O presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB-AL, anunciou ontem ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que o partido está disposto a encabeçar a discussão sobre mais um tema indigesto para o governo. Na véspera de o ministro ir ao Senado para falar sobre o ajuste fiscal (leia mais na página 7), Renan disse que o partido lançará um projeto que tratará da autonomia do Banco Central. Na campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff atacou adversários que defenderam a independência da instituição.

Renan, Levy e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) se reuniram por pouco mais de uma hora na presidência do Senado. Além de discutir o projeto que obriga a União a regulamentar a troca do indexador das dívidas, os três trataram do futuro projeto do PMDB. “Foi uma boa conversa. Eu disse a ele que estamos preocupados com a qualidade do ajuste, e não apenas com o quanto significará. Sugeri ao ministro algumas medidas, inclusive a independência formal do Banco Central, com mandatos não coincidentes com o da presidente da República”, disse Renan.

Na campanha eleitoral, Dilma fez duras críticas à proposta de autonomia do banco, defendida pela então candidata Marina Silva (PSB), derrotada no primeiro turno. Em uma das peças de marketing, o PT dizia que faltaria comida na mesa das famílias brasileiras caso a ideia de Marina avançasse. 

De acordo com Jucá, o tema será tratado em breve no Senado. Ele diz que o projeto do PMDB preverá mandato de cinco anos para o presidente do Banco Central, que seria indicado pelo presidente da República e sabatinado pelos senadores. Ainda segundo Jucá, Levy apenas disse que a discussão era importante, mas não deu detalhes sobre o que pensa a respeito do assunto.

Romero Jucá diz que o debate veio à tona agora porque, na conversa com Levy, os senadores expuseram soluções para a crise no país. “Avaliamos vários pontos para dar segurança jurídica, credibilidade a economia. Tudo que a gente acha que, de certa forma, se enfraqueceu no atual governo. O cenário econômico tem que ser avaliado como um todo. Não é o ajuste fiscal que vai resolver o problema do país e retomar investimentos privados. É muito mais que isso.”

Sobre o ajuste, Jucá disse que ele e Renan cobraram mais informações. “O governo tem que definir horizontes. Nós temos que mostrar o que é o corte, o tamanho dele, quem vai fazer sacrifício nesse processo e qual é o horizonte depois do corte. Porque as pessoas podem até fazer sacrifícios, mas têm que saber o que virá depois que retomar a economia.” Levy não quis dar entrevista no fim do encontro. Disse apenas que falará mais sobre o ajuste fiscal hoje, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). “Estou bastante confiante num encaminhamento positivo. Há entendimento no Rio de Janeiro e em outros lugares da importância de todo mundo contribuir para o ajuste”, disse o ministro.

“Sugeri ao ministro algumas medidas, inclusive a independência formal do Banco Central, com mandatos não coincidentes com o da presidente da República”
Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado