo de cerca de R$ 20 milhões.

Borba disse que "diante dos custos extras gerados pela greve, passaram a tentar negociar com a Petrobras o ressarcimento da empresa" e que participou de reunião com Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da petrolífera, e Alberto Youssef, em fevereiro de 2012, em um hotel em São Paulo, para tratar do caso. Costa sugeriu buscar "alguma saída contratual", disse Borba.

O executivo contou que alguns dias depois o funcionário dele, José Alberto Piva Campana, recebeu telefonema de pessoa que se identificou como "primo" - apelido de Youssef - solicitando uma reunião, "sem dizer do que se tratava".

Campana foi ao encontro de Youssef, segundo a versão de Borba, e o doleiro ofereceu o serviço de "recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato". Em outro encontro, Waldomiro de Oliveira, funcionário de Youssef e também réu na Lava-Jato, estava presente e fez "proposta formal de prestação de serviços pela Empreiteira Rigidez", disse Borba.

Borba relatou encontro no auditório da Petrobras no Rio de Janeiro, em que Costa reiterou que a estatal não arcaria com prejuízos da greve, sugerindo ao executivo procurar os sindicatos.

O presidente da Toshiba disse que a greve acabou entre março e abril de 2012 e que em julho do mesmo ano, "durante reunião periódica de desempenho, foi verificado que o serviço contratado junto a Empreiteira Rigidez não teria sido entregue", mesmo com duas parcelas do contrato pagas.

Ele disse que Campana passou a cobrar os serviços de Youssef e de Oliveira. Como não teve êxito, pediu a Borba que participasse de uma reunião.

Borba afirmou que o encontro ocorreu no escritório de Youssef, no Itaim Bibi, em São Paulo. E que ele e Campana encontraram o doleiro e "surpreendentemente a pessoa de Paulo Roberto Costa".

Borba disse que Paulo Roberto Costa explicou que já tinha saído da Petrobras e que ofereceu consultoria "por intermédio de uma empresa de nome Costa Global", que segundo Borba não foi aceita. O executivo disse que não manteve mais contatos com ambos e que passou a crer "que havia algo errado de fato com essas tratativas".

Borba disse que não houve solução amigável com a Petrobras, que o prejuízo soma R$ 50 milhões, e a empresa pode processar a estatal.

Procurada, a assessoria de imprensa da Toshiba não retornou até o fechamento da edição.