Título: Agora, ministério é ocupado
Autor: Lins, Thalita
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2011, Cidades, p. 30

Depois de serem retirados das margens da BR-070, manifestantes montam acampamento no prédio da pasta das Cidades e exigem moradia provisória e cadastro no programa Minha Casa, Minha Vida, gerenciado pelo Executivo federal

Enquanto cerca de 50 barracos de lona e bambu levantados irregularmente por famílias que aderiram ao Movimento dos Trabalhadores SemTeto (MTST) eram retirados de uma área localizada às margens da BR-070, parte do grupo invadiu o Ministério das Cidades, no Setor de Autarquias, na manhã de ontem. Os manifestantes se instalaram na recepção e em frente ao prédio do órgão. A intenção é pressionar representantes dos governos local e federal para terem atendidas as reivindicações do grupo. Eles exigem uma área provisória para servir de moradia a 400 famílias e a inclusão de todos os integrantes do MTST no DF, um total de 800, no cadastro do programa Minha Casa, Minha Vida.

O coordenador do grupo, Zezito Alves, ressaltou que, caso as pretensões apresentadas não atendam essas solicitações, as famílias permanecerão no edifício. "Só sairemos daqui quando uma posição positiva for tomada", disse Zezito. De acordo com a assessoria de comunicação do ministério, o auditório do prédio foi oferecido para abrigar os cerca de 70 manifestantes, mas eles não aceitaram a oferta. "Preferiram permanecer na entrada do prédio, pois lá há mais visibilidade", informou o órgão. A mnifestação não impediu a passagem e as atividades dos servidores.

À tarde, o titular da Secretaria Nacional de Programas Urbanos ¿ órgão ligado ao Ministério das Cidades ¿, Norman Oliveira, se reuniu com representantes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para discutir as exigências dos manifestantes. Até o fechamento desta edição, o grupo permanecia no local. A Secretaria de Comunicação do DF declarou que as soluções levantadas pela pasta e oferecidas aos manifestantes na segunda-feira continuam as mesmas. O GDF propôs encaminhar as famílias a um abrigo em Brazlândia e inscrevê-las temporariamente no programa Aluguel Solidário.

Já o governo federal, no início da noite, garantiu que estudará a inclusão dos integrantes do grupo no Minha Casa, Minha Vida caso o GDF disponibilize um local para a construção dos imóveis.

Para a retirada das famílias que acamparam no terreno na BR-070 ¿ que, segundo a Secretaria de Estado de Ordem Pública Social (Seops) e a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), pertence ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ¿, foram necessários 118 servidores de órgãos como a Seops, Agefis e as polícias Militar e Civil. A ação transcorreu pacificamente. Equipes da PM e da Seops permaneceram no local para resguardar a integridade da área verde.

Sem cadastro Muitos invasores não estão cadastrados no programa habitacional do GDF. O jovem Vicente Matos, 22 anos, é um deles. Desempregado e com um filho pequeno, ele se viu obrigado a dividir o teto com outros familiares depois que se mudou para a casa da mãe, em Brazlândia. "Pretendo lutar até o fim", disse. Os que já integram a lista da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) serão excluídos da relação por conta da invasão. Na madrugada do último sábado, integrantes do movimento ocuparam a área pela primeira vez.

Entre os manifestantes, a maioria é mulher e mora de aluguel em regiões como Brazlândia, Ceilândia e Samambaia, como a goiana Alzerita Pereira de Siqueira, 48 anos. Há quase 30 anos vivendo no DF, ela afirma não ter condições de continuar pagando R$ 250 para locar um imóvel no Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia. "Eu sou especial, sofro de problemas mentais. Só consigo dinheiro com a venda de cafezinhos quando não estou com problemas nos nervos", contou ela.

Parceria O Minha Casa, Minha Vida é um programa do governo federal desenvolvido em parceria com os estados e os municípios, gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal. O objetivo da ação é a produção de unidades habitacionais, que, depois de concluídas, serão vendidas sem arrendamento prévio, às famílias que possuem renda mensal até R$ 1.395,00.