SÃO PAULO — Na defesa que entregou à Justiça Federal em Curitiba na tarde desta sexta-feira, o ex-ministro José Dirceu não cita as empresas - tampouco empreiteiras investigadas pela Lava-Jato - que contrataram os serviços da JD Assessoria e Consultoria. Alegando cláusula contratual de confidencialidade, a defesa apresentou alguns documentos sobre os negócios com a OAS, UTC e Galvão Engenharia, já na mira da Justiça, mas poupará o nome de outras empreiteiras e empresas dos setores de telecomunicações, logística, comércio exterior, além de diversos setores industriais para os quais Dirceu teria prestado consultoria nos Estados Unidos e em países da Europa e América Latina depois de deixar o governo, em 2005.

A petição da defesa, cujo conteúdo é sigiloso e ao qual o GLOBO teve acesso, se concentra em abordar os negócios de Dirceu com essas três empreiteiras que, segundo o documento, representam 16% do faturamento da JD. Mas não traz detalhes das negociações travadas com as empresas nem da atuação de Dirceu em favor delas. Para tentar derrubar a tese de que seus negócios eram de fachada, a defesa de Dirceu apresentou à Justiça os passaportes do ex-ministro entre 2006 e 2012. Ele alega ter feito mais de cem viagens ao exterior no período entre 2006 e 2012 para cuidar dos negócios das empresas que o contrataram.

Na semana passada, o ex-ministro teve os sigilos telefônico e bancário quebrados e passou a ser investigado no âmbito da operação Lava-Jato depois que a Justiça verificou que a JD havia recebido R$3,7 milhões das empreiteiras OAS, UTC e Galvão Engenharia. A suspeita é de que a JD jamais tenha prestado serviços de consultoria e que os recibos sejam uma fachada para encobrir repasses de dinheiro desviado da Petrobras. A juíza Gabriela Hardt, responsável pela decisão, disse ver semelhanças entre os negócios firmados pela JD e o esquema de corrupção capitaneado pelo doleiro Alberto Youssef.

Depois que saiu do governo, Dirceu planejou viver de palestras. Mas, diante da repercussão negativa na imprensa dos eventos que fazia passou a atuar no mercado com a JD Assessoria e Consultoria. A função de Dirceu, segundo pessoas próximas, seria “abrir portas”, o que incluiria a intermediação de encontros entre autoridades estrangeiras e empresas brasileiras que pretendiam fazer negócio no exterior. Costumava fazer levantamentos de conjuntura política, jurídica e econômica dos países em que os empresários pretendiam investir. Para construir relações no exterior, o ex-ministro se utilizava de suas antigas relações do período de militância de esquerda. Para a UTC Engenharia, Dirceu teria prospectado negócios na Espanha e no Peru. Já OAS e Galvão Engenharia tinham interesses em países da América Latina.

Até a prisão do ex-ministro, a JD funcionava em um imóvel na Avenida Ibirapuera, em São Paulo. Ali trabalhariam entre 8 e 10 funcionários, e o faturamento médio seria de R$ 200 mil mensais - cada empresa pagaria algo em torno de R$20 mil por mês durante a vigência do contrato, segundo pessoas próximas ao ex-ministro. Quando Dirceu foi preso, seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, que aparece como sócio na empresa, cumpriu os contratos que ainda estavam vigentes, mas não teria firmado novos negócios. Além de UTC, OAS e Galvão Engenharia, Dirceu já declarou ter sido contratado pela empreiteira Camargo Correa, pelo banco Azteca, do empresário mexicano Ricardo Salinas, e por Carlos Slim, controlador da empresa de telefonia Claro. Em 2008, Dirceu chegou a abrir um escritório da JD em um hotel no Panamá, que seria gerido por laranjas, mas acabou desistindo da filial no paraíso fiscal. De acordo com a assessoria de Dirceu, a JD é hoje "praticamente inoperante".